São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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Boom imobiliário deve perder ritmo no 2º semestre

Volume de empréstimos para a classe média avança 94,6% de janeiro a maio, mas taxa não deve se repetir

Bancos passaram a se interessar por crédito habitacional após medidas legais e melhora do cenário macroeconômico

JULIANNA SOFIA
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comemorado boom do crédito imobiliário em 2006 deve começar a dar sinais de arrefecimento e dificilmente se repetirá nos próximos anos. O Ministério da Fazenda e instituições financeiras avaliam que o mercado ainda tem espaço e fôlego para crescer, mas que o atual ritmo de expansão dos financiamentos habitacionais não se sustenta a médio prazo.
De janeiro a maio deste ano, o volume de empréstimos para a classe média registrou aumento de 94,6% em relação a igual período de 2005 (veja quadro). A expectativa da área econômica do governo é que financiamentos com recursos da poupança pulem para R$ 8,7 bilhões no ano, contra os R$ 4,8 bilhões contratados em 2005.
Já os empréstimos voltados à habitação popular -recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), operados pela Caixa Econômica Federal- devem sair dos R$ 5,4 bilhões contratados em 2005 para R$ 5,8 bilhões em 2006, segundo projeção da Caixa.
O bom momento do setor pode ser traduzido como uma liberação da demanda reprimida por esse tipo de crédito. Com a adoção de medidas legais por parte do governo e a melhora do cenário macroeconômico, os bancos passaram a ver nos empréstimos imobiliários um bom negócio, e o brasileiro que vinha aguardando para investir na casa própria está correndo para os financiamentos.
A tendência, segundo a avaliação da Fazenda, é que haja expansão "significativa" do mercado nos próximos cinco a dez anos. A velocidade, porém, deve atingir níveis mais moderados. "Crescimento de 70% naturalmente é significativo. Provavelmente em um ou outro momento você poderá observar algo nesse gênero. Mas 70% naturalmente não é um crescimento de médio prazo", afirmou à Folha o secretário-adjunto de Política Econômica, Otávio Damaso.
"Acho que o atual nível de investimento tem fôlego e pode até aumentar. Mas no ano que vem não vamos crescer mais como agora, dobrando os investimentos", disse o vice-presidente de Desenvolvimento Urbano da Caixa, Jorge Hereda. No primeiro semestre, o volume de recursos contratados na Caixa subiu 107%.
A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) concorda. "Antes, os bancos não queriam operar crédito imobiliário por causa do risco, mas agora é um negócio como outro qualquer. O crescimento que vemos é sustentável, mas não nesse patamar. A partir de 2008, deve começar a se estabilizar", disse o superintendente-geral da entidade, Carlos Eduardo Duarte Fleury.

Espaço
O crédito imobiliário no Brasil atualmente representa apenas 2% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos EUA, com mercado de crédito imobiliário mais evoluído, esse percentual sobe para entre 20% e 25%.
Na Espanha, o país que mais oferece esse tipo de empréstimo, o crédito imobiliário representa 42% do PIB. Mesmo países em desenvolvimento têm resultados melhores. No Chile, a proporção do crédito imobiliário/PIB é de 15%.
"Os bancos passaram a ocupar seu espaço. Antes eram as incorporadoras que financiavam os imóveis. Agora elas constroem e os bancos financiam e é assim que tem que ser. Os bancos passaram a se interessar por esse mercado, por causa da estabilidade", afirmou Fernando Baumeier, superintendente-adjunto de Crédito Imobiliário do Santander.


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