São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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JUSTIÇA

Família processa Andersen

BBVA vê oportunismo na ação dos Nasser

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria) classificou ontem como ""oportunista e grosseira" a decisão da família do ex-banqueiro Ezequiel Nasser, antiga controladora do Excel-Econômico, de ingressar com ação na Justiça dos EUA contra a empresa de auditoria Arthur Andersen. Os Nasser requerem indenização de US$ 346 milhões da empresa.
Na ação, aberta na segunda na Corte Federal de Manhattan, em Nova York, os ex-controladores do Excel acusam a Andersen de emitir relatórios supostamente fraudulentos que teriam depreciado o valor do banco durante a venda para o BBVA, em 1998.
Em declarações à imprensa espanhola, um dos porta-vozes do BBVA afirmou que, para o banco, o processo não ""parece outra coisa senão uma tentativa oportunista e grosseira de aproveitar-se da situação que a companhia (Andersen) atravessa nos EUA".
É uma referência aos processos que envolvem a Arthur Andersen, principalmente no escândalo contábil que levou à concordata da Enron. A Andersen era responsável pela auditoria das contas da empresa de energia. O teor das declarações foram confirmadas pela assessoria do BBV (a denominação do BBVA no Brasil). Javier Ayuso, diretor-geral de comunicação do BBVA, em Madri, se negou a fazer comentários.
""Isso não é verdade. Se fosse um processo oportunista não teríamos entrado com ação desde 2000 no Brasil contra o BBV e o Banco Central requerendo a anulação da venda do banco", disse Deborah Srour, advogada responsável, nos EUA, pela ação contra a auditora. ""A situação oportunista surgiu pela má conduta da Andersen que afetou não apenas meus clientes, como a sustentabilidade de várias empresas americanas", completou.


Na ação que corre na Justiça americana, apenas a Andersen aparece como ré.
Ela fora a consultoria contratada pelo BBVA para conduzir o processo de avaliação do Excel e estipular um preço para compra.
Na ação, os advogados da família Nasser afirmam que, em dezembro de 97, a consultoria que atendia o Excel, a Deloitte Touche Tohmatsu, estipulava que o banco tinha ativos de R$ 535,9 milhões. Seis meses mais tarde, a Andersen apontava que o Excel apresentava patrimônio líquido negativo de R$ 583,7 milhões.
No documento contra a Andersen, o BBV é citado como participante do ""conluio" para forçar a venda do banco. São mencionados ainda a diretora de fiscalização do BC, Tereza Grossi, e o ex-diretor Cláudio Mauch, referidos ""como representantes do BC que ameaçaram liquidar o (Excel) caso não fosse vendido".
Em entrevista à Folha, anteontem, Grossi afirmou que apenas cumpriu a lei.

Compensação
Para a direção do BBV, ""os denunciantes (a família Nasser) pretendem mediante a apresentação de uma versão radicalmente falsa do ocorrido em 1998, envolver o BBVA e altos funcionários do BC brasileiro para conseguir uma compensação econômica".
""Além do processo que movemos contra o BBVA e os diretores do BC esperamos que o juiz que investiga o BBVA na Espanha também se interesse pelo nosso caso e nos procure para obter mais informações", disse Srour.
Em abril, a Justiça espanhola abriu processo criminal para investigar evidências de que o banco teria usado contas secretas em paraísos fiscais. O desvio seria de US$ 200 milhões.
Ezequiel Nasser e demais ex-controladores do Excel respondem a processo na 17ª Vara Federal em Salvador por formação de quadrilha e saques ilegais. A ação foi movida pelo Ministério Público com base em relatório de fiscalização do BC. Pelo processo, em transações forjadas no primeiro semestre de 1998, foram entregues US$ 124 milhões em empréstimos duvidosos a 15 empresas. Sobre este caso os representantes da família não se pronunciaram.


Com agências internacionais

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