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Rejeição ao projeto de socorro mostra que disciplina partidária é coisa do passado
FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"
A Câmara dos Deputados votou o pacote de resgate e o rejeitou, para surpresa de todos.
Disciplina partidária é coisa
do passado. O projeto de lei
contava com o apoio de Barack
Obama e de John McCain, os
candidatos que, juntos, contam
com o apoio de praticamente
todos os deputados.
Mas a maioria da Câmara
acompanhou Bob Barr, o político libertário que declarou que
"precisamos fazer com que
Wall Street pague o preço de
suas decisões de investimento
irresponsáveis", e Ralph Nader,
o candidato independente à
Presidência que descreveu o
pacote como "resgate aos picaretas de Wall Street".
Eu havia presumido que a liderança da Câmara seria capaz
de garantir que membros suficientes de ambos os partidos
votassem pelo plano, ainda que
segurando o nariz, para garantir aprovação, mesmo que por
margem mínima. Mas o que temos aqui é uma rejeição ao que
Nader descreveu como "os dois
candidatos empresariais".
O setor bancário está em dificuldades com ou sem o pacote.
Os esforços que vêm empreendendo para alterar as regras
contábeis para esconder seus
problemas são repugnantes. O
projeto de lei derrotado teria
autorizado a Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que fiscaliza o regulamenta
o mercado) a suspender a regra
de contabilizar papéis por seu
valor de mercado, responsável
por forçar os bancos a admitir
que tinham realizado apostas
temerárias, e perdido. A SEC já
havia cedido a pressões políticas e proibido a venda a descoberto de ações de companhias
financeiras, de modo que é possível que viesse a ceder também
quanto às regras contábeis.
"A verdade é a primeira baixa" é o antigo chavão para descrever o jornalismo de guerra.
Também poderia se aplicar ao
jornalismo financeiro na crise.
Os economistas nos dizem
que mercados nos quais vendas
a descoberto são proibidas provavelmente exibirão menos eficiência e maior tendência a supervalorizar preços. Ou seja,
estamos oferecendo aos investidores ações de empresas cujo
valor de mercado está sendo
superestimado e que vêm fazendo tudo que podem para esconder o baixo valor atual de
seus ativos. Por algum motivo,
poucos deles desejam comprar.
Ontem, o republicano Newt
Gingrich defendeu a suspensão
da regra de contabilização de
investimentos pelo valor de
mercado, alegando que as cotações de mercado estão baixas.
Para sustentar a alegação,
apontou o fato de que tanto o
secretário do Tesouro como o
presidente do Fed acreditam
que os preços estão menores do
que deveriam. Deram o argumento para justificar que o governo adquira ativos dúbios por
preços acima do mercado, que
poderia dar lucro no futuro.
Você imaginava que um dia
ouviria um dos mais conhecidos políticos conservadores do
país afirmar que funcionários
do governo julgam valor melhor do que os mercados?
Na ausência do pacote de resgate, o governo enfrenta os problemas dos bancos fracos um a
um, organizando tomadas de
controle quando possível. Nas
aquisições do Washington Mutual e do Wachovia, os depositantes se saíram bem, e os acionistas sofreram. Isso desencoraja uma corrida aos bancos pelos depositantes, o que é bom,
mas encoraja o que podemos
chamar de "corridas às Bolsas"
pelos acionistas de qualquer
banco cuja situação possa se assemelhar à daqueles.
Henry Paulson, o secretário
do Tesouro, tentou estruturar o
resgate como uma aquisição de
ativos, de modo a impedir que
bancos recipientes dos fundos
saíssem maculados. Mas a decisão de forçar esses bancos a ceder ações pode ter derrubado
essa idéia, e as mudanças que o
pacote sofrerá talvez venham a
torná-lo mais punitivo. Isso talvez seja bom pela justiça, mas
não para conter a crise.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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