São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Peso das commodities afeta mais Bovespa

Forte concentração em papéis de empresas ligadas a produtos com perspectiva de queda de preços prejudica Bolsa brasileira na crise

Facilidade de entrada e saída de estrangeiros também torna Bovespa mais instável; em dólares, queda é de 34,7% no ano


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das Bolsas de melhor desempenho no ano passado, época de euforia com os mercados emergentes, a Bovespa está agora entre as que reportam as maiores perdas no mundo. Ontem, a baixa foi de 9,36% -após acionar o "circuit break" e cair quase 14%. O recuo só não foi maior que o de Dublin (-13%).
Entre os motivos apontados para o desempenho ruim neste ano, estão os mesmos que explicaram a euforia no ano passado: forte concentração do Ibovespa em ações ligadas a commodities -Vale, Petrobras e siderúrgicas- e alta liquidez do mercado brasileiro, que torna mais fácil a entrada e a saída dos investidores estrangeiros.
Em dólares, o Ibovespa já soma perdas de 34,72% em 2008, bastante acima dos 21,86% do índice Dow Jones e de 24,65% do S&P 500, ambos da Bolsa de Nova York. Até a Bolsa do México mantém desempenho melhor (-19,76%).
A situação da Bovespa só não é pior que a de alguns emergentes asiáticos, que também lideraram a euforia em 2007. Em Xangai, a Bolsa já recua 53,53%, e, em Ho Chi Min, no Vietnã, a baixa é de 50,15%.
"Há um peso forte de empresas relacionadas a commodities, como Petrobras e Vale. Neste momento, com a perspectiva de deterioração desses preços, essas empresas sentem. Algumas empresas do setor de construção que fizeram grandes IPOs [abertura de capital] no ano passado também acabam tendo perspectiva menor. E, num momento de depreciação tão intensa e rápida do câmbio, há uma tendência de saída de investidores estrangeiros que aprofunda mais a queda. Juntando tudo isso, temos a queda que estamos vendo", disse Sergio Rodrigo Vale, economista-chefe da MB Associados.
"A Bovespa está hoje onde alguns economistas e consultores sempre quiseram que ela estivesse: integrada ao mercado financeiro internacional, em um mundo de quase inexistência de controles de capitais, que entram e saem quando querem. Mas a Bovespa é nanica perto dos grandes mercados de ações do mundo. Quando os capitais se retraem, a Bolsa de Nova York cai e a Bovespa desaba, por causa do seu pequeno tamanho", disse o professor Fernando Cardim, da UFRJ.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, houve uma mudança importante no mercado brasileiro em relação ao contágio visto nas crises anteriores, como a da Ásia, a da Rússia e a da Argentina, quando o pessimismo aqui era sempre maior por conta de uma aversão ao risco brasileiro.
"Não acho que o risco e a liquidez afetem hoje mais o Brasil. Todo mundo é afetado. E a Bolsa cai mais aqui porque é muito concentrada em Vale, Petrobras e nas siderúrgicas. Outro emergentes têm mais alternativas. A Bovespa foi uma das Bolsas que mais rápido voltaram à nova realidade."
Delano Marques, economista do Banco Real, lembra que o estrangeiro voltou para a Bovespa em agosto do ano passado, em meio à crise das hipotecas, exatamente por essa facilidade de saída. "Nessas horas de grandes perdas, ele começa a fazer dinheiro onde pode. No nosso mercado, você entra e sai com facilidade. É diferente de outros emergentes, que não têm essa facilidade toda."


Texto Anterior: Dólar encosta em R$ 2, após alta de 6,2%
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.