São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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Congressistas argentinos pediram suborno a bancos

THOMAS CATAN
DO "FINANCIAL TIMES", EM BUENOS AIRES

Membros do Congresso argentino solicitaram suborno a bancos estrangeiros que operam no país. Em troca, foi ofertado o bloqueio de um controvertido projeto de lei que poderia lhes custar centenas de milhões de dólares, de acordo com banqueiros e diplomatas entrevistados pelo "Financial Times"
O pedido -supostamente rejeitado pelos bancos- foi feito pouco mais de duas semanas atrás, pouco antes que o Senado aprovasse por unanimidade o projeto de lei em questão, que reinstitui um imposto de 2% suspenso anos atrás, sobre os juros e comissões auferidos pelos bancos.

Trabalho e propina
O projeto, que ainda precisa ser votado pela câmara baixa do Parlamento, foi redigido pelo senador José Luís Barrionuevo, um ex-líder sindical notório por ter dito que "na Argentina ninguém ganha dinheiro trabalhando".
Em maio, Barrionuevo conclamou os argentinos a "sair às ruas destruindo bancos". No entanto, não há indícios de que ele estivesse envolvido no suposto pedido de suborno.
De acordo com banqueiros e diplomatas, a Associação dos Bancos Argentinos (ABA) foi contatada por uma pessoa conhecida da organização, que apresentou uma proposta de bloquear o projeto de lei em troca do pagamento de uma quantia não especificada.
As fontes dizem que a ABA rejeitou a proposta. A associação representa os maiores bancos estrangeiros operando na Argentina, entre os quais Citigroup, HSBC, FleetBoston, Deutsche Bank, JP Morgan e os espanhóis Santander Central Hispano e BBVA.

Corrupção negada
Mario Vicens, presidente da ABA, negou vigorosamente ter recebido a proposta. "Não vi ou soube que ninguém estivesse tentando solicitar suborno aos bancos para evitar quaisquer leis", disse o executivo. "A única coisa que penso a respeito é que houve um mal-entendido", afirma.
Vicens disse que a alegação pode complicar as sensíveis negociações entre a ABA e os congressistas argentinos, que estudam diversas propostas que podem prejudicar seriamente os bancos estrangeiros.
Entre elas há uma proposta que tornaria os acionistas estrangeiros de bancos argentinos legalmente responsáveis por depósitos locais, o que uma análise interna da ABA diz "representar risco material para as operações de bancos estrangeiros na Argentina".
"Ação imediata deve ser tomada para impedir que a proposta se torne lei", aconselham os advogados da ABA.

Reunião com embaixadores
Em uma reunião com os embaixadores dos Estados Unidos e do Reino Unido, em 16 de agosto, em Buenos Aires, os executivos dos bancos se queixaram das medidas em discussão no Congresso e comentaram a respeito das acusações de suborno.
A imprensa argentina diz que James Walsh, o embaixador norte-americano, a seguir mencionou o assunto em reunião com o ministro do Exterior argentino, Carlos Ruckauf.
O esforço de lobby de alto nível dos bancos parece ter dado frutos. Eduardo Amadeo, porta-voz do presidente, disse que o governo "não aceitaria" as propostas previstas em projeto de lei.
No entanto, não estava claro de que maneira seria resolvido o ruidoso problema entre o governo e o Congresso argentinos e os bancos estrangeiros.


Tradução de Paulo Migliacci


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