São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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Governo vai jogar mais dinheiro na economia

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O governo federal está estudando, com toda a urgência, a adoção de novas medidas para aumentar a liquidez no mercado, de forma a se antecipar à possibilidade de que a secura global de crédito provoque dificuldades para as exportações brasileiras, 50% das quais são financiadas. Na semana passada, o Banco Central já mexera nos compulsórios para liberar recursos para créditos.
A decisão de agir preventivamente foi tomada ontem durante a reunião de uma espécie de gabinete de emergência, formado pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, e por um representante do Ministério da Agricultura, já que o titular, Reinhold Stephanes, está viajando.
A reunião foi antes de a Câmara de Representantes dos Estados Unidos rejeitar o pacote de socorro aos mercados, o que desatou pânico nas Bolsas do mundo todo e também nos mercados cambiais. Mesmo assim, o encontro, chefiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, serviu para demonstrar que, embora a situação da economia brasileira esteja "bastante normal", segundo Mantega, já há razões para preocupações mais intensas.
A maior delas está justamente no desempenho das exportações. Primeiro, a falta de liquidez no mercado internacional já elevou o custo dos financiamentos para empresas brasileiras. Segundo, como a metade exata das exportações depende de financiamentos, o risco de que a iliquidez persista e até aumente, levou o presidente a pedir a seus ministros que ajam preventivamente. "Não podemos correr atrás do prejuízo", chegou a dizer Lula.
Ainda mais que, na avaliação do MDIC, as exportações estão aumentando apenas por causa da elevação dos preços, porque a quantidade varia muito pouco. "Se a quantidade não está subindo, passa a ser problema", ouviu a Folha de técnicos do MDIC. Segundo eventual problema mencionado na reunião: como a China depende bastante do mercado norte-americano para suas exportações, a desaceleração nos Estados Unidos fará com que os chineses busquem agressivamente outros mercados, o que pode deslocar a produção brasileira.
Os ministros Miguel Jorge e Guido Mantega relataram ao presidente, conforme a Folha apurou, que, até agora, o monitoramento que vêm fazendo das empresas não indica problemas sérios de liquidez.
Os dois casos já registrados e noticiados (Sadia e Aracruz) são considerados pontuais.
Já o Ministério da Agricultura relatou outro tipo de dificuldade: como são meia dúzia de grandes "tradings" as grandes agentes do setor, não há problemas de financiamento, mas já há uma retração por conta da queda de preços de algumas commodities agrícolas.
O presidente do Banco Central, por sua vez, falou da "preocupação" com o fato de que a crise atravessou o oceano e bateu forte na Europa, com a desconfiança em entidades bancárias e financeiras que forçou intervenções em instituições do Reino Unido, Bélgica/Holanda/Luxemburgo, Alemanha e até da Islândia.
Ao término da reunião, formou-se uma espécie de Grupo de Trabalho informal composto pelos ministérios representados ontem (mais, obviamente, o Banco Central) para apresentar "o mais rapidamente possível" uma lista de medidas para o presidente. É claro que o agravamento da crise externa, imediatamente após o encerramento da reunião no Planalto, tende a fazer com que a pressa seja ainda maior.


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