|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agrofolha
Cafeicultores mineiros devem R$ 2,2 bi
Estudo de consultoria mostra o perfil de endividamento e a capacidade de pagamento dos produtores de Minas Gerais
Para assessor do Conselho
Nacional do Café, números
do estudo revelam que
o governo precisa
tomar providências
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O atual endividamento da cafeicultura mineira é de R$ 2,2
bilhões. Desse total, R$ 1,3 bilhão é de responsabilidade direta dos produtores, enquanto
R$ 894 milhões passam pelas
cooperativas, dívidas que acabam sendo, em parte, também
de produtores.
Da dívida de R$ 1,3 bilhão dos
produtores, a maior parte -R$
837 milhões- foi contraída
com o Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira). Já as
dívidas das cooperativas com o
sistema bancário, anteriores a
2002, somam R$ 134,5 milhões. Em 2007, atingiram R$
687 milhões. As dívidas fora do
sistema bancário -fornecedores de insumos e CPR- atingem R$ 73 milhões.
Os dados são de estudo da
consultoria Agroconsult, encomendado pelo CNC (Conselho
Nacional do Café) e pelo Ministério da Agricultura.
Com esses dados em mãos,
que mostram o perfil de endividamento e a capacidade de pagamento do setor, os cafeicultores têm, agora, uma ferramenta para negociar intervenções governamentais no setor.
Os dados da Agroconsult, que
refletem a cafeicultura mineira, mostram que, desde a safra
2000/1, os produtores vêm
acumulando prejuízos que já
somam R$ 2,4 bilhões, segundo
André Pessoa, sócio-diretor da
consultoria. "É uma dívida de
deficiência de renda", diz ele,
que não descarta algum problema de má gestão, mas insignificante nesse contexto.
"Esses números são um alerta para o governo de que alguma coisa precisa ser feita", diz
Jaime Payne, assessor técnico
do CNC. Pode ser até uma
orientação para a redução de
produção ou busca de novas alternativas para os produtores.
Em ambos os casos, no entanto, a saída é difícil, adianta
Payne. Os investimentos no café são de longo prazo e o retorno só vem depois de três anos.
Uma redução de produção implicaria dar menos trato ao pé
de café, mas a recuperação de
produtividade depois só viria
em dois ou três anos.
A troca da cafeicultura por
outras culturas, principalmente nas áreas geográficas impróprias para a mecanização, também não é fácil, diz Payne.
Além de novos investimentos,
porque também são culturas
perenes -como fruticultura e
madeira-, os produtores não
têm o domínio desse novo mercado.
Na avaliação do assessor do
CNC, o governo tem de participar mais da cafeicultura. Medindo as palavras, Payne diz
que "o governo deveria parar de
brigar com os países que subsidiam a agricultura e fazer o
mesmo também por aqui".
Mas, em seguida, complementa, dizendo que, na verdade, o
governo já tem outros mecanismos eficientes que podem ser
usados, como os contratos de
opções. "O que falta é atenção
para com o setor."
Em reunião realizada no
CDPC, na semana passada,
quando foram divulgados os
dados da Agroconsult, foi criado um grupo de trabalho para
apresentar propostas ao governo. Entre as propostas, seguramente virá a de maior formação de estoques. Payne diz que
não devem ser feitos estoques
de forma aleatória, "mas por
meio de opções públicas".
Segundo Payne, o Brasil,
mais uma vez, está na contramão do setor externo. Os preços externos se recuperaram e
até remunerariam os produtores, mas a valorização do real
impede essa remuneração.
Na avaliação do assessor, essa perda de rentabilidade coloca o produtor brasileiro em
desvantagem com os de países
que estão aproveitando o bom
momento do mercado externo.
São os casos de Peru e México,
onde cresce a produção de arábica, e do Vietnã, que eleva a
participação no café robusta.
Custos
Na avaliação da Agroconsult,
os cafeicultores do sul de Minas, computados todos os custos de formação da cafeicultura, vão começar a obter os primeiros resultados após investimento total de R$ 7.864 por
hectare.
Para a próxima safra, diante
da recuperação do setor, os
produtores vão conseguir cobrir os custos variáveis, mas a
renda obtida não será suficiente para pagar todos os investimentos feitos. Com isso, na renovação do cafezal, os produtores estarão descapitalizados, na
avaliação de Pessoa.
Nas estimativas da Agroconsult, os produtores mineiros
vão ter ganho na próxima safra,
mas nem todos. Os do sul do
Estado terão prejuízo de R$
533 por hectare na comparação
dos gastos variáveis com a provável renda. Já os mais mecanizados, e que têm custos menores de produção, podem obter lucros superiores R$ 3.000, como os do cerrado mineiro.
Texto Anterior: Alimentos: Kraft compra divisão de biscoitos da Danone Próximo Texto: Setor tem nova modalidade de gestão Índice
|