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OPINIÃO ECONÔMICA
Sai daí, Henrique, rápido!
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Nada tenho contra a pessoa do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles. Não
o conheço, nunca o vi mais gordo. E, no entanto, como brasileiro, preciso dizer o seguinte: tem
que aparecer, urgente, algum Roberto Jefferson que, empostando
a voz de barítono de ópera-bufa,
diga em alto e bom som: "Sai daí,
Henrique, rápido!".
Como sabemos, essa exortação
funcionou maravilhosamente
contra o ministro José Dirceu.
Além disso, as diretorias dos Correios e do IRB foram sumariamente demitidas.
Mas Henrique Meirelles é um
caso a parte. As denúncias contra
ele são graves e antigas. Apesar
disso, sobrevive. Pelo menos, por
enquanto.
Não vamos esquecer o óbvio:
trata-se de um integrante do Sistema Financeiro. Merece, portanto, especial respeito e consideração. Todo lulista que se preza
treme da cabeça aos sapatos
quando encontra uma figura
dessas.
Henrique Meirelles foi acusado
de sonegação fiscal, evasão de divisas e crime eleitoral. Reação do
governo Lula: propôs, por medida provisória, que o acusado fosse promovido, isto é, que se desse
status de ministro de Estado ao
presidente do Banco Central.
Com a aprovação dessa medida,
Meirelles passou a gozar do direito de ser julgado pelo Supremo
Tribunal Federal.
Corre inquérito criminal contra ele no Supremo. A Folha noticiou anteontem, sem ser desmentida (até onde sei), que Henrique
Meirelles está tentando evitar a
quebra do seu sigilo bancário,
pedida pelo procurador-geral da
República. Hmmm...
Corrupção. Até os corruptos a
condenam (a culpa não é individual, mas do sistema político, explicam). Obviamente, ninguém é
a favor do desvio de recursos públicos para benefício de empresários, políticos e outros espertalhões.
Menos óbvio é o fato de que a
política de juros do dr. Henrique
deixa o "mensalão" no chinelo.
Não é ilegal, mas representa um
desvio muito maior e mais sistemático de recursos públicos para
o bolso de banqueiros, proprietários de outras instituições financeiras, grandes empresários e demais minorias privilegiadas.
Contra esse desvio, a indignação
não é tão unânime. Sempre haverá economistas, bem remunerados, dispostos a dar guarida à
selvageria que passa por política
monetária responsável no Brasil.
A razão é simples: os grandes beneficiários da política de juros
são os donos do poder e as elites
que se apropriam de grande parte da renda e da riqueza do país.
Do ponto de vista da maioria
da população, essa política traz
mais custos do que benefícios.
Controla a inflação, é verdade,
mas a um preço exorbitante. O
estrago nas finanças do governo
está sendo gigantesco. Com os juros brasileiros escandalosamente
altos em termos mundiais, aumentam as entradas de capital
volátil, também conhecido como
capital-motel, provocando valorização perigosa do real com prejuízos para as exportações industriais, agrícolas e de serviços. A
taxa de crescimento das exportações vem registrando acentuada
diminuição. E os brasileiros voltaram a aumentar os seus gastos
com turismo no exterior.
Nesse ambiente monetário e
cambial, não há economia que
possa investir e crescer em ritmo
adequado. Nos meses recentes,
todos reduziram as projeções para o investimento produtivo e o
crescimento do PIB. Teremos, na
melhor das hipóteses, crescimento medíocre. A galinha está aterrissando.
Combinação tenebrosa para
um presidente que pretende (ou
pretendia) candidatar-se à reeleição: denúncias graves de corrupção e economia praticamente
estagnada.
Alguém precisa dizer a Lula:
"Presidente, a direção do Banco
Central também está botando dinamite na sua cadeira".
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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