São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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ATA DA DISCÓRDIA

Para presidente, nota da Petrobras mostra oposição à política de juro

Lula desaprova rixa pública, mas gosta de bronca no BC

KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desaprovou o ataque da Petrobras anteontem ao Copom, mas, na intimidade, demonstrou satisfação com o "safanão político" que a estatal deu no Comitê de Política Monetária. Ele está preocupado que uma forte elevação da taxa de juros, como sinalizou o Copom, interrompa a retomada do crescimento econômico.
Para Lula, o lado ruim da polêmica é a exposição pública de divergências no governo a respeito da política econômica de modo geral e da taxa de juros em particular. O Copom é o órgão do BC (Banco Central) que se reúne mensalmente para fixar a taxa básica de juros da economia, a Selic, hoje em 16,75% ao ano.
O lado que levou Lula a demonstrar satisfação em conversas reservadas foi fazer o Copom sentir que setores fortes do governo não estão satisfeitos com o que consideram excesso de ortodoxia do BC na fixação dos juros.
Apesar de apoiar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e de dar sinais de que confia nele, o presidente tem reservas em relação ao Copom. Na própria equipe de Palocci há aqueles que também discordam de um suposto exagerado do BC na fixação dos juros e na perseguição à meta de inflação.
Palocci, porém, prefere tratar dessa divergência em absoluto sigilo, porque as considera naturais e porque não deseja minar a credibilidade da política econômica. Lula o apóia nesse sentido, mas demonstrou insatisfação com a ata do Copom por avaliar que ela atemoriza os investidores e sinaliza que o crescimento previsto para 2005, da ordem de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto), pode não ser atingido.
Membros do governo que apóiam Palocci nas disputas internas com um grupo mais afinado com as idéias do ministro José Dirceu (Casa Civil) também demonstraram satisfação com a nota da Petrobras. A nota foi uma reação à ata do Copom a respeito da reunião da semana passada, quando elevou os juros em 0,5 ponto percentual e contrariou Lula. A ata do órgão do BC criticou a política de reajuste de preços dos combustíveis da Petrobras.
A nota refletiu uma disputa entre os grupos de Palocci e de Dirceu. Palocci queria um reajuste maior da gasolina do que o concedido há duas semanas (4% nas refinarias da estatal) e deseja que um novo aumento ocorra o mais breve possível. Já o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, que se alia a Dirceu, atua por um reajuste a conta-gotas.
Para o grupo de Palocci, a prioridade é a saúde financeira e a lucratividade da Petrobras. Isso reforçaria a credibilidade da política econômica. Já a ala liderada por Dirceu gostaria que a estatal fosse usada como um instrumento de política econômica e também como arma política, segurando preços na temporada eleitoral.


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