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LUÍS NASSIF
A autocrítica que não foi feita
Quando se fechou o acordo
com o FMI, em fins de 1998,
o ex-ministro Pedro Malan, pela
primeira vez, ousou afrontar o
órgão. E o fez na direção errada,
resistindo a flexibilizar a política
cambial na época. A autocrítica
do FMI em relação ao caso brasileiro foi a de não ter endurecido
o jogo, sabendo que a política
cambial em vigor não tinha sustentação.
Seria importante recuperar a
discussão econômica na época.
Essa loucura foi sustentada em
cima de argumentos primários,
de supostos especialistas, que ganharam poder e influência unicamente pela falta de critérios da
mídia na escolha de fontes.
Havia dois grupos de analistas
em um debate complexo. Quem
arbitrou a polêmica foi a mídia,
ao apostar no lado errado. Houve exceções, entre as quais a própria Folha. Mas no geral as
manchetes, as ênfases, os editoriais privilegiavam fontes em
permanente disponibilidade
com nível de argumentação raso, incapazes de análises autônomas. Devem estar maldizendo
até hoje não terem tomado conhecimento do relatório do FMI
na época, a tempo de mudar de
opinião.
Alertas de economistas como
Ibrahim Eris, Delfim Netto,
Cláudio Haddad, Luiz Gonzaga
Belluzzo, Luciano Coutinho,
Yoshiaki Nakano, Luiz Carlos
Bresser Pereira, Maria da Conceição Tavares, Luiz Paulo Rosenberg, alguns entre os que estavam de fora, e José Serra e irmãos Mendonça de Barros, entre os que estavam do lado de
dentro, foram deixados de lado,
substituídos por meia dúzia de
consultores sem um pingo de visão estruturante, sem conhecimento da lógica dos modelos, expressando-se por slogans.
Desvalorizar ou não o câmbio
não é opção ideológica. É questão de saber avaliar corretamente se a economia resiste ou não a
um câmbio apreciado. Tudo isso
foi substituído por argumentações sem sentido, mundanas.
O que diziam era, depois, repetido nas TVs e jornais por analistas, com uma segurança incomum. O sujeito aderia às posições do grupo porque se sentia
"moderno", em linha com a contemporaneidade. A ignorância
foi glamourizada.
Esse alarido da mídia provocou o efeito manada nos departamentos econômicos das instituições financeiras, em um processo de auto-alimentação do
engano. Mesmo aqueles economistas que sabiam que o câmbio
não iria resistir preferiram ficar
na posição cômoda de errar com
a maioria.
O país pagou caro por isso, mas
as lições não foram aprendidas.
A preguiça na seleção de fontes,
a falta de conhecimento para separar o consistente do vago preservaram toda a tripulação do
Titanic. Estão todos aí, repetindo
novos slogans, tão vazios quanto
os que foram esquecidos pelo
tempo.
O FMI já fez a sua crítica. E os
outros?
Síndrome do boné
Tem razão Clóvis Rossi: há um
superdimensionamento das
manifestações de grupos organizados. Lembra muito o que
ocorreu no início do governo
Franco Montoro. A posição do
núcleo central do governo Lula
a respeito dos movimentos tem
sido firme contra os abusos. O
que existe é o mercado velho de
guerra, que, depois de ter "valorado" o país, entrou em processo
de ajuste de preço e inverteu a
mão, substituindo o otimismo
exuberante pelo pessimismo
inexplicável.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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