São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2007

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Fabricantes de veículos reduzem férias coletivas

Com a previsão de vendas recordes no ano, montadoras apontam estoques baixos

Volkswagen anuncia alta de 35% nos investimentos para o período até 2011; GM decide suspender férias coletivas de final de ano

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria automotiva comemorará o melhor ano de sua história com mais investimentos e férias coletivas menores.
Thomas Schmall, presidente da Volkswagen, anunciou ontem que os investimentos da montadora para o período entre 2007 e 2011 aumentaram em 35% em relação ao inicialmente planejado, atingindo os R$ 3,2 bilhões. Já as férias coletivas serão menores do que em 2006 em algumas de suas fábricas. Na General Motors, o descanso de final de ano, que chegou a duas semanas no ano passado, será completamente suspenso em algumas unidades. Na Fiat, foram feitas reuniões, durante o fim de semana, para discutir o assunto. "Os estoques estão muito baixos", diz Ray Young, presidente da GM.
Com o inesperado aumento de vendas superior a 27% em carros de passeio e comerciais leves, em 2007, a indústria está buscando ganhar produtividade em todas as áreas, antes de investir em novas fábricas. "Não cometeremos o mesmo erro de 1997 [quando as montadoras investiram no país, mas o mercado não sustentou a demanda]", afirma Young.
A Volks, no entanto, está discutindo com a matriz três possibilidades: aumento de capacidade nas fábricas existentes, parceria com alguma concorrente que tenha capacidade ociosa ou uma nova unidade.
"Esperamos atingir nosso limite de capacidade em 2009 e, por isso, trabalhamos nessas hipóteses", diz Schmall. "Se viermos a fazer uma parceria com uma concorrente, será um modelo inédito no mundo."
Em 2007, a Volks terá seu primeiro lucro no Brasil, depois de dez anos de prejuízo. No início do ano, chegou a cogitar a hipótese de fechar sua fábrica em São Bernardo do Campo.
Depois dos bons resultados de 2007, motivados sobretudo pelo aumento do crédito ao consumidor, as montadoras mantêm também perspectivas positivas para 2008. Para a maioria das fabricantes que participaram ontem do seminário da editora AutoData, o crescimento de vendas girará em torno de 15%, atingindo 2,7 milhões de carros de passeio e comerciais leves.
Já a produção aumentará em torno de 10%, superando 3 milhões de unidades. As exportações, por sua vez, cairão em todas as marcas, passando de 700 mil unidades para 650 mil.

Otimismo e gargalos
A Fiat, montadora que mais cresceu em 2007, foi a única a fazer uma previsão ainda mais otimista. Para Cledorvino Bellini, presidente da Fiat Brasil, o crescimento pode chegar a 20%, atingindo 4 milhões de carros vendidos e 4,5 milhões de carros produzidos. "Há alguns riscos, mas, se a China não parar de crescer, se o "subprime" [crise das hipotecas de alto risco nos EUA] não for tão grave e se continuar havendo acesso ao crédito, há a hipótese de chegar a 20%", diz Bellini.
Mesmo com boas perspectivas para o próximo ano, o setor automotivo se diz preocupado com a sustentabilidade do crescimento no médio e longo prazos. Gargalos estruturais do Brasil -de infra-estrutura, juros altos e até mesmo o déficit da Previdência- foram apontados como alguns dos problemas a serem resolvidos. Outras dificuldades apontadas foram a forte pressão nos aumentos das matérias-primas e mesmo a concorrência com o crescimento do mercado imobiliário, já que poderá haver custos maiores em aço, vidros e plásticos.
O real apreciado foi alvo de críticas por parte das montadoras, que tentam negociar com o governo uma solução tributária para o aumento das exportações. "As exportações são importantes porque servem de reserva para os momentos de volatilidade", afirma Letícia Costa, presidente da consultoria Booz Allen Hamilton.
Esse mesmo real valorizado poderá servir como válvula de escape das montadoras. "Caso o dólar atinja R$ 1,50, passaremos a importar mais componentes", diz Schmall. "Na verdade, já estamos aumentando gradativamente as compras de materiais variados, como aço da Ásia, plásticos e outros itens." A GM também tem pesquisado alternativas de fornecedores estrangeiros para elevar importações em caso de uma maior valorização do real.

Emergentes
Para se tornar uma região importante no mundo, enfrentando a competição com os países emergentes, as montadoras acreditam que o Brasil precisaria ter capacidade instalada entre 5 milhões e 6 milhões de carros por ano, até 2012. Hoje são 2,4 milhões. "Precisamos dobrar a capacidade e ter escala, se quisermos enfrentar o risco dos importados e a competição lá fora", diz Bellini.


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