São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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Telemar marca assembléia para tentar fundir ações

Investidores descobriram que são acionistas da empresa ao receber convocação

Fundos de investimento americanos opõem-se à troca de papéis PN por única ação ON; Anatel ainda não aprovou a substituição

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Muita gente tem recebido comunicado da Telemar, sendo convocado para a assembléia de acionistas que decidirá a reestruturação societária da tele, sem nem mesmo saber que detém papéis da empresa.
Quem foi pego de surpresa provavelmente "herdou" as ações de planos de expansão de telefonia que comprou entre as décadas de 60 e 90. Com a privatização e repartição da Telebrás em diferentes companhias, em 1998, houve investidores que passaram a ser detentores de papéis da empresa e nunca se atentaram ao fato.
A Telemar enviou nas últimas semanas cartas a cerca de 750 mil pequenos acionistas convocando-os para votarem na assembléia que acontecerá no dia 13 de novembro.
No evento, será decidida a reorganização societária. A idéia é que os cinco papéis do grupo que circulam na Bolsa de Valores de São Paulo sejam fundidos em um só, que levaria o nome de Oi Participações. Essa ação seria ON (ordinária) e teria o objetivo de ser negociada no Novo Mercado da Bolsa.
O Novo Mercado é um segmento especial da Bovespa onde apenas ações ON de empresas comprometidas com práticas de boa governança corporativa podem ser negociadas. Para participar, as companhias têm de passar a cumprir exigências que as tornem mais transparentes, em especial para os pequenos acionistas.
A Folha teve acesso a um desses comunicados enviados aos pequenos acionistas. Há dois modelos para que o acionista nomeie procuradores, que foram apontados pela empresa, para que votem, favoravelmente ou não, em seu nome.
"Fizemos um grande esforço para contatar todos os tipos de investidores e mostrar a responsabilidade do seu voto", afirma José Luís Salazar, diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Telemar.
"Para o pequeno acionista que não pode vir ao Rio para a assembléia, demos a possibilidade de votar por meio dos procuradores", diz.
Para que haja a reorganização societária da empresa será necessário que 50% dos acionistas dêem voto favorável ao processo. Do contrário, poderá haver mais duas assembléias
Se na segunda também não houver votos favoráveis suficientes, na terceira serão necessários apenas 25% dos votos para aprovar o processo.

Divergências
No mercado, há analistas que defendem o processo e outros que vêem pontos negativos.
Para os defensores, a empresa resultante da reestruturação societária proposta será muito mais forte. Para os que desaprovam, a relação de troca oferecida pela empresa não é justa.
No entendimento de alguns analistas, a relação de troca entre as ações ON (ordinária) e PN (preferencial) não é muito vantajosa: cada papel ON equivalerá a 2,6 ações PN.
"Entendo que como um todo a proposta seja positiva. A nova empresa, reestruturada, nasceria fortalecida. E uma companhia mais forte sempre é algo que seus acionistas desejam", avalia Luiz Antonio das Neves, diretor da corretora Planner.
Na assembléia, votarão apenas detentores de ações preferenciais, que respondem no pregão da Bovespa ao código TNLP4.
Salazar afirma que é impossível prever o número de acionistas que irão votar e o resultado da assembléia: "Além dos comunicados enviados aos pequenos acionistas, fizemos cerca de 160 reuniões e encontros com grandes investidores para expor a operação. Mas não podemos prever o resultado. São muitos acionistas e nunca vimos uma operação desse porte no país", afirma.
E mesmo com os avisos enviados pela companhia, muita gente não foi encontrada ou simplesmente vai ignorar o processo, avaliam analistas.
Nos EUA, já surgiram alguns fundos de investimento, que têm pesadas aplicações em ações da Telemar, que demonstraram ser desfavoráveis à operação. Juntos, eles deteriam cerca de 15% das ações PN da empresa, segundo o mercado.
A Telemar já obteve o registro de Oi Participações na Sec (Securities and Exchange Commision, o órgão que regulamenta o mercado de capitais nos EUA), para que os papéis possam ser negociados no mercado americano.
Ainda falta a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aprovar a operação o que, espera-se, ocorrerá antes do dia da assembléia.


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