São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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Agricultura e construção têm menor escolaridade

Redução de pessoal mais qualificado acontece na maioria dos setores

Brasil tem rotatividade anual de mão-de-obra na faixa de 42%; geralmente, demite-se quem ganha mais para contratar por menos

DA REPORTAGEM LOCAL

A agricultura e a construção civil estão na base do aumento da contratação de pessoas com baixa escolaridade. Já a redução de pessoal mais escolarizado, cuja intenção real é o corte de salários, acontece na maioria dos setores.
Segundo dados da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o saldo de contratados e demitidos entre janeiro e abril deste ano no setor é de 71.796 novos empregos formais -48,3% a mais do que em igual período de 2005.
Para Clóvis de Queiroz Neto, técnico da CNA, como a informalidade na agricultura chega a 68%, o volume de novos empregos -principalmente na área de cana- tende a ser significativamente maior do que no lado formal.
Nelson Brandão, vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, afirma que, no Estado, setores de celulose, soja e algodão também têm puxado fortemente a contratação de pessoas menos escolarizadas.
Na construção civil, o Sinduscon, que reúne o setor, contabilizou 132,6 mil novos empregos formais entre maio de 2005 e maio deste ano.
"No Brasil, as coisas sempre são rompidas, para o bem ou para o mal, em uma velocidade desproporcional a qualquer planejamento. O resultado é que já começamos a vislumbrar falta de mão-de-obra com qualificação no setor", diz Maurício Bianchi, coordenador do Sinduscon.
Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), afirma que, no caso do setor industrial, a demissão de pessoal mais escolarizado ocorre durante processos de enxugamento para reduzir custos.
"Há cortes em cargos de chefia, por exemplo. Mas essa substituição de pessoal mais qualificado por menos qualificado é sempre a última das etapas de um enxugamento", diz.
O Brasil tem hoje uma rotatividade anual de sua mão-de-obra na faixa de 42%. Geralmente, demite-se quem ganha mais para contratar por menos, com impactos sobre a renda.
Segundo o economista Marcio Pochmann, enquanto o emprego formal cresceu 9,2% no Brasil entre 2002 e 2005, a massa de rendimentos aumentou apenas 1,3% em termos reais (acima da inflação).
Sobre o aumento da geração de empregos formais ao longo do governo Lula, Francini acredita que há forte influência de uma maior fiscalização contra a informalidade e um estímulo fiscal (por meio do Simples) para novas contratações.
Entre janeiro e junho, o governo fiscalizou 174 mil empresas e autuou mais de 30 mil. Em 2005, foram 375 mil fiscalizações e 60 mil autuações. (FCZ)


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