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LUÍS NASSIF
Os desafios para o segundo turno
Especialista consistente, o analista político Rubens Figueiredo evita as simplificações e as conclusões taxativas sobre as pesquisas que, em geral, têm
marcado a análise diária do tema. Concentrando-se na grande disputa do momento -para saber quem irá para o segundo turno com Lula-, a análise de
Figueiredo mostra um jogo de xadrez complexo.
Ao contrário da eleição de Fernando Collor, as avaliações
sobre o governo Fernando Henrique Cardoso não são tão negativas quanto do governo Sarney.
Hoje há um contingente apreciável de eleitores considerando
o governo ótimo ou bom, ou
simplesmente razoável. Portanto ao mesmo tempo em que se
quer mudanças -como em toda eleição-, também há um
sentimento de não se provocar
uma ruptura nos avanços obtidos nos últimos anos.
Até há pouco, Ciro Gomes sintetizava a bandeira da mudança com continuidade, por conta
de sua presumível experiência
como administrador, governador e ministro e membro do governo no início do Real.
Essa imagem foi abalada com
o início do horário eleitoral,
com a revelação de inconsistências nas declarações e explosões
de temperamento que foram
bem exploradas pelos adversários.
O desafio de Ciro consiste em
responder aos ataques sem parecer destemperado. Não poderá ser muito passivo, para não se
chocar com a imagem que já
criou; nem explosivo, para não
reforçar as críticas. Por outro lado, na medida em que Fernando Henrique Cardoso caia de
cabeça na campanha de Serra,
Ciro terá dificuldades em se
apresentar como o candidato da
consolidação do Real. Terá que
aprofundar as críticas contra o
governo, mas sem que passe a
impressão de que provocará instabilidade no modelo econômico.
Trata-se de um trabalho de
engenharia fina, que exigirá
sensibilidade para avaliar o
meio-termo adequado, e disciplina do candidato para se ater
ao roteiro definido. E, aí, a frente ampla da candidatura Ciro
não ajuda. De um lado, tem-se a
banda pefelista de ACM e Jorge
Bornhausen querendo que a
campanha radicalize as críticas
contra o governo. De outro, o lado de Tasso Jereissati, preocupado em não provocar um afastamento definitivo do PSDB, pois
sua influência em um futuro governo Ciro dependerá da base
peessedebista que conseguir
atrair. Há um terceiro grupo, do
senador Roberto Freire, recomendando uma postura light
ao candidato. E a ex-tropa de
choque de Collor, como Roberto
Jefferson, ameaçando sair na
porrada. Finalmente, tem-se
uma equipe de marketing político sem a experiência de seus adversários e membros da família
ocupando postos estratégicos na
campanha.
Até agora, Ciro cresceu confiando exclusivamente na sua
intuição política. Essa improvisação impediu a consolidação
de um discurso mais consistente. Agora, Ciro sentiu que a intuição apenas não será suficiente para prosseguir a caminhada,
mas a decisão correta terá que
ser tomada em pleno burburinho da campanha, com entrevistas, comícios, pressão dos repórteres atrapalhando a concentração e a análise isenta.
Por seu lado, Serra terá o desafio de conciliar a imagem de
consolidador do Real com a de
crítico das mazelas da política
econômica na gestão FHC. No
debate da Bandeirantes, o tucano ainda não tinha conseguido
encontrar a embocadura correta. Mas o impasse surgiu bem no
início da campanha, dando
tempo para aprimorar o discurso e consertar os desacertos iniciais de campanha.
Seja qual for o resultado, o fato é que a ampla cobertura dada
pela mídia torna essas eleições
um fato inédito na vida política
do país. Há seis meses, os candidatos eram muito diferentes do
que há três meses e do que são
hoje em dia. Inconsistências foram exploradas, retóricas foram
amainadas e parte-se para um
desfecho eleitoral que, em que
pese o natural esquentamento
da disputa na reta final, tem tudo para ter um final civilizado.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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