São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Sem pacote, PIB cresce só 2% em 2009, diz LCA

Se o pacote americano de salvação das instituições financeira não for mesmo aprovado pelo Congresso, a recessão será mais forte do que se imaginava e o Brasil só crescerá 2% em 2009 e 2,9% em 2010, segundo cálculos feitos ontem pela LCA Consultores Associados. Em 2008, o crescimento do PIB será de 4,8%.
Já se o pacote for aprovado, o quadro é completamente diferente. O PIB do Brasil cresce 3,7% em 2009 e 4,4% em 2010. Para este ano, a taxa de crescimento do PIB fica em 5,1%. A esse cenário, chamado de básico, a LCA atribuiu 65% de chances de se confirmar. Em relação ao outro cenário, batizado de adverso, as probabilidades são de 35% de se efetivar.
Segundo Francisco Pessoa, da LCA, no caso de o pacote americano não ser mesmo aprovado, irá ocorrer uma série de fatores econômicos adversos que afetarão o Brasil de diversas formas. O crédito vai ficar ainda mais escasso, a aversão ao risco aumenta e as exportações sofrem uma queda significativa, entre outras conseqüências negativas.
Tudo isso, na opinião de Francisco Pessoa, vai representar um aumento da pressão inflacionária e obrigar o Banco Central a elevar os juros num patamar acima do previsto.
No cenário adverso, a taxa básica de juros sobe para 16,25% neste ano, quando no cenário básico a previsão é que feche 2008 em 14,75%.
"No cenário adverso, a recessão será mais profunda e mais longa", diz Francisco Pessoa.
O relatório de inflação divulgado ontem pelo Banco Central contém, de forma bastante clara, esse alerta a respeito dos riscos sobre a inflação no caso de uma desvalorização do câmbio.
De acordo com a LCA, no cenário adverso, a inflação fecha este ano em 6,7%, e, no ano que vem, em 5,1%, apesar da alta dos juros.
Já no cenário básico, as previsões para a inflação são de 6,3% para este ano e 4,6% para 2009.
De qualquer forma, a expectativa da LCA é que o pacote seja aprovado nos próximos dias.
"A Câmara só está cobrando mais caro", diz Pessoa. "Agora, se não for aprovado, o contágio financeiro será muito maior e a recessão será maior e mais prolongada."
O Brasil, segundo a LCA, terá mais dificuldades em financiar o déficit em conta corrente no cenário adverso. O déficit em transações correntes fecharia em US$ 28,6 bilhões neste ano e em US$ 20 bilhões em 2009.

MINGAU
Será do Brasil que a PeraltaStrawberyFrog vai cuidar da recém conquistada conta da Quaker no México. O mercado de aveia mexicano movimenta US$ 107 milhões, quase o triplo do brasileiro, com US$ 40 milhões. A agência brasileira é a base na América Latina da StrawberryFrog, que tem também escritórios em Londres e em Nova York. Além da Quaker no México, a PeraltaStrawberryFrog é a agência da Natura, Toddy e outros.

EM FUGA
De acordo com o Banco do Brasil, aumentou a procura, nas agências do banco em Londres e em Nova York, de empresas brasileiras autorizadas pelo Banco Central a manter conta no exterior. O Banco do Brasil afirma que começou uma migração das companhias que tinham contas em outros bancos para a instituição brasileira. Segundo o BB, esse movimento se intensificou, principalmente, desde o início do mês de setembro.

MÃO-DE-OBRA
A Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), que mantém um programa para treinar mão-de-obra especializada, ganhou adesão da Fiat, da V&S e da MMX. Vale, CSN, Anglo Ferrous, Samarco, FCA e Rio Doce Manganês também participam do projeto. Os investimentos dessas corporações em MG somam R$ 48 bilhões nos próximos cinco anos. Pelo menos 60 mil profissionais devem ser treinados pela Fiemg.

NO ESPELHO
O Brasil passou a ser o quarto país no ranking por faturamento da L'Occitane, atrás do Japão, dos EUA e da França. Há cerca de um ano, o país estava em sétimo lugar. Para fortalecer a presença no Brasil, haverá expansão de lojas, reformas nos pontos-de-venda e lançamento de produtos. Entre os focos, estão cosméticos para cuidados faciais -em seis meses, esses produtos devem representar 12% do volume de vendas no país.

Não existe problema de falta de crédito do Brasil, diz Barbosa

O presidente da Febraban e do Real/Santander, Fábio Barbosa, afirma que não existe nenhum problema de crédito no Brasil. O que aconteceu, segundo ele, foi uma escassez de financiamentos externos, mas as linhas internas estão funcionando normalmente. Ele admite, no entanto, que o custo do dinheiro está maior. "As taxas de juros estão subindo, mas não há problema nenhum de falta de crédito", afirma.
Para Barbosa, hoje é muito difícil fazer qualquer prognóstico do desenrolar da crise depois da rejeição ao pacote de salvação das instituições americanas. Ele acha que, agora, não há muito o que fazer, apenas acompanhar os próximos passos da crise. "O Brasil está a reboque dessa crise e não tem muito o que fazer", diz. A crise está concentrada hoje nos Estados Unidos e na Europa.
Segundo Barbosa, o que se se tem que fazer agora é mesmo ir apagando alguns incêndios que forem aparecendo aqui e ali.
Mas, segundo ele, o Banco Central está atento e adotando as medidas necessárias. "A situação do Brasil ainda é privilegiada."

INSEGURANÇA
Carlos Mancusi, dono da Titanium, de serviços de vigilância e segurança privada, que diz que a greve da Polícia Civil no Estado de São Paulo, iniciada no dia 16, alavanca negócios no mercado da segurança privada; "muitas vezes o cliente já tinha decidido buscar o serviço, mas ficava adiando; com a greve, a decisão é antecipada"; em 2008, a empresa cresceu 40%

DURA LIÇÃO
Em meio às convulsões de Wall Street, escolas de negócios dos EUA, como MIT e Harvard, tentam tirar uma lição. Até mudanças nos currículos começam a ser cogitadas para preparar os futuros profissionais, segundo o "Boston Globe". Para William Eid Junior, da FGV, deve haver mudança na cultura de bônus, cujos valores astronômicos têm sido combatidos em negociações no Congresso dos EUA sobre o pacote de US$ 700 bilhões. "Os bônus milionários devem acabar." No Brasil, diz Junior, o currículo não deve sofrer alterações porque uma das grandes lições a tirar desta crise é a governança, que já tinha força na pauta de escolas brasileiras. "Nós já discutíamos muito a governança porque o nosso Novo Mercado é recente." Deve ser criada uma nova relação entre acionistas e administradores, sem expectativa de bônus espetaculares, afirma Junior.


com JOANA CUNHA e VERENA FORNETTI


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