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Base governista se revolta, e pacote cai
228 deputados votam "não" ao pacote, 95 democratas e 133 republicanos; Fed dobra para US$ 620 bi dinheiro para BCs
Bush se diz "frustrado", e
democratas e republicanos
culpam uns aos outros;
expectativa é que plano seja discutido amanhã no Senado
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"Não."
Por 228 votos com essa opção, ante 205 que votaram
"sim" e um que não votou, a Câmara dos Representantes (deputados) dos EUA rejeitou pacote proposto pelo governo
Bush que prevê a maior operação-resgate do mercado financeiro da história do país, com
socorro de até US$ 700 bilhões.
A decisão jogou mercados do
mundo inteiro para baixo, num
dia dramático, em que as Bolsas
caíam a cada "não" que era
computado no Capitólio.
O índice industrial Dow Jones teve a pior queda em pontos de sua história em um dia,
com perda de 777,68 pontos. O
Federal Reserve, o BC dos EUA,
anunciou que estava dobrando
o volume de dinheiro disponível para nove BCs -de Europa,
Austrália, Canadá e Japão- para US$ 620 bilhões e triplicando o destinado a empréstimos
de curto prazo para instituições
financeiras, para US$ 225 bilhões, numa tentativa de destravar o mercado de crédito.
A rejeição partiu principalmente da base governista, o que
surpreendeu o republicano
George W. Bush, que se disse
"desapontado". Sua equipe
econômica defende que o pacote é necessário para livrar o país
de uma recessão profunda e havia cedido a exigências de ambos os lados, que levaram uma
proposta original de 2,5 páginas que previa poderes irrestritos ao secretário do Tesouro
crescer para uma medida de
100 páginas com várias salvaguardas e itens como limitação
de ganhos de executivos.
Surpresos também ficaram
os líderes do Partido Democrata, maioria no Congresso, que
haviam anunciado no fim da
tarde de domingo que chegaram a um acordo quanto ao plano. Dos 435 votos da Câmara,
140 democratas e 65 republicanos votaram a favor do plano,
ante respectivamente 95 e 133
que votaram contra. Eram necessários 218 para a aprovação.
A resistência veio de um paradoxo. Republicanos conservadores temiam que o voto a favor da maior intervenção governamental da história dos
EUA os deixaria mal com seus
eleitores -uma nova Câmara e
um terço do Senado são escolhidos no dia 4 de novembro.
Já democratas progressistas
receavam alienar seus eleitores
ao autorizar o que muitos analistas chamam de um pacote
que só beneficia a Wall Street.
"O governo passou meses dizendo que os fundamentos da
economia estavam sólidos e de
repente apareceu com um pacote que pede 5% do PIB em dinheiro, a ser entregue num saco marrom, em notas pequenas", disse à Folha Simon
Johnson, ex-economista-chefe
do FMI, hoje no MIT. "Os políticos se revoltaram com isso."
Até a conclusão desta edição,
ainda não estava claro quando
a medida voltaria a votação e se
seria a mesma ou sofreria modificações. Lideranças falavam
em discussões amanhã, no Senado, e nova tentativa na quinta, na Câmara, que entrou em
recesso pelo Ano Novo judaico.
Se aprovada na Câmara, tem
ainda de passar pelo Senado.
Tão logo o resultado se revelou, democratas e republicanos
passaram a culpar uns aos outros. Ao final do dia, no entanto, parecia haver novo consenso entre as lideranças de que
era preciso voltar a votar o
quanto antes.
"Estou desapontado com a
votação do plano de resgate
econômico no Congresso", disse Bush. "Fizemos um plano
que era grande porque nós temos um problema grande. Vou
falar com minha equipe econômica e trabalhar com líderes do
Congresso para ir adiante. Nossa estratégia continua sendo lidar com essa situação econômica. E vamos trabalhar para
desenvolver uma estratégia
que nos permita ir adiante."
Na seqüência, o secretário do
Tesouro, Henry Paulson, disse
que os instrumentos à disposição do governo "eram significativamente insuficientes" e repetiu várias vezes que era preciso "fazer algo" e "rápido".
Mesmo tom adotou a presidente do Congresso, Nancy Pelosi.
"A medida fracassou, mas a crise não passou", disse. "Temos
de continuar a trabalhar de forma bipartidária."
Os dois candidatos à sucessão de Bush também se manifestaram. O democrata Barack
Obama disse que era importante "que o público americano e
os mercados mantenham a calma" e que uma de suas mensagens para o Congresso era: "Resolvam isso, democratas e republicanos". Já a campanha do
republicano John McCain, que
havia passada a manhã reivindicando a autoria do acordo do
pacote de domingo para seu
candidato, foi obrigada a recuar
depois do fracasso da votação.
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