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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Presidente avalia que redução mais significativa da taxa é a forma de dar impulso extra à economia, mas sofre resistência do BC

Sem crescimento, Lula quer juro menor

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer uma redução significativa da taxa básica de juros, hoje em 17,5% ao ano, para que a retomada da economia se aproxime do prometido "espetáculo do crescimento". O presidente do BC (Banco Central), Henrique Meirelles, resiste e alerta que há limites para essa redução.
Para Lula, uma queda significativa seria a repetição, em dezembro, da redução de 1,5 ponto percentual da última reunião do Copom. Já o BC avalia que a redução deva ficar por volta de 0,5 ponto percentual.
Esse é hoje o principal debate no governo. A Folha apurou que Lula não quer enfraquecer seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. O presidente acha que tal iniciativa poderia causar insegurança nos investidores.
No entanto os últimos indicadores econômicos levam o governo a debater formas de incentivar ainda mais a economia. O presidente considerou decepcionante o crescimento de 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano.
Daí um debate sigiloso e cauteloso com seus principais ministros: Palocci, José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Luiz Dulci (Secretaria Geral).
Nesse debate, há três variáveis:
1) política fiscal - é ponto pacífico na cúpula do governo que o superávit primário de 4,25% do PIB não será suavizado. O que Lula imagina é gastar melhor o dinheiro que tem. Por isso, pretende realizar uma reforma ministerial que faça um rearranjo gerencial do governo, de modo a torná-lo mais eficiente;
2) política cambial - os ministros Guido Mantega (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), mais o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), dizem que há sobrevalorização do real em relação ao dólar, hoje cotado a R$ 2,947, e pregam uma política cambial mais ousada. Desejam um real mais fraco para elevar a competitividade das exportações.
Mas o bom desempenho da balança comercial neste ano, que deverá ter um saldo de pelo menos US$ 22 bilhões, enfraquece os defensores dessa opção "desenvolvimentista", que embutiria ainda um risco inflacionário. Ou seja, Lula não vê espaço para ousadia na política cambial;
3) política monetária - apesar de rejeitar a idéia de "populismo monetário" -expressão que costuma empregar em conversas reservadas do governo-, o presidente avalia que, na atual conjuntura, é nos juros que tem espaço para dar algum reforço extra ao crescimento econômico. A Folha apurou que houve influência do presidente na queda de 1,5 ponto percentual da Selic em outubro.
Essa influência não é direta. Lula não telefona para o presidente do Banco Central. Tampouco Dirceu, Gushiken e Dulci. É Palocci o "canal de transmissão", de acordo com um auxiliar direto do presidente.

Cobranças
O ministro da Fazenda expõe a Meirelles não só idéias sobre o quadro econômico mas também cobranças da ala moderada do PT por maior crescimento e reclamações de industriais paulistas por juros menores.
Lula acha que Meirelles acolheu essas observações em novembro e o fará novamente em dezembro. Mas expoentes do governo, como o líder Mercadante, acreditam que Meirelles tenha demorado demais para baixar os juros.
Mercadante disse isso em reunião no sábado retrasado, na Granja do Torto, em Brasília. Essa reunião deveria ter discutido reforma ministerial, mas Lula priorizou uma avaliação da política econômica.
No encontro, o presidente elogiou a observação de Meirelles segundo a qual a taxa real de juros (descontada a inflação) é a mais baixa em nove anos -pouco mais de 10% ao ano, levando em conta a expectativa de inflação para os próximos 12 meses.
Meirelles deu sinais de que o Banco Central pode estar perto de definir qual é a taxa de juro real de equilíbrio, abaixo da qual o país não cresce sem gerar instabilidade ou inflação. Esse é o ponto crucial do debate econômico atual. Atingido tal patamar, 2004 seria um ano de pequenas variações na política monetária.



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