São Paulo, quinta-feira, 30 de agosto de 2007

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Inflação do IGP-M tem maior alta desde agosto de 2004

Índice da FGV tem variação de 0,98% neste mês, puxada por commodities agrícolas

Leite, carne bovina, soja e milho sobem, pressionando preços no atacado; inflação pode influenciar decisão do Copom sobre corte dos juros

TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO

O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) teve neste mês a maior alta desde agosto de 2004. A taxa de 0,98% foi puxada pelas commodities agrícolas. Nos últimos 12 meses, a alta chega a 4,63%.
Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV (Fundação Getulio Vargas), que calcula o índice, afirma que a perspectiva é que o IGP-M se mantenha acima de 4% no fechamento de 2007.
O IPA (Índice de Preços por Atacado), que tem o maior peso (60%), avançou 1,31%, com forte influência das matérias-primas agropecuárias, que subiram 4,84% em agosto e 13,38% nos últimos 12 meses e poderiam ter impacto ainda maior não fosse a valorização do real diante do dólar no período. Sobre as recentes mudanças no câmbio devido à crise no mercado financeiro, o economista diz que é cedo para analisar.
As principais influências no aumento do índice vieram dos preços de milho, leite "in natura", carne bovina e soja. O preço do milho teve ganhos com a maior demanda para produção de álcool combustível nos Estados Unidos, que tem reflexo também no aumento da área plantada, diminuindo o espaço de outras culturas. O leite se beneficiou com a quebra de safra em vários países, aumentando a demanda internacional pelo produto, e a carne, com o fim dos embargos internacionais.
Quadros destaca que um dos itens que diminuíam a pressão de alimentos, que já vem de meses anteriores, eram os combustíveis. Mas a queda no álcool hidratado caiu de 10,85% em julho para apenas 3,32% neste mês; os óleos combustíveis tiveram alta de 5,16% neste mês, contra 0,33% em julho.
No IPC, que considera a variação para o consumidor, a alta foi de 0,39%. "A demanda interna aquecida permite que os aumentos de custo [do atacado] sejam repassados", afirma Quadros. Essa expansão no consumo é influenciada pelo aumento de renda da população e do emprego formal.
Raphael Castro, economista da LCA, diz que o aumento no preço das commodities faz as exportações enxugarem a oferta interna e ajuda os produtores a conseguir melhores preços também dentro do país. Os alimentos já tinham feito o IPCA-15, divulgado na semana passada e que considera a variação de preços até o dia 15 de cada mês, acelerar-se -altas de 0,42% no mês e de 3,95% nos últimos 12 meses.

Copom
Castro lembra que, apesar desses índices de inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que volta a se reunir na próxima quarta-feira, já sinalizou que está mais focado no médio do que no curto prazo. Ele mantém a aposta de corte de 0,25 ponto percentual na Selic. Com a divulgação do índice ontem, a LCA reviu a projeção para o IGP-M, de 0,45% para 0,55% em setembro e de 3,9% para 4,3% no ano.
Em agosto de 2004, na última vez em que o IGP-M teve variação superior à deste mês (1,22%), a Selic estava em 16% e em trajetória de alta, chegando ao pico de 19,75% em maio do ano seguinte. Agora, a taxa básica de juros da economia está em 11,50%, após 17 cortes consecutivos.
Na avaliação de Gian Barbosa, da Tendências Consultoria, a situação era boa na última reunião do Copom, em julho, e mudou agora, "mas ainda não está em um patamar preocupante". O economista também mantém a expectativa de corte de 0,25 ponto em setembro, quase consenso no mercado.
Outra preocupação do Copom, além da trajetória da inflação, será avaliar o impacto na economia brasileira da crise que afetou o setor financeiro, que derrubou Bolsas em todo o mundo no início do mês, reflexo das turbulências no mercado imobiliário americano.


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