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Governo vai jogar mais dinheiro na economia
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo federal está estudando, com toda a urgência, a
adoção de novas medidas para
aumentar a liquidez no mercado, de forma a se antecipar à
possibilidade de que a secura
global de crédito provoque dificuldades para as exportações
brasileiras, 50% das quais são
financiadas. Na semana passada, o Banco Central já mexera
nos compulsórios para liberar
recursos para créditos.
A decisão de agir preventivamente foi tomada ontem durante a reunião de uma espécie
de gabinete de emergência, formado pelos ministros Guido
Mantega (Fazenda) e Miguel
Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior),
pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, e por um representante do Ministério da Agricultura, já que o titular, Reinhold Stephanes, está viajando.
A reunião foi antes de a Câmara de Representantes dos
Estados Unidos rejeitar o pacote de socorro aos mercados, o
que desatou pânico nas Bolsas
do mundo todo e também nos
mercados cambiais. Mesmo assim, o encontro, chefiado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, serviu para demonstrar
que, embora a situação da economia brasileira esteja "bastante normal", segundo Mantega, já há razões para preocupações mais intensas.
A maior delas está justamente no desempenho das exportações. Primeiro, a falta de liquidez no mercado internacional
já elevou o custo dos financiamentos para empresas brasileiras. Segundo, como a metade
exata das exportações depende
de financiamentos, o risco de
que a iliquidez persista e até aumente, levou o presidente a pedir a seus ministros que ajam
preventivamente. "Não podemos correr atrás do prejuízo",
chegou a dizer Lula.
Ainda mais que, na avaliação
do MDIC, as exportações estão
aumentando apenas por causa
da elevação dos preços, porque
a quantidade varia muito pouco. "Se a quantidade não está
subindo, passa a ser problema",
ouviu a Folha de técnicos do
MDIC. Segundo eventual problema mencionado na reunião:
como a China depende bastante do mercado norte-americano para suas exportações, a desaceleração nos Estados Unidos fará com que os chineses
busquem agressivamente outros mercados, o que pode deslocar a produção brasileira.
Os ministros Miguel Jorge e
Guido Mantega relataram ao
presidente, conforme a Folha
apurou, que, até agora, o monitoramento que vêm fazendo
das empresas não indica problemas sérios de liquidez.
Os dois casos já registrados e
noticiados (Sadia e Aracruz)
são considerados pontuais.
Já o Ministério da Agricultura relatou outro tipo de dificuldade: como são meia dúzia de
grandes "tradings" as grandes
agentes do setor, não há problemas de financiamento, mas
já há uma retração por conta da
queda de preços de algumas
commodities agrícolas.
O presidente do Banco Central, por sua vez, falou da "preocupação" com o fato de que a
crise atravessou o oceano e bateu forte na Europa, com a desconfiança em entidades bancárias e financeiras que forçou
intervenções em instituições
do Reino Unido, Bélgica/Holanda/Luxemburgo, Alemanha
e até da Islândia.
Ao término da reunião, formou-se uma espécie de Grupo
de Trabalho informal composto pelos ministérios representados ontem (mais, obviamente, o Banco Central) para apresentar "o mais rapidamente
possível" uma lista de medidas
para o presidente. É claro que o
agravamento da crise externa,
imediatamente após o encerramento da reunião no Planalto,
tende a fazer com que a pressa
seja ainda maior.
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