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CONTAS PÚBLICAS
Despesa com dívida cresce 69% de janeiro a agosto de 2003 sobre igual período de 2002; déficit nominal sobe
Gasto com juros passa de R$ 100 bi no ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos do setor público
(União, Estados, municípios e estatais) com o pagamento de juros
cresceram 68,8% entre janeiro e
agosto deste ano em relação ao
mesmo período de 2002, segundo
dados do Banco Central. O forte
ajuste fiscal realizado no período
não foi suficiente para compensar
a alta das despesas financeiras.
Nos primeiros oito meses do
ano, os gastos com juros somaram R$ 102,417 bilhões. O valor
equivale a 10,2% do PIB (Produto
Interno Bruto, total de riquezas
produzidas pelo país) acumulado
no período. Entre janeiro e agosto
de 2002, o pagamento de juros
consumiu R$ 60,689 bilhões -ou
7,17% do PIB.
O aumento dos gastos com juros reflete a elevação da taxa Selic
(básica), que corrige aproximadamente metade da dívida do setor
público. O BC justificou a alta da
Selic com a necessidade de conter
a subida da inflação.
Nem mesmo o maior superávit
primário deste ano, porém, foi
possível para cobrir os elevados
gastos com juros. A consequência
disso foi um déficit nominal (receitas menos despesas públicas,
incluindo gastos com juros) de R$
53,125 bilhões acumulado entre
janeiro e agosto (5,29% do PIB).
No mesmo período do ano passado, o déficit nominal somava R$
23,3 bilhões (ou 2,75% do PIB).
Para cobrir esse buraco, o setor
público -principalmente o governo federal- toma dinheiro
emprestado no mercado, em geral por meio do lançamento de títulos. A emissão de papéis resolve
o problema do financiamento do
déficit nominal, mas provoca um
aumento na dívida pública.
Entre janeiro e agosto, a taxa Selic ficou acumulada em 16,17%
em média -esses foram os juros
que efetivamente incidiram no
período sobre boa parte da dívida.
No mesmo período de 2002, os juros acumulados foram de 11,94%.
Quando crescem os gastos com
juros, a tendência é que o governo
tente equilibrar a situação por
meio de um ajuste fiscal mais forte, que pode ser alcançado com o
aumento de impostos ou com o
corte de gastos. Isso se mede pelo
superávit primário (receitas menos despesas do setor público, exceto gastos com juros).
Superávit primário
Entre janeiro e agosto deste ano,
o superávit primário ficou acumulado em R$ 49,293 bilhões
-4,91% do PIB-, contra R$
37,363 bilhões -ou 4,41% do
PIB- economizados no mesmo
período de 2002.
O superávit primário também é
a meta mais importante fixada
pelo acordo entre o Brasil e o FMI
(Fundo Monetário Internacional). Se o esforço fiscal do governo ficar aquém do combinado, o
país pode perder o direito aos empréstimos concedidos pelo FMI.
Entre janeiro e setembro deste
ano, o governo brasileiro se comprometeu a economizar R$ 54,2
bilhões para pagar juros. Para que
a meta seja cumprida, o superávit
primário deste mês deve ser de,
no mínimo, R$ 4,907 bilhões. O
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz
que "é perfeitamente possível
chegar a esse número".
O superávit primário de agosto
ficou em R$ 4,964 bilhões, o equivalente a 3,68% do PIB.
O atual acordo com o FMI, fechado no ano passado, está no
fim. Neste momento, está em discussão se o país deve/precisa ou
não renovar o acordo -e em que
bases isso deve ser feito.
Dívida pública
No mês passado, o endividamento do setor público chegou a
R$ 891,335 bilhões, valor equivalente a 57,7% do PIB. Para o chefe
do Departamento Econômico do
BC, a relação entre dívida e PIB
não deve se alterar, pelo menos
por enquanto. "Devemos encerrar o ano com algo próximo a esse
número", afirma Lopes.
A proporção entre dívida pública e PIB é um dos indicadores da
solvência de um país. Quanto
maior essa relação, maiores costumam ser as dúvidas em relação
à capacidade do governo em honrar seus compromissos.
No final de 2002, essa proporção
estava em 56,5%. O aumento
ocorrido desde então reflete, além
dos maiores gastos com juros, a
queda da inflação.
Segundo a metodologia utilizada pelo BC no cálculo das contas
públicas, os números do PIB são
sempre corrigidos pelo IGP-DI
(Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna).
Em 2002, o IGP-DI subiu 26,4%.
Entre janeiro e agosto, a alta foi de
apenas 4,96%. Com isso, o valor
do PIB em 12 meses utilizado pelo
BC em suas estatísticas também
caiu. Isso fez com que a proporção entre dívida e PIB acabasse inflada em aproximadamente 0,5
ponto percentual.
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