São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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BC busca estabilizar crédito, diz analista

Para economistas, autoridade monetária brasileira está mais preocupada com aperto no crédito que com a inflação

Analistas vêem pressão da alta do dólar na inflação a partir do início de 2009, que pode ser contida pela desaceleração na demanda


Sergio Lima/Folha Imagem
Meirelles, presidente do Banco Central, em entrevista ontem

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O mercado financeiro recebeu bem a decisão do Banco Central de manter os juros inalterados em em 13,75%. Guardadas as particularidades locais, o Brasil seguiu a maioria dos demais países do mundo que reduz os juros e optou por manter uma política monetária mais aberta, deixando mais dinheiro livre na economia, dado o atual problema de liquidez e de restrição no crédito.
Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o fato de a decisão do BC ter sido unânime tranqüiliza o mercado porque havia dúvidas sobre qual ação a ser tomada diante da recente disparada no dólar, que pressiona a inflação. Gonçalves afirma que, se não fosse o atual cenário, o BC normalmente elevaria os juros para garantir a entrada de dinheiro no país por meio do diferencial de taxas em relação aos demais países.
"Houve o reconhecimento de que o mundo mudou muito. Você tem uma crise de crédito que não foi resolvida, e a taxa de câmbio mais alta é um sintoma disso. Não adianta achar que com juro [alto], vai reduzir a taxa de câmbio. Manter o juro não agride a meta de inflação em 2009. Como foi unânime é um ótimo sinal, de que está buscando estabilidade no mercado de crédito e que não tem choque de juro. Tudo bem que a taxa de câmbio está indo a um outro rumo", disse Gonçalves.
Segundo Fernando Blanco, presidente da seguradora de crédito Coface, a decisão de ontem foi uma das mais fáceis do BC no ano. "Seria uma mensagem contraditória, no momento de crise de crédito, você aumentar os juros. O BC também não ia baixar os juros com o câmbio nessa altura. O problema agora está nos juros finais porque os "spreads" estão subindo forte. Preocupa-me o refinanciamento das dívidas das empresas e das pessoas físicas. Se isso não for cuidado, vamos implantar uma recessão aqui."
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, a restrição de crédito já faz o trabalho de diminuir a demanda no ano que vem, apesar da alta do dólar. "Temos uma certeza hoje que é uma atividade muito fraca em 2009, com o PIB crescendo 2,5%. Ninguém sabe exatamente para onde o câmbio vai, apesar de nossa aposta ser de que ele retorne para algo abaixo de R$ 2. Mas, se a incerteza é grande, não faria sentido ele subir o juro agora. É melhor esperar para colher mais informações", disse.
Vale vê impacto alto na inflação no início de 2009 por conta da alta do dólar, fator que preocupa o BC. "A questão é saber se perdura ou não. Acredito que a forte desaceleração de demanda com a queda dos preços de commodities vai ajudar a conter esse impacto. Se você trabalha com um cenário de câmbio ao redor de R$ 2, não parece razoável supor que as commodities não importem aumento nos preços", disse.
Para o economista-chefe da corretora SLW, Carlos Thadeu de Freitas Filho, a decisão terá influência praticamente nula sobre a inflação, que tende a subir com a valorização do dólar. "Esse câmbio a R$ 2,20 é claramente inflacionário. O IPCA tende a ficar entre 6% e 9% com esse patamar em 2009 e pode ultrapassar o teto da meta."
Na sua visão, o BC sinalizou que fez uma "parada técnica" na alta dos juros, sem interromper o ciclo de aumento. "A expressão "neste momento" mostra que foi uma parada para avaliar o cenário. Mas, se a inflação subir com o estrago do câmbio, não há dúvida de que o BC vai aumentar a Selic", disse.
O economista Claudio Porto, presidente da consultora Macroplan, afirmou que a decisão do Copom "foi a mais sensata" neste momento de incerteza e de falta de liquidez nos mercados. "Seria falta de bom senso subir os juros agora."
Para Walter Machado de Barros, do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças), o BC abriu espaço para reduzir os juros se o cenário piorar. "Caso a crise se agrave, haverá necessidade de criar estímulos para a economia real. Esse estímulo poderá ser uma redução da taxa Selic ainda neste ano."


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