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Empregado/patrão é quem "ficha" os novos operários
DA REPORTAGEM LOCAL
"Fichado" é como os operários da construção civil se qualificam quando têm carteira de
trabalho assinada. Na semana
passada, a Folha encontrou vários recém-"fichados" em uma
obra na zona sul de São Paulo.
Eram cerca de 70 operários,
com salários entre R$ 600 e
R$ 1.200, trabalhando em um
condomínio fechado de seis casas. A menor delas terá 1.113 m2
e oito vagas na garagem.
O alagoano Rafael de Castro,
48, foi "fichado" há dois meses.
Esse é seu primeiro e único
emprego com registro em mais
de 30 anos. Vai ganhar R$ 770,
uma cesta básica e vale-transporte. É analfabeto.
"Nos botecos lá de Diadema,
agora só tem bêbado e aposentado. De pedreiro, só não trabalha quem não quer", afirma.
Empregado/patrão
Quem registrou Castro e boa
parte dos outros operários no
canteiro também são trabalhadores. Nas obras, muitas construtoras contratam pequenas
empresas formadas por operários, que buscam sua mão-de-obra entre conhecidos na região onde moram.
Quem acaba arcando com os
custos e responsabilidades trabalhistas, portanto, são os próprios trabalhadores/patrões.
O baiano Ermírio Figueiredo
Lima, 41, e o piauiense Sebastião Neres da Silva, 37, por
exemplo, são sócios, com mais
dois colegas, da EJE Empreiteira. Recebem cerca de
R$ 1.200 cada um e "ficharam"
quatro operários. Pagam salários entre R$ 615 (ajudante) e
R$ 745 (pedreiro "oficial").
"Onde moro, nesse ramo todo mundo está trabalhando.
Nem todos "fichados". Muitos
vão por diárias de R$ 25 a
R$ 40", afirma Silva.
Lima estudou até a 4ª série
do fundamental. Silva, até a 5ª.
Lima e Silva têm três filhos cada um, todos estudando em colégios públicos e, segundo eles,
na idade escolar certa.
Antonio dos Santos, 36, que
largou a escola ainda na 2ª série
do fundamental, é o mais recente "fichado" na obra. Ganhou o registro na segunda-feira passada. Recebe R$ 700 e reconhece que não sabe escrever
e que só lê "um pouco".
"É Lula"
Lula já é o candidato escolhidos por dez operários questionados pela Folha na obra, embora o tucano Geraldo Alckmin
também seja conhecido.
A queda no preço dos produtos da cesta básica, do saco de
cimento e a falta de preocupação com o desemprego são algumas das principais razões
para a escolha do voto.
E o mensalão? "Você acha
que, se o Lula fosse culpado, já
não tinham dado um sapato na
bunda dele?", pergunta Rafael
de Castro.
(FCZ)
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