São Paulo, sexta-feira, 30 de outubro de 2009

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Sem ver Lula, missão bilionária chinesa cancela visita ao país

Pendências comerciais, como a venda de carne e aviões brasileiros, estavam na pauta de reunião

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Uma missão ao Brasil com 12 ministros chineses, um vice-primeiro-ministro e dirigentes de 66 grandes empresas foi cancelada na quarta-feira, segundo o Itamaraty, "por problemas de agenda".
Diplomatas chineses ouvidos pela Folha apresentam outra versão. Os chineses esperavam uma audiência com o presidente Lula em Brasília, rejeitada porque o presidente irá a Londres receber um prêmio do instituto em relações internacionais Chatham House por promover a "estabilidade na América Latina".
O chineses decidiram cancelar a missão por se sentirem menosprezados. Diversas pendências comerciais, das barreiras chinesas à entrada de carne do Brasil às vendas suspensas de aviões da Embraer, seriam discutidas na reunião bilateral.
O vice-presidente brasileiro José Alencar e o vice-premiê chinês, Wang Qishan, presidiriam a reunião da chamada Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação).
Instalada oficialmente em 2006, a Cosban se reuniu apenas uma vez, em abril deste ano, em Pequim. Brasília receberia a segunda reunião.
A missão empresarial paralela à reunião de cúpula estava sob organização do Conselho Chinês para Promoção de Investimentos Internacionais, que se recusou a comentar o cancelamento.
Construtoras, empresas de máquinas industriais, trens, vagões e telecomunicações estavam representadas na missão, a primeira dessa envergadura a ser preparada para um país latino-americano.

Desencontros
É o segundo grande desencontro bilateral em 2009, ano em que pela primeira vez a China passou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil.
Em maio, estava programada uma visita do presidente Lula de sete dias à China. Ele seria acompanhado por sete ministros e participaria de fóruns empresariais em três cidades.
Às vésperas da viagem, o programa encolheu para 48 horas apenas em Pequim e só três ministros (Relações Exteriores, Pesca e Comunicação) o acompanharam.
Diplomatas brasileiros ouvidos pela Folha dizem que há mal-estar por conta de "investimentos chineses no Brasil prometidos e jamais realizados", pela falta de apoio do governo chinês ao pleito brasileiro por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU e até uma certa "arrogância" dos chineses na hora de marcar audiências com os brasileiros.

Grandes reservas
A China tem sido cortejada por governos de todo mundo por conta de suas grandes reservas em dólares e pela riqueza de suas estatais. O investimento chinês no exterior cresceu 190% no trimestre passado em comparação com o mesmo período de 2008.
Segundo o Ministério do Comércio chinês, as empresas chinesas investiram US$ 20 bilhões no exterior de julho a setembro. Ao longo de 2009, os chineses investiram US$ 32 bilhões em 112 países.


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