São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Dólar tem desvalorização de 10% em maio

Entrada maior de recursos ocorre tanto no mercado financeiro, devido ao juro alto, quanto no comercial, com aumento de commodities

Analistas, porém, alertam sobre otimismo exagerado e dizem que queda da moeda americana poderá perder o ritmo nos próximos dias

DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de oito meses, o dólar comercial voltou a ficar abaixo de R$ 2. É a maciça entrada dos recursos de investidores estrangeiros no Brasil a responsável pela forte desvalorização do dólar ante o real nas últimas semanas. Ontem, a moeda americana recuou 1,94%, atingindo R$ 1,97, o seu menor valor desde 1º de outubro do ano passado. Em 4 de dezembro, a cotação chegou ao pico da crise (R$ 2,536) e desde então a baixa acumulada é de 22,3%. A queda fica em 15,6% em 2009, sendo 9,7% somente em maio.
Contra o fluxo não há argumentos, eis a nova máxima do mercado cambial brasileiro. "A oferta de divisas é intensa tanto pelo lado financeiro quanto pelo comercial. Acontece o óbvio: a cotação cai mesmo", diz Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.
Os grandes investidores externos são atraídos para o Brasil pelas perspectivas de ganhos que o país oferece no momento. O juro básico (10,25% ao ano) é um dos maiores do mundo. Isso estimula a chamada arbitragem: pegar dinheiro emprestado em países onde a taxa é pequena e aplicar nos ativos locais para ganhar a diferença.
Além disso, a economia brasileira não está se desacelerando tanto como outras, daí a aposta de que sairá da crise antes e melhor do que o resto do planeta. As empresas do país devem se beneficiar de tal panorama, então os investidores também compram ações dessas companhias na Bolsa. Até o dia 26, o saldo de aplicação dos estrangeiros (compras de papéis menos vendas) estava positivo em R$ 5,059 bilhões.
Outro motivo para a valorização do real é a recuperação, no mercado externo, dos preços das commodities agrícolas e metálicas -que são o principal produto de exportação do país. O aumento dos valores tem garantido que as vendas brasileiras não desabem, apesar da menor demanda.
Passado o momento de pânico com a crise, quando os grandes fundos internacionais buscaram refúgio nos relativamente seguros títulos do Tesouro americano, opções de maior risco e maior retorno potencial voltam a ser considerados.
O Brasil se destaca entre esses destinos pela evolução conseguida ao longo dos últimos 15 anos com a estabilização da moeda, a redução da dívida pública e o crescimento das suas reservas em dólar. Assim, aparece aos olhos dos estrangeiros como um país mais seguro.
A confiança é tamanha que esses investidores estão até desmontando uma parcela das suas "posições compradas" (apostas na alta do dólar) no mercado futuro. Esses contratos, negociados no segmento BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) da Bolsa brasileira, protegem quem os adquire de uma elevação exagerada do dólar. Acreditando que essa hipótese é menos provável, estrangeiros reduzem as operações.

Rumos
"Os dados sobre a economia mundial realmente têm encorajado o otimismo. Assim, as principais moedas dos países emergentes se apreciam ante o dólar. A questão que se coloca é: o movimento não estaria indo além do que os indicadores permitem concluir neste momento?", indaga Meg Browne, estrategista da corretora de câmbio BBH em Nova York.
Na sua opinião, a velocidade de queda da moeda americana deve diminuir nos próximos dias. "Pode até mesmo haver uma correção de cotações já na segunda-feira, considerando o tamanho da sua desvalorização ante o real."
Por causa da falta de sinais de uma melhora efetiva do cenário global, apenas uma minoria de analistas avalia que o dólar possa retornar aos níveis de antes do recrudescimento da crise -entre R$ 1,80 e R$ 1,90- tão cedo. O mercado continua sujeito a turbulências, frisam.


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