São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Decisão divide indústria, comércio e centrais

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Copom de manter a taxa de juros em 13,75% ao ano dividiu a opinião da indústria, do comércio e das centrais sindicais. Para a indústria paulista, a medida não favorece a economia do país, em meio a uma crise internacional. Já representantes do comércio, do setor de infra-estrutura e da indústria nacional avaliam que a medida foi correta ao levar em conta o risco de recessão.
A Fiesp (federação das indústrias paulistas) ressaltou que, enquanto nos EUA os juros caíram de 1,5% para 1% ao ano e os bancos centrais do mundo sinalizam para o corte da taxa, o Brasil não agiu na mesma direção. Em nota, diz que, em abril deste ano, o Copom iniciou um processo de aumento da Selic, para encarecer o crédito e não deixar que o aquecimento da economia pudesse trazer aumento da inflação. "Essa intenção vai em sentido oposto à pretendida pelo mundo no atual cenário econômico."
Paulo Skaf, presidente da Fiesp, afirma que "a manutenção da Selic deve ser bem recebida pela sociedade, desde que seja vista como o início de um processo de queda continuada dos juros, fator essencial à retomada do crédito evitando, assim, maior freada da atividade econômica no Brasil".
Para a Associação Comercial de São Paulo, a decisão "decepcionou o lado real da economia". Alencar Burti, presidente da entidade, diz que os empresários esperavam corte da taxa, "tendo em vista a forte retração do crédito, o aumento dos juros e a redução de prazos de financiamento, que vêm afetando as vendas do varejo, provocando redução da produção e de horas trabalhadas em muitos segmentos, com risco de levar à demissão de trabalhadores".
Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) classifica a decisão de interromper o ciclo de elevação dos juros como "sensata". "Reduzir os compulsórios, liberar recursos para o sistema interbancário e interromper o ciclo de alta dos juros são ações corretas que buscam diminuir os impactos do empoçamento de liquidez", avalia. "Mas essas medidas podem não ser suficientes."
Para a Abdib (indústria de base), a decisão foi coerente e responsável. "O cenário econômico interno e externo mudou bruscamente nas últimas semanas, exigindo outras ações de política econômica, diferentes daquelas que vinham sendo adotadas. Tão importante quanto manter a inflação sob controle é agir para manter níveis razoáveis de crescimento econômico neste e no próximo ano, o que não significa atentar para um e descuidar do outro."
Abram Szajman, presidente da Fecomercio, diz que o Copom acerta ao levar em conta o risco de recessão, mas espera que, já na próxima reunião, prevista para dezembro, possa ser iniciado o processo de redução da taxa básica. "Se o governo não reduzir os juros, setores industriais dependentes de crédito, voltados apenas para atender o mercado interno, são os que sofrerão mais. É o caso do setor automobilístico e da construção civil, justamente aqueles que o governo considera como os mais relevantes para manter o ritmo de atividade e o nível de emprego", diz.
Para a Força Sindical, a decisão reflete a "insensatez" da equipe econômica e vai prejudicar os trabalhadores. A CUT chamou a decisão de "conservadora" e avalia que o Brasil "precisa baixar de forma agressiva os juros e diminuir o superávit primário". Para a CTB, o BC "joga contra o desenvolvimento nacional". A UGT apoiou a decisão do BC, embora reconheça que não é "a ideal".


Texto Anterior: BC busca estabilizar crédito, diz analista
Próximo Texto: Taxa real do Brasil segue no topo mundial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.