São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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TERRA DE ENDIVIDADOS

Empresas tentam atrair comerciantes que buscam informações para vender sem risco de calote

Cresce disputa no setor de proteção ao crédito

DA REPORTAGEM LOCAL

A expectativa de retomada na atividade econômica vai afetar diretamente as maiores empresas de gestão de crédito no país. Com isso, a já acirrada e velada disputa entre os três grupos que exploram esse mercado da inadimplência no país deve se acentuar.
Contratadas para levantar dados sobre a situação financeira de qualquer companhia no país, essas empresas ganham para proteger o negócio alheio. Elas conseguem informações para, por exemplo, ajudar uma empresa a decidir se um eventual parceiro ou fornecedor pode ou não dar um calote ou quebrar.
A questão é que a concorrência entre elas ganha fôlego com a expectativa de uma retomada na atividade econômica. É nessa hora que os negócios crescem e as consultas de clientes aumentam.
Por conta disso, Equifax Brasil, Serasa e o sistema RIPC (Rede de Informações e Proteção ao Crédito) foram à caça do cliente do vizinho, montaram departamentos com centenas de pessoas só para vender o seu produto a quem quiser comprá-lo e até passaram a oferecer pacotes promocionais para ganhar mais usuários.
"A concorrência é muito forte. Estamos criando novos produtos na tentativa de atrair mais clientes", diz Paulo Melo, presidente da Equifax Brasil, empresa norte-americana com 25 mil clientes.
"Temos ações para convencer o cliente do nosso concorrente a vir para o nosso lado. Damos desconto nos pacotes, negociamos o que é possível", afirma Agostinho Sacramento, gerente da unidade jurídica da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). A entidade usa o sistema RIPC, utilizado pela maioria das associações comerciais do país.
Na prática, o funcionamento e o serviço prestado por essas empresas são simples. Elas coletam dados em diferentes fontes: cartórios, varas cíveis, entidades comerciais e bancos, entre outros, e montam diferentes análises a respeito de várias empresas. Cruzam números e fornecem relatórios a preços variados. Por exemplo: a consulta mais simples ao sistema RIPC custa R$ 1. O pacote completo custa R$ 18. Mas o valor pode cair.
Basta ser um cliente assíduo -que usa com freqüência o sistema. Os serviços variam da simples confirmação do endereço de um fornecedor ou possível sócio a um estudo completo da saúde financeira de uma empresa.

Pontos e descontos
A Serasa, por exemplo, tem um sistema que calcula a probabilidade de uma empresa consultada apresentar ocorrências "negativas" em um horizonte de seis meses. O mesmo sistema define a pontuação do risco de inadimplência, em uma escala de um a mil (quanto maior, menor o risco de calote). Outro serviço ajuda o cliente que quer fechar um negócio com um fornecedor: o sistema consegue dar um limite de crédito sugerido para o negócio. Para evitar calotes.
Com 160 pessoas trabalhando na área de vendas, Melo diz que a Equifax cresceu, em média, 10% ao ano "ao longo dos últimos anos". Já a ACSP, que há quatro anos tinha 120 mil empresas cadastradas, hoje afirma ter 180 mil.
Pelas contas dessas companhias, cerca de 400 empresas de gestão de crédito atuam no país. Muitas são regionais, atendem segmentos específicos e utilizam informações da base de dados das empresas líderes.
"O ponto fraco desse mercado é que, quando está tudo mal, as lojas vendem menos, as empresas fecham menos negócios e nem têm motivos para usar com tanta freqüência a nossa base de dados", explica Sacramento.
Há entidades do setor de varejo que acreditam no oposto: se há dificuldade para fazer bons negócios, qualquer passo errado da empresa pode piorar a situação. Portanto o ideal é levantar todos os dados possíveis para se proteger de calotes. De qualquer forma, o volume de operações e de consultas aos dados tende a ser menor em momentos de atividade econômica retraída.
(ADRIANA MATTOS)

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