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INFRA-ESTRUTURA
Banco oficial faz exigências à companhia, mas na prática poderá se tornar sócio com 30% de participação
BNDES acerta socorro de R$ 727 mi à Light
JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A Light obteve ontem um financiamento de R$ 727 milhões com
o BNDES no apagar das luzes do
programa de capitalização das
distribuidoras de energia elétrica,
criado em 2003. O BNDES, por
sua vez, exigiu um esforço mais rigoroso da companhia para liberar
recursos no âmbito do programa,
que se encerra hoje.
Na prática, o banco poderá se
tornar sócio da distribuidora com
uma participação de até 30% do
capital. O BNDES vai subscrever
debêntures conversíveis em ações
no valor do financiamento.
O prazo de pagamento do empréstimo é de dez anos, com quatro anos de carência. A remuneração do banco ficou em TJLP (Taxa
de Juros de Longo Prazo), atualmente em 9,75%, mais 4% ao ano,
com a condição de que a companhia liste suas ações no Novo
Mercado em até 42 meses. Se não
fizer isso, o juro sobe para TJLP
mais 12% ao ano.
O banco estabeleceu dois critérios para se tornar acionista: a recuperação das perdas operacionais e o aporte de capital. A cada
R$ 1 que a EDF, controladora da
Light, injetar na companhia serão
convertidos R$ 2 em debêntures.
Cada redução de um ponto percentual no índice de perdas operacionais (prejuízos com furto de
energia) resultará na conversão
de 15% das debêntures, o equivalente a cerca de R$ 100 milhões.
Atualmente, o índice de perdas
é de 24%, e a Light quer baixá-lo
em um ponto percentual a cada
ano. Ontem, a EDF aprovou em
assembléia de acionistas a conversão da dívida de US$ 400 milhões em capital da Light.
Segundo o acordo, o BNDES
pode converter até 100% das debêntures, se avaliar a hipótese como vantajosa. No caso, passaria a
deter cerca de 30% do capital. Se a
empresa não melhorar suas práticas, o BNDES pode não converter
as debêntures.
O banco também poderá intervir indiretamente caso a EDF resolva vender a Light. Se o comprador não estiver de acordo com as
cláusulas previstas no contrato, o
banco pode pedir o vencimento
antecipado das debêntures.
O diretor financeiro da Light,
Paulo Roberto Ribeiro Pinto, afirmou que a empresa buscará, no
futuro, uma nova injeção de capital, que poderá vir de um novo sócio ou mesmo da EDF.
Segundo o diretor da área financeira do BNDES, Carlos Kawall, o
banco procurou se cercar de garantias para participar de uma
operação que envolve riscos. A
princípio, as debêntures funcionarão como uma aplicação de
renda fixa, com remuneração de
TJLP mais 4% ao ano, independentemente da performance da
empresa. As garantias são os recebíveis da companhia.
Para participar do programa, a
Light negociou com bancos privados débitos no valor de R$ 1,7 bilhão, o acionista controlador (a
EDF) converteu créditos em renda fixa em participação acionária
de R$ 1,1 bilhão e o BNDES entrou
com R$ 727 milhões, diz Kawall.
Parte dos recursos do BNDES
irá para o caixa da empresa a fim
de garantir boa operação e investimentos, mas uma parcela de R$
350 milhões será destinada ao pagamento de uma dívida da Light
com a Eletrobrás.
O desembolso será feito assim
que os contratos com os credores
forem assinados e que a EDF realize a conversão de um empréstimo à Light de R$ 400 milhões em
capital. A previsão da Light é receber o dinheiro em dez dias.
Programa de capitalização
Inicialmente, o banco previa
aplicar até R$ 3 bilhões em distribuidoras com o programa, mas o
caixa das empresas melhorou e
muitas delas desistiram do empréstimo, como Coelba, Celpe e
Cosern.
Indagado se com as novas exigências feitas à Light o empréstimo poderia ser ainda considerado como parte do programa, o vice-presidente do BNDES, Demian
Fiocca, afirmou que "a operação é
muito próxima" do que a linha
original previa. "O objeto de reestruturação financeira faz parte do
programa, as condições centrais
são as mesmas e o valor do empréstimo foi calculado de acordo
com o programa", afirmou.
Entre as mudanças, o BNDES
estabeleceu que não há mais limite para a conversão das debêntures em ações -antes, era de 50%
do valor do financiamento.
Clareza
A decisão do BNDES de financiar a Light por meio de uma sociedade não foi o único socorro
do tipo feito pelo banco. Em
maio, ele se comprometeu a injetar R$ 1,14 bilhão na Brasil Ferrovias em troca de 49% das ações da
empresa. O BNDES também é dono de 49% da Eletropaulo.
"É preciso rediscutir os padrões
de financiamento do BNDES. O
banco precisa informar com clareza quais são as suas prioridades,
ou sempre vai ficar parecendo
que é um hospital para socorrer
empresas falidas e o setor privado", disse Fernando Sarti, da Universidade de Campinas.
Para o professor, em boa medida as ações do BNDES são resultado de privatizações desastradas
ocorridas na década de 90. "Mas
isso não justifica tudo. Não vejo
nenhuma intervenção preventiva.
É como se o governo se restringisse a administrar o caos", disse.
Colaborou Janaína Leite,
da Reportagem Local
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