|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BNDES é sócio de usina acusada de usar trabalho "escravo"
Participação do banco estatal chega a 20% da Brenco; instituição injetou R$ 1 bilhão na empresa
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal recorreu à
Justiça para incluir na "lista suja" do trabalho escravo a Brenco, empresa com 20% de seu
capital nas mãos do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Entre o fim de 2008 e o início
deste ano, o banco injetou R$ 1
bilhão na empresa para a implantação de unidades de processamento de cana e plantação de lavoura em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Com isso, ganhou um assento
no conselho de administração.
O aporte financeiro ocorreu
meses após fiscais terem encontrado trabalhadores em situação degradante em Goiás e
Mato Grosso. Nessa ação, no
início de 2008 e direcionada à
Brenco, foram registrados 107
autos de infração por violações
à legislação, segundo o governo,
como alojamento precário, falta de equipamentos de proteção e transporte irregular.
Comandada pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul, a Brenco é uma
empresa brasileira, com investidores norte-americanos. A
empresa diz que, até 2015, investirá R$ 5,5 bilhões na implantação de dez unidades, o
que lhe permitirá uma capacidade de moagem de 44 milhões
de toneladas por safra.
A empresa, que nega as acusações (leia texto ao lado), entrou na Justiça e conseguiu, no
mês passado, uma liminar da
12ª Vara do Trabalho de Brasília que impede o ministério de
incluí-la no cadastro.
Recurso
Por meio da AGU (Advocacia
Geral da União), o governo recorreu. Neste mês, entrou com
um recurso ordinário contra a
sentença, que agora será analisada pela segunda instância da
Justiça trabalhista.
Criada em 2004 pelo Ministério do Trabalho, a "lista suja"
dá publicidade a empresas e
pessoas flagradas com trabalhadores em situação análoga à
escravidão. O cadastro é renovado a cada seis meses, e o ministério quer incluir a Brenco
na atualização do mês que vem.
Entre 1995 e junho deste ano,
o grupo móvel de fiscalização,
que reúne auditores do trabalho, procuradores e policiais federais, resgatou 33.903 trabalhadores em situação análoga à
de escravo, num total de 829
operações e 2.307 fazendas.
O Ministério Público do Trabalho e a empresa ainda negociam a assinatura de um TAC
(Termo de Ajustamento de
Conduta). Uma reunião está
prevista para meados de julho.
O BNDES, órgão do governo
federal que faz propaganda de
sua cláusula social, diz que, antes de fechar qualquer contrato, checa a lista do ministério.
Caso a inclusão no cadastro
ocorra em meio à vigência do financiamento, o banco afirma
que pode suspender o desembolso. Sobre a Brenco, diz que
não havia nenhuma sentença
definitiva contra a empresa no
momento da assinatura do
contrato, em agosto do ano passado, quando aprovou o financiamento de R$ 1,2 bilhão.
Nos últimos dias, o BNDES
passou pelo constrangimento
de ter seu nome incluído em
denúncias de desmatamento
na Amazônia.
Texto Anterior: Exportar evita colapso, diz confederação Próximo Texto: Outro lado: Para empresa, inclusão em lista "suja" é indevida Índice
|