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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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TRABALHO

Paralisação atinge 8 fábricas

Greve pára 27 mil nas montadoras paulistas

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A greve nas montadoras, que teve ontem a adesão de 27,2 mil trabalhadores em oito fábricas de veículos no Estado de São Paulo, segundo informaram os sindicatos dos metalúrgicos, vai favorecer as empresas a diminuírem estoques em alta e, se tiver longa duração, pode ter impacto na exportação. A avaliação é de especialistas do setor e empresários.
A Folha apurou que algumas empresas têm, em seus pátios, estoques para mais de 45 dias.
"O mercado interno está abastecido até o final do ano. Se a greve se estender por período superior a 15 dias pode trazer prejuízos à exportação, não para as vendas internas. As revendedoras têm estoque garantido", diz Vitor Meizikas Filho, da área de avaliação de veículos da Molicar.
A opinião de Richard Dubois, consultor da Trevisan, é a mesma: "As montadoras têm estoque suficiente para "bancar" essa greve". Ele acredita que, como o desfecho da paralisação deve ser rápido, os fabricantes de veículos vão "aproveitar o momento para desovar os seus estoques".
As vendas de setembro -que registraram aumento de 24% em relação a agosto- e a redução de 3 pontos percentuais do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), dizem os especialistas, não foram suficientes para diminuir significativamente os estoques, por isso a paralisação favorece as empresas.
Ademar Cantero, diretor da Anfavea (associação que reúne os fabricantes de veículos), diz que o setor ainda está avaliando o impacto da paralisação dos metalúrgicos na região do ABC e em algumas fábricas do interior. "Mas a situação no setor, de qualquer forma, não é boa. Os investimentos estão estagnados há seis anos, e a capacidade ociosa média registrada no setor é de 45%." Esses motivos, associados às vendas fracas no ano, apesar do resultado positivo no mês passado, impedem a concessão de aumento.
Os metalúrgicos pararam desde anteontem parte das fábricas em protesto à proposta salarial das montadoras de conceder reajuste de 15,7% -reposição da inflação pelo INPC de outubro de 2002 a setembro deste ano- para quem ganha até R$ 4.200. Acima dessa faixa salarial, haveria reajuste único de R$ 659,40. A proposta previa ainda a antecipação da data-base (novembro) para outubro em 2003 e para setembro em 2004 e o aumento de 19,34% no piso salarial (passaria para R$ 750).
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, três pontos emperram o acordo com o setor patronal: "o teto salarial, o reajuste referente ao mês de outubro pago em forma de abono apenas em janeiro e o fato de os metalúrgicos estarem há três anos sem aumento real de salário".
Na Volks de São Bernardo, a adesão à greve foi total, diz Feijóo. Os 14.800 funcionários de setores produtivos e administrativos não trabalharam ontem -950 veículos deixaram de ser produzidos na fábrica. A empresa confirmou que a fábrica parou. Na Volks de São Carlos, segundo o sindicato da região, 530 operários também entraram em greve ontem à tarde.
Na Ford do ABC, 2.800 horistas e parte dos 690 funcionários administrativos aderiram à paralisação, segundo a empresa, o que impediu a fabricação de 500 veículos. Na Mercedes-Benz, a estratégia foi parar o setor de motores, onde trabalham 1.500. Cerca de 3.000 operários da GM de São José dos Campos também pararam ontem. Na GM de São Caetano, os 6.500 empregados rejeitaram a proposta do setor e param hoje.


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