São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

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Falta de terras é desafio para pecuária em dez anos

Setor pode perder área equivalente ao Ceará e a Sergipe

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A pecuária passará por substanciais mudanças nos próximos dez anos. Vai perder 17 milhões de hectares de área -Estados do Ceará e de Sergipe, juntos- para outras atividades, migrar para o Norte e o Nordeste, enfrentar escassez de terras, ter alta de custos, sofrer pressões ambientais e conviver com protecionismo externo.
A favor, a pecuária terá avanço no ganho de produtividade, utilização de mais bois no mesmo espaço, abate de animais antecipados para 24 meses (hoje em torno de 30 meses), maior demanda por carne e disponibilidade de disputar com outras atividades os 100 milhões de hectares de terras degradadas que existem no país -40 milhões deles no Norte.
Essa disputa por terra, no entanto, vai ser difícil devido à crise dos alimentos e à boa remuneração das commodities. Vão ocupar essas terras as atividades que proporcionarem maior remuneração aos produtores.
A análise é de José Vicente Ferraz, da AgraFNP, empresa que lançou ontem o "Anualpec" -anuário de acompanhamento da pecuária. Na avaliação de Ferraz, o rebanho brasileiro, que teve forte redução nos últimos anos, recupera-se aos poucos e passa dos atuais 170 milhões de cabeças para 183 milhões em 2017.
Após abate acentuado de animais, especialmente de fêmeas, devido aos preços baixos praticados no setor, a pecuária vive momentos de alta. Mas esses reajustes de preços não se convertem em lucros para o setor.
Os frigoríficos, com a falta de animais para abate e a alta dos preços, perderam margem de lucro. O recriador e o invernista estão como margens próximas às do período de preços baixos. Já o criador tem maior margem, mas também está com custos elevados.
Na ponta, o consumidor paga um preço alto, que não mostra sinais de queda. "Há uma crise de produção em que os preços elevados não refletem a rentabilidade. E o que estimula o produtor é o lucro", diz Ferraz.
Só no fim de 2010 e no início de 2011, quando houver a recomposição do rebanho, o setor voltará a se equilibrar. No meio de caminho, frigoríficos perderão gordura e os de menor fôlego podem quebrar, diz Ferraz.
Apesar desse cenário ruim a curto prazo, o Brasil ganha espaço no mercado mundial nos próximos dez anos. As exportações devem crescer 32% em quantidade e 39% em valor.


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