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Queda nas Bolsas, foguetório em Brasília
ALOYSIO BIONDI
No Palácio do Planalto, festeja-se a queda nas Bolsas e soltam-se foguetes diante da crise
financeira internacional. Claro,
óbvio. Com o terremoto mundial, o governo FHC vai encontrar uma desculpa para o caos
em que a economia brasileira
mergulhou, por arte e engenho
da equipe econômica.
Na realidade, há três anos o
Brasil vem enfrentando a destruição de sua indústria, o desemprego galopante, o avanço
do "rombo" da balança comercial, a perda de poder aquisitivo
da população (repetindo: os
10% mais pobres da Grande São
Paulo perderam 15% do seu poder aquisitivo no primeiro semestre deste ano). Vale dizer: a
economia brasileira já estava
no fundo do poço antes mesmo
da crise internacional. Mas essa
crise vai servir de álibi para o
governo FHC, apesar das provas
em contrário que surgem todos
os dias.
Samsung - Anunciou, conforme esta Folha, o adiamento de
investimentos em sua fábrica de
aparelhos da linha branca (geladeiras etc.) no interior de São
Paulo. Motivo (exatamente o
previsto há meses por esta coluna): superdimensionamento do
mercado brasileiro pelas multinacionais (na verdade, superdimensionamento de todo o mercado mundial). Consequência:
não haverá a entrada de dólares prevista, nesse e em outros
casos.
Automóveis - A mesma Samsung anuncia que não pretende
produzir carros no Brasil porque, prevê, haverá superprodução e desabamento de preços já
em 1998 (quando esta coluna
fez essa previsão, há meses, um
porta-voz da Anfavea disparou
foguetes contra a análise "catastrofista"...) Consequência: a
redução no ritmo de investimentos das demais montadoras
já deve estar decidida, na surdina. Menos ingresso de dólares.
Desemprego - A equipe econômica e formadores de opinião insistem na tecla de que o
desemprego avança apenas em
São Paulo e que há expansão do
mercado de trabalho em outros
Estados, com reportagens especiais em revistas nacionais e,
claro, nos jornais da TV e tudo.
Na segunda-feira, o IBGE, do
governo FHC, divulgou os dados estatísticos sobre o desemprego industrial em agosto (obviamente, escondidos pelos
meios de comunicação). Resultado: queda em todas as regiões, respectivamente de 0,4%
no Nordeste; 0,9% em Minas
Gerais; 1,4% no Rio de Janeiro e
1,5% na região Sul. Pois é.
Agricultura - 1
Em entrevista na quarta-feira, dia 22, o ministro da Agricultura, Arlindo Porto, divulgou os resultados da primeira
pesquisa sobre as "intenções de
plantio", por parte dos produtores, para a safra 1997/98, isto
é, as colheitas do próximo ano.
Resultado? Vai haver redução
na área plantada. Por quê? Falta de crédito para o produtor.
Ou falta de preços compensadores, na colheita deste ano,
porque o governo FHC, desde
1995, não compra mais a colheita dos produtores, com base
no preço mínimo. Deixa o produtor na mãos dos atravessadores. Deixa quebrar, a pretexto de forçar a "modernização"
do setor -exatamente como
fez com a indústria.
Agricultura - 2
As colheitas do próximo ano
são decisivas para o país por
vários motivos: a exportação de
"excedentes" representaria
mais dólares e redução do
"rombo" da balança comercial;
a eventual necessidade de importações aumentará o "rombo"; a criação de renda e empregos no interior daria uma
injeção de ânimo na economia.
Apesar disso tudo, a entrevista do ministro não ganhou absolutamente nenhuma atenção
da imprensa -que continua a
dar mais espaço a atividades
charmosas (modernidade?) como "franchising" do que à
agricultura, que envolve milhões de famílias e é uma das
bases da economia. Ah, sim:
bem de acordo com o estilo raffiné, da equipe FHC, o ministro
Arlindo Porto, dito-da-Agricultura, não ficou nem um pouco
preocupado com a perspectiva
de safras menores. Ele disse,
com otimismo, que mesmo assim a renda da agricultura pode crescer. Por quê? Porque com
a colheita menor, sobretudo de
milho, os preços vão subir e o
produtor vai receber mais (e o
consumidor?). Junto com o milho, sobem os preços das rações,
boi, porco e frango. Mais uma
vitória da equipe FHC.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha. É diretor-geral do grupo Visão. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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