São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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Empregado/patrão é quem "ficha" os novos operários

DA REPORTAGEM LOCAL

"Fichado" é como os operários da construção civil se qualificam quando têm carteira de trabalho assinada. Na semana passada, a Folha encontrou vários recém-"fichados" em uma obra na zona sul de São Paulo.
Eram cerca de 70 operários, com salários entre R$ 600 e R$ 1.200, trabalhando em um condomínio fechado de seis casas. A menor delas terá 1.113 m2 e oito vagas na garagem.
O alagoano Rafael de Castro, 48, foi "fichado" há dois meses. Esse é seu primeiro e único emprego com registro em mais de 30 anos. Vai ganhar R$ 770, uma cesta básica e vale-transporte. É analfabeto.
"Nos botecos lá de Diadema, agora só tem bêbado e aposentado. De pedreiro, só não trabalha quem não quer", afirma.

Empregado/patrão
Quem registrou Castro e boa parte dos outros operários no canteiro também são trabalhadores. Nas obras, muitas construtoras contratam pequenas empresas formadas por operários, que buscam sua mão-de-obra entre conhecidos na região onde moram.
Quem acaba arcando com os custos e responsabilidades trabalhistas, portanto, são os próprios trabalhadores/patrões.
O baiano Ermírio Figueiredo Lima, 41, e o piauiense Sebastião Neres da Silva, 37, por exemplo, são sócios, com mais dois colegas, da EJE Empreiteira. Recebem cerca de R$ 1.200 cada um e "ficharam" quatro operários. Pagam salários entre R$ 615 (ajudante) e R$ 745 (pedreiro "oficial").
"Onde moro, nesse ramo todo mundo está trabalhando. Nem todos "fichados". Muitos vão por diárias de R$ 25 a R$ 40", afirma Silva.
Lima estudou até a 4ª série do fundamental. Silva, até a 5ª. Lima e Silva têm três filhos cada um, todos estudando em colégios públicos e, segundo eles, na idade escolar certa.
Antonio dos Santos, 36, que largou a escola ainda na 2ª série do fundamental, é o mais recente "fichado" na obra. Ganhou o registro na segunda-feira passada. Recebe R$ 700 e reconhece que não sabe escrever e que só lê "um pouco".

"É Lula"
Lula já é o candidato escolhidos por dez operários questionados pela Folha na obra, embora o tucano Geraldo Alckmin também seja conhecido.
A queda no preço dos produtos da cesta básica, do saco de cimento e a falta de preocupação com o desemprego são algumas das principais razões para a escolha do voto.
E o mensalão? "Você acha que, se o Lula fosse culpado, já não tinham dado um sapato na bunda dele?", pergunta Rafael de Castro. (FCZ)


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