São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crédito continua em alta mesmo com juros maiores

Volume de crédito cresce 14% no 1º semestre e já corresponde a 36% do PIB

Expansão é maior no financiamento a empresas, de 17,9%, contra 9,7% para as pessoas físicas; inadimplência segue estável

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros bancários tiveram seu segundo mês seguido de alta, mas esse encarecimento não foi suficiente para frear a procura por empréstimos. Dados do Banco Central mostram que a concessão de financiamentos a pessoas físicas dá sinais de desaceleração, mas que as empresas estão se endividando cada vez mais, liderando a expansão do crédito.
Segundo o BC, os juros médios praticados pelas instituições financeiras passaram de 37,6% ao ano para 38% entre maio e junho. A alta se concentrou nas operações com pessoas físicas, cujas taxas subiram de 47,4% ao ano para 49,1%.
O movimento se explica, em parte, pela atuação do próprio BC, que tem elevado seguidamente a taxa Selic, que remunera as operações de curto prazo fechadas pelos bancos no mercado financeiro. Isso acaba encarecendo o custo de captação das instituições financeiras, que repassam esse aumento para seus clientes.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a alta dos juros bancários deve continuar no segundo semestre, mas não deve impedir que o crédito siga em alta. "Ainda não observamos nenhuma desaceleração nas vendas do varejo, e as empresas precisam de capital de giro para alavancar as vendas", diz Lopes, citando os motivos que devem continuar puxando a procura por empréstimos.
Além disso, o aumento nos prazos de pagamento também ajudam a compensar o impacto da alta dos juros, pois contribui para reduzir o tamanho das parcelas de cada empréstimo.
Em junho, o prazo médio dos financiamentos era de 375 dias, contra 350 dias em dezembro. "Acaba prevalecendo aquela cultura de só ver se a prestação cabe no bolso", diz Lopes.
No semestre, o volume de crédito disponível no país cresceu 14%, chegando a R$ 1,067 trilhão no mês passado. O valor equivale a 36,5% do PIB, e Lopes afirma que até o fim do ano essa proporção pode superar os 40% previstos pelo BC.
O crescimento foi maior nos financiamentos a empresas, que tiveram alta de 17,9% no período, contra aumento de 9,7% entre pessoas físicas. Esses números não incluem os chamados créditos direcionados, como os empréstimos habitacionais e do BNDES, controlados pelo governo.
Para Alexandre Jorge Chaia, professor do Ibmec São Paulo, o crescimento um pouco mais fraco nos empréstimos a pessoas físicas já é um reflexo da recente alta dos juros, mas que a maior parte do impacto ainda será sentida nos próximos meses. "Os números ainda são conseqüência das compras que foram planejadas no início do ano. Não é de uma hora para outra que se interrompe isso."
Segundo Chaia, a expectativa é que, de agora em diante, o crédito avance num ritmo mais adequado às condições atuais da economia. Recentemente, o governo chegou inclusive a cogitar uma restrição maior à concessão de empréstimos, com receio de que um impulso muito forte do crédito sobre o consumo pudesse abrir espaço para pressões sobre a inflação.
A inadimplência, outra fonte de preocupação, também não dá sinais de elevação. Segundo o BC, apenas 4% do saldo de financiamentos bancários registrado no final de junho estavam com pagamentos atrasados por mais de 90 dias. "Não acredito que os números de inadimplência devam piorar. O crédito deve continuar crescendo de forma satisfatória", afirma Emerson Kapaz, consultor do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo).


Texto Anterior: Eletricidade: Consumo de energia cresce 3,5% no 1º semestre
Próximo Texto: Santander abre a safra de balanços com lucro menor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.