São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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MARCHA LENTA

Expansão no 3º trimestre é de 2,38%, mas, para IBGE, resultado é mais recuperação do que crescimento

PIB ainda aponta economia estagnada

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A economia brasileira cresceu 2,38% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado -o melhor resultado nessa forma de comparação desde o primeiro trimestre de 2001 (3,89%), segundo dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No acumulado até setembro deste ano, o PIB -a soma das riquezas produzidas em um determinado período- cresceu apenas 0,94%. Em 12 meses, o crescimento foi ainda menor: 0,52%. Em relação ao trimestre abril-junho, descontados os fatores sazonais (típicos de cada período), o crescimento foi de 0,93%, o terceiro resultado positivo seguido nessa forma de comparação.
O resultado do PIB trimestral, comparado com o mesmo período de 2001, foi maior que o previsto pela maior parte dos especialistas. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) previa 2%. O banco Santander, 1,7%.
O coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, Paulo Levy, disse que o resultado ficou "dentro do esperado". Ele atribuiu parte da diferença entre a previsão do órgão e o resultado oficial à revisão de números anteriores feita pelo IBGE, alterando a base de comparação.

Pequena surpresa
Para o economista, só o resultado da indústria "surpreendeu um pouco". A indústria, que tem peso próximo a 35% na composição do PIB e é a variável que mais influi nas oscilações, cresceu 2,98% de julho a setembro. Havia crescido apenas 0,15% no segundo trimestre e caído 4% no primeiro.
A indústria de transformação, que representa quase dois terços do peso total da indústria, cresceu 2,61%. Para Levy, o crescimento está associado a "fatores transitórios" e não representa uma retomada da economia, até porque o país terá que frear a recuperação para controlar a inflação. "É uma recuperação na qual o país vai precisar pisar um pouco no freio se quiser controlar a inflação."
O coordenador da equipe técnica do PIB Trimestral do IBGE, Roberto Olinto, concorda que não há retomada do crescimento. "Há tendência de melhora, mas não há nenhum fator que indique melhora expressiva. É muito mais recuperação [de patamares perdidos" do que crescimento." Ele lembrou que as taxas anuais continuam oscilando perto de zero.
Olinto disse que, com a renda do trabalho em queda, fica difícil crescer. Segundo o IBGE, de janeiro a setembro o rendimento médio real das pessoas ocupadas no país caiu 3,73%.

Agropecuária
Na indústria, além da manufatureira, houve crescimento no terceiro trimestre em outros subsetores. A extrativa mineral cresceu 10,83%. Os serviços industriais de utilidade pública (energia elétrica, água e esgoto), que vinham com elevadas taxas negativas por causa do racionamento de energia em 2001, cresceram 9,76%.
Mesmo a construção civil, que também vem tendo sucessivos trimestres negativos, reduziu o ritmo da queda, passando de menos 9,26% no primeiro trimestre para menos 5,58% no segundo e para menos 0,87% no terceiro.
A agropecuária, que vem mantendo crescimento elevado e constante, cresceu 7,19% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2001. Como tem peso relativamente baixo no PIB (cerca de 8%), sua contribuição é menor do que a da indústria.
Já os serviços, que cresceram 1,77%, embora tenham peso elevado (cerca de 60%), oscilam pouco, tendo geralmente pouca influência nas variações do PIB.


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