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INTEGRAÇÃO
Para negociador europeu, sul-americanos erram ao esperar que bloco ceda mais na área agrícola após concessões para Doha
UE vê equívoco na postura do Mercosul
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
União Européia e Mercosul
marcaram para o início de setembro deste ano em Bruxelas, Bélgica, a próxima reunião ministerial
entre os dois blocos. O objetivo
deveria ser avançar nas negociações comerciais paradas desde
outubro de 2004, quando tentativas de fechar um acordo fracassaram. Mas sinais de ambos os lados em seminário sobre o tema
ontem, em Londres, indicam que
as perspectivas continuam ruins e
que a conclusão desse processo,
que se arrasta por cinco anos, pode ser adiada novamente.
O embaixador José Alfredo Graça Lima, chefe da missão brasileira em Bruxelas, disse à Folha que,
na sua opinião, o ideal para o
Mercosul, agora, é aguardar o fim
das negociações multilaterais de
comércio da chamada Rodada
Doha, esperado para dezembro, e
só depois tentar concluir as conversas com os europeus.
O argumento de Graça Lima é
simples. Do ponto de vista dos
países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), a
oferta feita no fim de 2004 pela
UE, em termos de acesso ao mercado agrícola da região, é insatisfatória. Além disso, segundo ele, o
passo, em termos de abertura na
área agrícola, que a UE parece disposta a dar nas negociações de
Doha é maior do que o ensaiado
pelo bloco no acordo bilateral.
Por isso, seria melhor esperar.
"Se você considerar a reforma
da política agrícola comum [da
UE] que será, eventualmente,
transformada em proposta negociadora, e comparar com o que foi
acordado em Doha, o mandato
agrícola multilateral é muito mais
ambicioso que o birregional. Não
sei se é desejável assumir, previamente, um compromisso que vai
nos atar as mãos", disse, após palestra no instituto Canning House, em Londres.
Alerta europeu
Os negociadores europeus jogam com o argumento contrário
e afirmam que o Mercosul pode
estar calculando mal seus passos.
Karl Falkenberg, diretor de Comércio da Comissão Européia,
disse que, depois de concessões
feitas na rodada multilateral, os
europeus podem ficar mais conservadores nas negociações bilaterais, o que dificultaria ainda
mais um acordo.
"Pode ser difícil convencer os
europeus de que, depois de "pagar" pelo acesso de mercado em
Doha, também terão de "pagar"
quantias adicionais em diferentes
negociações comerciais. Eu posso, facilmente, prever uma situação mais difícil, dependendo, claro, do resultado da Rodada Doha", afirmou à Folha.
Falkenberg chega a adotar tom
de alerta: "Se o cálculo [do Mercosul] é que depois de Doha haverá
mais concessões da Europa, pode
ser que estejam calculando mal".
Os desentendimentos entre os
dois blocos vão além da possível
margem de melhora na oferta que
a UE apresentou ao Mercosul. Os
europeus também têm suas cobranças. Querem que os sul-americanos sejam mais agressivos na
oferta de abertura de seus mercados nas áreas de indústria e serviços. A resposta dos negociadores
do Mercosul continua sendo que
não têm como liberalizar essas
áreas de uma só vez, até porque há
grandes disparidades entre os
quatro países de região.
Além de todos esses impasses,
os europeus também se dizem
preocupados com os problemas
internos do Mercosul. Segundo
Falkenberg, a recente crise da UE
-acentuada depois do fracasso
em aprovar a Constituição Européia na França e na Holanda-
não impõe dificuldades às negociações comerciais do bloco porque, no que se refere aos avanços
institucionais já alcançados e consolidados, não há risco de retrocesso. Já no que diz respeito ao
Mercosul, ele diz que, além da falta de um desenho institucional
mais forte, a crise econômica, em
2001, levou a Argentina a reconsiderar algumas propostas. Isso estaria contribuindo para que haja
grande dificuldade, hoje, em
avançar na integração da região e,
conseqüentemente, em negociações externas.
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