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GASTO PÚBLICO
Entidade lança proposta para cortar despesas em 2% ao ano; especialista vê ameaça a superávit primário
Guinada austera é saída para crise, diz Fiesp
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) subiu o tom do coro de economistas
e entidades que vêm exigindo
mais controle dos gastos públicos
como forma de baixar os juros e
acelerar o crescimento.
Para Paulo Skaf, presidente da
entidade, uma guinada da área
econômica em direção da austeridade pode ser ""uma boa saída"
para um governo que está mergulhado em denúncias e suspeitas
de corrupção.
A Fiesp apresentou ontem à imprensa o estudo "Gastos Públicos:
Cortar Para Crescer", já enviado
ao ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e que faz projeções para o país até 2015 -na hipótese
otimista de um movimento sério
de redução nas despesas da
União.
O trabalho foi apresentado publicamente no momento em que
ganha corpo uma proposta do
economista e deputado Antonio
Delfim Netto (PP-SP) de zerar o
déficit nominal (que inclui os gastos com juros da dívida pública).
Outros economistas, como o especialista em finanças públicas
Raul Velloso, afirmam que o governo ""está no limite" de seus gastos por causa das despesas obrigatórias. Para Velloso, em breve a
União terá dificuldades até de sustentar superávits primários (economia para pagar juros).
A proposta da Fiesp tem três vetores principais:
1) redução do total da despesa
em 2% anuais durante seis exercícios consecutivos (2006 a 2011),
seguida da manutenção do total
da despesa real por quatro anos;
2) limite de crescimento para a
receita real de 50% da taxa de
crescimento do PIB, com teto de
2,75% ao ano;
3) uma vez atingido o superávit
operacional (diferença entre a receita e despesas mais juros), seriam destinados 90% desse resultado para investimentos a serem
feitos no ano seguinte.
Para um cenário mais próximo,
em 2010, o estudo projeta um aumento na taxa de crescimento,
nos investimentos públicos e privados e uma importante redução
no endividamento da União. Jogando as estimativas para 2015, o
país poderia crescer a taxas próximas a 7% ao ano com uma carga
tributária consideravelmente menor do que a atual.
"Não consigo acreditar que o
governo não possa, a exemplo das
empresas, encontrar meios de reduzir seus gastos em 2% ao ano",
diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da
Fiesp.
De acordo com Skaf, a entidade
que preside pretende colocar
"muita energia para quebrar o
círculo vicioso de gastos, impostos e juros elevados".
Despesas obrigatórias
Outro trabalho que acaba de ser
concluído pelo economista Raul
Velloso joga luz sobre a "necessidade urgente" de o país reduzir,
principalmente, seus gastos obrigatórios -como os com pessoal,
benefícios assistenciais, Previdência e saúde.
Segundo Velloso, do total do
gasto não-financeiro, 90,7% são
destinados hoje às despesas obrigatórias. Sobrariam, portanto,
apenas 9,3% para serem utilizados de forma discricionária, incluindo os investimentos do setor
público.
"Um ano antes da promulgação
da Constituição de 1988, esse gasto não-financeiro discricionário
era equivalente a 53% do total."
Além dos investimentos, os
9,3% de hoje têm de cobrir toda a
manutenção dos ministérios e
seus programas e o custeio da máquina administrativa.
Além disso, Velloso aponta um
forte aumento nos gastos assistenciais, que vêm "comendo" parcelas
cada vez maiores do que o governo ainda pode cortar hoje para
sustentar superávits primários
acima de 4% do PIB.
"Estamos chegando ao limite na
questão dos gastos. A maneira
mais simples de afastar o impasse
é reduzir o superávit primário. A
menos que se crie o estouro da
bomba em outra porta, essa porta
é o superávit primário", afirma.
Para o economista, essa é uma
das razões pelas quais uma proposta abrangente de redução de
despesas públicas poderá contar
hoje, ao contrário de outros momentos, com um forte apoio da
equipe econômica.
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