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BC busca estabilizar crédito, diz analista
Para economistas, autoridade monetária brasileira está mais preocupada com aperto no crédito que com a inflação
Analistas vêem pressão da
alta do dólar na inflação a
partir do início de 2009, que
pode ser contida pela
desaceleração na demanda
Sergio Lima/Folha Imagem
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Meirelles, presidente do Banco Central, em entrevista ontem
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O mercado financeiro recebeu bem a decisão do Banco
Central de manter os juros
inalterados em em 13,75%.
Guardadas as particularidades
locais, o Brasil seguiu a maioria
dos demais países do mundo
que reduz os juros e optou por
manter uma política monetária
mais aberta, deixando mais dinheiro livre na economia, dado
o atual problema de liquidez e
de restrição no crédito.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o fato de a decisão do
BC ter sido unânime tranqüiliza o mercado porque havia dúvidas sobre qual ação a ser tomada diante da recente disparada no dólar, que pressiona a
inflação. Gonçalves afirma que,
se não fosse o atual cenário, o
BC normalmente elevaria os
juros para garantir a entrada de
dinheiro no país por meio do
diferencial de taxas em relação
aos demais países.
"Houve o reconhecimento de
que o mundo mudou muito.
Você tem uma crise de crédito
que não foi resolvida, e a taxa de
câmbio mais alta é um sintoma
disso. Não adianta achar que
com juro [alto], vai reduzir a taxa de câmbio. Manter o juro
não agride a meta de inflação
em 2009. Como foi unânime é
um ótimo sinal, de que está
buscando estabilidade no mercado de crédito e que não tem
choque de juro. Tudo bem que a
taxa de câmbio está indo a um
outro rumo", disse Gonçalves.
Segundo Fernando Blanco,
presidente da seguradora de
crédito Coface, a decisão de ontem foi uma das mais fáceis do
BC no ano. "Seria uma mensagem contraditória, no momento de crise de crédito, você aumentar os juros. O BC também
não ia baixar os juros com o
câmbio nessa altura. O problema agora está nos juros finais
porque os "spreads" estão subindo forte. Preocupa-me o refinanciamento das dívidas das
empresas e das pessoas físicas.
Se isso não for cuidado, vamos
implantar uma recessão aqui."
Para Sergio Vale, economista
da MB Associados, a restrição
de crédito já faz o trabalho de
diminuir a demanda no ano
que vem, apesar da alta do dólar. "Temos uma certeza hoje
que é uma atividade muito fraca em 2009, com o PIB crescendo 2,5%. Ninguém sabe exatamente para onde o câmbio
vai, apesar de nossa aposta ser
de que ele retorne para algo
abaixo de R$ 2. Mas, se a incerteza é grande, não faria sentido
ele subir o juro agora. É melhor
esperar para colher mais informações", disse.
Vale vê impacto alto na inflação no início de 2009 por conta
da alta do dólar, fator que preocupa o BC. "A questão é saber se
perdura ou não. Acredito que a
forte desaceleração de demanda com a queda dos preços de
commodities vai ajudar a conter esse impacto. Se você trabalha com um cenário de câmbio
ao redor de R$ 2, não parece razoável supor que as commodities não importem aumento
nos preços", disse.
Para o economista-chefe da
corretora SLW, Carlos Thadeu
de Freitas Filho, a decisão terá
influência praticamente nula
sobre a inflação, que tende a subir com a valorização do dólar.
"Esse câmbio a R$ 2,20 é claramente inflacionário. O IPCA
tende a ficar entre 6% e 9% com
esse patamar em 2009 e pode
ultrapassar o teto da meta."
Na sua visão, o BC sinalizou
que fez uma "parada técnica"
na alta dos juros, sem interromper o ciclo de aumento. "A
expressão "neste momento"
mostra que foi uma parada para
avaliar o cenário. Mas, se a inflação subir com o estrago do
câmbio, não há dúvida de que o
BC vai aumentar a Selic", disse.
O economista Claudio Porto,
presidente da consultora Macroplan, afirmou que a decisão
do Copom "foi a mais sensata"
neste momento de incerteza e
de falta de liquidez nos mercados. "Seria falta de bom senso
subir os juros agora."
Para Walter Machado de
Barros, do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças), o BC abriu espaço para reduzir os juros se o cenário piorar. "Caso a crise se agrave, haverá necessidade de criar estímulos para a economia real.
Esse estímulo poderá ser uma
redução da taxa Selic ainda neste ano."
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