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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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TRABALHO

Presidente prega indiretamente flexibilização das leis trabalhistas

Tempo do "sindicalismo de contestação" passou, diz Lula

Alan Marques/Folha Imagem


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no lançamento do Fórum Nacional do Trabalho, que acabou o tempo do sindicalismo voltado só para a contestação e, indiretamente, pregou a flexibilização das leis trabalhistas.
Lula fez um apelo aos sindicalistas: que se preocupem não só com seus filiados mas também com os desempregados. Disse ainda que, se a legislação trabalhista não for adequada ao momento que o país vive, a cada dia os sindicatos estarão representando menos gente.
O presidente também falou sobre a CLT (lei que rege as relações trabalhistas no país). Ele afirmou que "o caminho do meio sempre é o caminho que possibilita construirmos o consenso, construirmos uma maioria e fazermos as mudanças, sem a pressa daqueles que achavam, algum dia, que, para fazer um contrato coletivo de trabalho, era necessário rasgar a CLT, ou aqueles que achavam que era possível fazer um contrato de trabalho mantendo a CLT em toda a sua plenitude".
Na semana passada, pesquisa do IBGE mostrou que, nos últimos seis meses, a taxa de desocupação em seis regiões metropolitanas cresceu 2,5 pontos percentuais, passando de 10,5% em dezembro para 13% em junho.
"Quando nós falamos em direitos, nós falamos para quem? Para nós, que temos direitos? E os milhões que não conseguem um emprego? E os milhões que estão na economia informal?", disse a uma platéia que incluía representantes de todas as centrais sindicais.
Lula admitiu, no discurso improvisado, que pode ter se tornado conhecido justamente pelo sindicalismo de contestação, mas disse que esse tempo já passou.
Ao falar do seu tempo de sindicalismo, o presidente fez outra autocrítica: lembrou que lutava por direitos iguais para trabalhadores de uma empresa de fundo de quintal e uma indústria automobilística com 40 mil empregados. "Há tratamentos diferenciados entre empresas em função do seu tamanho", afirmou.
O presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, Grijalbo Coutinho, presente ao evento, viu nessa afirmação a defesa do chamado Simples trabalhista -menos direitos para trabalhadores de empresas pequenas. "Nós nos opomos a isso. É a criação do empregado de terceira categoria", disse.
Segundo Lula, sete dos seus ministros integram um grupo de trabalho que discute com os sindicatos um novo padrão de relacionamento. O presidente afirmou que muitas vezes os sindicalistas vão para portas de fábrica convocar assembléias e encontram mais ex-empregados vendendo coisas na porta do que contratados.

Corporativismo
"Nem tudo se resume a 1%, a 2%, a 10% de aumento de salário. O que nós precisamos é criar um outro padrão de relacionamento entre o Estado e a sociedade. Entre o Estado e os servidores públicos. Eu estou convencido de que o movimento sindical brasileiro tem de dar um saldo de qualidade e extrapolar os limites do corporativismo", afirmou Lula.


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