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Dólar tem desvalorização de 10% em maio
Entrada maior de recursos ocorre tanto no mercado financeiro, devido ao juro alto, quanto no comercial, com aumento de commodities
Analistas, porém, alertam sobre otimismo exagerado e dizem que queda da moeda americana poderá perder
o ritmo nos próximos dias
DENYSE GODOY
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de oito meses, o dólar
comercial voltou a ficar abaixo
de R$ 2. É a maciça entrada dos
recursos de investidores estrangeiros no Brasil a responsável pela forte desvalorização
do dólar ante o real nas últimas
semanas. Ontem, a moeda
americana recuou 1,94%, atingindo R$ 1,97, o seu menor valor desde 1º de outubro do ano
passado. Em 4 de dezembro, a
cotação chegou ao pico da crise
(R$ 2,536) e desde então a baixa acumulada é de 22,3%. A
queda fica em 15,6% em 2009,
sendo 9,7% somente em maio.
Contra o fluxo não há argumentos, eis a nova máxima do
mercado cambial brasileiro. "A
oferta de divisas é intensa tanto
pelo lado financeiro quanto pelo comercial. Acontece o óbvio:
a cotação cai mesmo", diz Mário Paiva, analista de câmbio da
corretora Liquidez.
Os grandes investidores externos são atraídos para o Brasil pelas perspectivas de ganhos
que o país oferece no momento.
O juro básico (10,25% ao ano) é
um dos maiores do mundo. Isso
estimula a chamada arbitragem: pegar dinheiro emprestado em países onde a taxa é pequena e aplicar nos ativos locais para ganhar a diferença.
Além disso, a economia brasileira não está se desacelerando tanto como outras, daí a
aposta de que sairá da crise antes e melhor do que o resto do
planeta. As empresas do país
devem se beneficiar de tal panorama, então os investidores
também compram ações dessas companhias na Bolsa. Até o
dia 26, o saldo de aplicação dos
estrangeiros (compras de papéis menos vendas) estava positivo em R$ 5,059 bilhões.
Outro motivo para a valorização do real é a recuperação,
no mercado externo, dos preços das commodities agrícolas
e metálicas -que são o principal produto de exportação do
país. O aumento dos valores
tem garantido que as vendas
brasileiras não desabem, apesar da menor demanda.
Passado o momento de pânico com a crise, quando os grandes fundos internacionais buscaram refúgio nos relativamente seguros títulos do Tesouro
americano, opções de maior
risco e maior retorno potencial
voltam a ser considerados.
O Brasil se destaca entre esses destinos pela evolução conseguida ao longo dos últimos 15
anos com a estabilização da
moeda, a redução da dívida pública e o crescimento das suas
reservas em dólar. Assim, aparece aos olhos dos estrangeiros
como um país mais seguro.
A confiança é tamanha que
esses investidores estão até
desmontando uma parcela das
suas "posições compradas"
(apostas na alta do dólar) no
mercado futuro. Esses contratos, negociados no segmento
BM&F (Bolsa de Mercadorias
& Futuros) da Bolsa brasileira,
protegem quem os adquire de
uma elevação exagerada do dólar. Acreditando que essa hipótese é menos provável, estrangeiros reduzem as operações.
Rumos
"Os dados sobre a economia
mundial realmente têm encorajado o otimismo. Assim, as
principais moedas dos países
emergentes se apreciam ante o
dólar. A questão que se coloca é:
o movimento não estaria indo
além do que os indicadores permitem concluir neste momento?", indaga Meg Browne, estrategista da corretora de câmbio BBH em Nova York.
Na sua opinião, a velocidade
de queda da moeda americana
deve diminuir nos próximos
dias. "Pode até mesmo haver
uma correção de cotações já na
segunda-feira, considerando o
tamanho da sua desvalorização
ante o real."
Por causa da falta de sinais de
uma melhora efetiva do cenário global, apenas uma minoria
de analistas avalia que o dólar
possa retornar aos níveis de antes do recrudescimento da crise -entre R$ 1,80 e R$ 1,90-
tão cedo. O mercado continua
sujeito a turbulências, frisam.
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