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Peso das commodities afeta mais Bovespa
Forte concentração em papéis de empresas ligadas a produtos com perspectiva de queda de preços prejudica Bolsa brasileira na crise
Facilidade de entrada e
saída de estrangeiros
também torna Bovespa
mais instável; em dólares,
queda é de 34,7% no ano
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das Bolsas de melhor
desempenho no ano passado,
época de euforia com os mercados emergentes, a Bovespa está
agora entre as que reportam as
maiores perdas no mundo. Ontem, a baixa foi de 9,36% -após
acionar o "circuit break" e cair
quase 14%. O recuo só não foi
maior que o de Dublin (-13%).
Entre os motivos apontados
para o desempenho ruim neste
ano, estão os mesmos que explicaram a euforia no ano passado: forte concentração do
Ibovespa em ações ligadas a
commodities -Vale, Petrobras
e siderúrgicas- e alta liquidez
do mercado brasileiro, que torna mais fácil a entrada e a saída
dos investidores estrangeiros.
Em dólares, o Ibovespa já soma perdas de 34,72% em 2008,
bastante acima dos 21,86% do
índice Dow Jones e de 24,65%
do S&P 500, ambos da Bolsa de
Nova York. Até a Bolsa do México mantém desempenho melhor (-19,76%).
A situação da Bovespa só não
é pior que a de alguns emergentes asiáticos, que também lideraram a euforia em 2007. Em
Xangai, a Bolsa já recua 53,53%,
e, em Ho Chi Min, no Vietnã, a
baixa é de 50,15%.
"Há um peso forte de empresas relacionadas a commodities, como Petrobras e Vale.
Neste momento, com a perspectiva de deterioração desses
preços, essas empresas sentem.
Algumas empresas do setor de
construção que fizeram grandes IPOs [abertura de capital]
no ano passado também acabam tendo perspectiva menor.
E, num momento de depreciação tão intensa e rápida do
câmbio, há uma tendência de
saída de investidores estrangeiros que aprofunda mais a queda. Juntando tudo isso, temos a
queda que estamos vendo", disse Sergio Rodrigo Vale, economista-chefe da MB Associados.
"A Bovespa está hoje onde alguns economistas e consultores sempre quiseram que ela
estivesse: integrada ao mercado financeiro internacional, em
um mundo de quase inexistência de controles de capitais, que
entram e saem quando querem.
Mas a Bovespa é nanica perto
dos grandes mercados de ações
do mundo. Quando os capitais
se retraem, a Bolsa de Nova
York cai e a Bovespa desaba,
por causa do seu pequeno tamanho", disse o professor Fernando Cardim, da UFRJ.
Para José Francisco de Lima
Gonçalves, economista-chefe
do banco Fator, houve uma
mudança importante no mercado brasileiro em relação ao
contágio visto nas crises anteriores, como a da Ásia, a da Rússia e a da Argentina, quando o
pessimismo aqui era sempre
maior por conta de uma aversão ao risco brasileiro.
"Não acho que o risco e a liquidez afetem hoje mais o Brasil. Todo mundo é afetado. E a
Bolsa cai mais aqui porque é
muito concentrada em Vale,
Petrobras e nas siderúrgicas.
Outro emergentes têm mais alternativas. A Bovespa foi uma
das Bolsas que mais rápido voltaram à nova realidade."
Delano Marques, economista do Banco Real, lembra que o
estrangeiro voltou para a Bovespa em agosto do ano passado, em meio à crise das hipotecas, exatamente por essa facilidade de saída. "Nessas horas de
grandes perdas, ele começa a
fazer dinheiro onde pode. No
nosso mercado, você entra e sai
com facilidade. É diferente de
outros emergentes, que não
têm essa facilidade toda."
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