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Estados "compensam" gastos do governo federal
Participação de governos regionais no aperto fiscal sobe de 24% para 43% no 1º semestre
Economia do setor público para o pagamento de juros
cai 66%; relação dívida/PIB
atinge 43,1%, maior índice
desde fevereiro de 2008
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para compensar parte da
queda nos resultados alcançado pelo governo federal, Estados e municípios aumentaram
sua participação no aperto fiscal promovido pelo setor público como um todo. No primeiro
semestre, a participação dos
governos regionais no superávit primário acumulado por todas as esferas públicas chegou a
43%, ante 24% nos primeiros
seis meses de 2008.
Isso ocorre porque o impacto
da crise nas contas de Estados e
municípios tem sido diferente
daquele observado nos números do governo federal. Do lado
da União, as medidas de estímulo fiscal tomadas nos últimos meses foram mais agressivas, enquanto nos governos regionais a flexibilidade para esse
tipo de iniciativa é menor.
Entre janeiro e junho deste
ano, o governo central -que inclui Tesouro, Previdência Social e Banco Central- teve um
superávit primário de R$ 20,9
bilhões, valor que corresponde
a 1,45% do PIB (Produto Interno Bruto) do período. No mesmo período do ano passado, o
resultado havia sido de R$ 60,8
bilhões, ou 4,35% do PIB.
O desempenho dos governos
regionais não variou tanto, ao
passar de R$ 19,2 bilhões (ou
1,38% do PIB) na primeira metade de 2008 para R$ 15,3 bilhões (1,06% do PIB) neste ano.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, essa diferença é consequência dos contratos de renegociação de dívidas assinadas
por Estados e prefeituras no
governo FHC (1995-2002), que
fixam limites mínimos que essas esferas de governo devem,
obrigatoriamente, direcionar
para o superávit primário. O
governo federal não precisa seguir esse tipo de exigência.
Além disso, Lopes afirma que
os resultados fiscais de cada esfera do setor público variam
muito a cada mês, por isso não é
possível falar que o maior peso
de Estados e municípios seja
uma tendência a ser mantida
no futuro. "Isso ocorreu nos últimos meses, mas não significa
que vai continuar acontecendo.
É possível que um ou outro mês
seja atípico", afirma.
Em relação ao governo federal, a queda no superávit reflete
tanto a perda na receita quanto
o aumento de gastos e a redução de tributos em alguns setores na tentativa de incentivar a
retomada do crescimento. Para
o economista Fabio Kanczuk,
professor da USP, esse movimento já era esperado e não
chega a apresentar uma ameaça ao equilíbrio fiscal.
Ele ressalta, porém, que há
dúvidas sobre a magnitude do
impacto que essas medidas de
estímulo terão efetivamente na
recuperação do nível de atividade e que talvez fosse melhor
usar esse espaço fiscal para reduzir a dívida. "Aumentar gastos é uma coisa que esse governo sempre quis fazer. Com a
crise, arranjou uma desculpa."
O setor público como um todo obteve um superávit primário de R$ 35,3 bilhões. Nos últimos 12 meses, o resultado acumulado corresponde a 2,04%
do PIB, abaixo dos 2,5% fixados
como meta para 2009.
Dívida cresce
A dívida pública, por sua vez,
chegou a R$ 1,26 trilhão no mês
passado, valor que equivale a
43,1% do PIB. Desde fevereiro
de 2008 o indicador não atingia
patamar tão elevado. Além da
queda do superávit primário, o
endividamento também cresce
em razão do efeito do câmbio.
Por causa das compras de dólares feitas pelo BC nos últimos
anos, as reservas em moeda estrangeira do governo ultrapassam os US$ 200 bilhões. Com o
câmbio se valorizando, porém,
esse saldo cai quando convertido para reais, reduzindo a poupança do governo e abrindo espaço para o aumento da dívida.
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