São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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ROBERT ENGLE

A ameaça que não desaparece


A volatilidade financeira ainda não voltou ao normal porque a incerteza macroeconômica ainda não se dirimiu


QUANDO O índice de volatilidade da Bolsa de Opções Chicago, conhecido como Vix, atingiu os 80%, no final do ano passado, os mercados financeiros estavam destinados a uma jornada árdua. Em toda a sua história (desde sua criação, em janeiro de 1990), esse indicador de volatilidade jamais havia estado tão alto.
Agora que o Vix recuou para cerca de 30%, a situação parece ter voltado ao normal. No entanto, isso ainda representa uma alta volatilidade diante das médias históricas. A volatilidade normal fica entre 15% e 20%. No ano que antecedeu ao colapso do Lehman Brothers, foi de 23%.
Compreender que a causa fundamental da volatilidade é o surgimento de informações novas ajuda a avaliar quando ela poderá retornar ao normal. Basicamente, os preços dos ativos mudam quando surgem novas informações, usadas por analistas e investidores para prever valores futuros e calcular riscos. Uma das maneiras de compreender a volatilidade é perguntar quando é provável que surjam muitas informações novas.
Para responder a essa pergunta, estudo examinou 50 países ao longo do tempo para determinar sob que circunstâncias a volatilidade financeira era alta. Constatamos que cinco características estavam associadas a uma alta volatilidade: 1) alta inflação; 2) baixo crescimento da produção; 3) alta volatilidade na taxa interna de juros de curto prazo; 4) alta volatilidade no crescimento do PIB; e 5) alta volatilidade na taxa de inflação. Concluímos que a alta volatilidade financeira está associada tanto a momentos econômicos difíceis quanto a momentos econômicos altamente oscilantes.
À luz da perspectiva macroeconômica muito ruim e muito incerta que existia no final de 2008, a alta volatilidade do mercado financeiro não surpreende.
Naquele momento, não estava claro se estávamos nos encaminhando a uma depressão ao estilo dos anos 30, a uma década perdida em modo japonês ou a uma recessão menor enquanto o mercado de habitação se recobrava.
Hoje, a incerteza macroeconômica se reduziu. Muitos dos cenários mais complexos se tornaram bem menos prováveis. Embora não pareça mais existir a chance de que repitamos a Grande Depressão ou a década perdida japonesa, tampouco parece provável que estejamos vivendo apenas uma recessão amena.
Será que ela poderia voltar a subir? Sim, e quase inevitavelmente o fará, ao menos temporariamente. Qualquer má notícia que apanhe o mercado de surpresa fará crescer a volatilidade. Por exemplo, caso o Tesouro se prove incapaz de colocar volume suficiente de títulos de dívida no mercado a juros razoáveis, a volatilidade poderia crescer.
Se a causa fundamental da volatilidade financeira é a instabilidade macroeconômica, a baixa volatilidade da economia mundial entre a metade de 2003 e a metade de 2007 pode ser compreendida como resultado de um período sem precedentes de crescimento mundial, especialmente nos grandes mercados emergentes. Ainda que as preocupações econômicas fossem muitas, a inflação era baixa, e as projeções macroeconômicas, boas e certeiras, ao menos para o curto prazo.
A volatilidade ainda não voltou ao normal primordialmente porque a incerteza macroeconômica ainda não se dirimiu. Quando o final da recessão se tornar mais previsível e a recuperação estiver visível e sem temores inflacionários excessivos, a volatilidade deve retornar ao seu nível normal de menos de 20%.

ROBERT ENGLE, professor na Escola Stern de Administração de Empresas da Universidade de Nova York e diretor do Instituto de Volatilidade, foi premiado com o Nobel de Economia em 2003. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Excepcionalmente, hoje, a coluna de CESAR BENJAMIN não é publicada.


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