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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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Índice define potencial de crescimento do PIB; estudos apontam para faixa de 8% a 10%, mas alguns economistas acreditam em taxa menor

BC pode "descobrir" piso de juro real em 2004

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O BC (Banco Central) poderá chegar em 2004 ao teste que vai revelar qual é o piso para a redução da taxa de juros real no Brasil, um número enigmático que esteve no centro do debate econômico do país nos últimos meses.
Para alguns economistas, como Alexandre Póvoa, do Banco Modal, o BC já começou a tatear esse limite na última reunião do Copom, quando cortou os juros em 1,5 ponto percentual, 0,5 a mais que o esperado pelo mercado. Outros, como Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú, acreditam que a resposta de qual é o juro real de equilíbrio só virá em 2005.
Saber qual é o piso dos juros reais não é relevante apenas para os envolvidos no debate econômico. Essa é a taxa abaixo da qual o país não é capaz de crescer sem gerar instabilidade e pressões inflacionárias. A maioria dos estudos aponta para uma faixa que vai de 8% a 10%, um índice altíssimo para os padrões internacionais, incluindo os de países latino-americanos, que convivem com taxas reais de cerca de 5%.
Póvoa, do Modal, e Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirmam que a economia brasileira passou por mudanças estruturais que permitem supor que a taxa real de equilíbrio é inferior àquela de 8% a 10% tradicionalmente apontada por analistas.
A principal alteração é o ajuste das contas externas, que permitirá ao país fechar 2003 com superávit em conta corrente pela primeira vez desde 1992. Isso significa uma menor necessidade de financiamento externo, o que daria mais espaço para o BC testar o piso, levando os juros reais a um patamar inferior a 8%.
"O ajuste do setor externo deu um "elástico" para que o país possa descobrir qual é o piso da taxa real de equilíbrio", diz Almeida. Segundo ele, além de reduzir a necessidade de financiamento externo, esse ajuste elevou a capacidade de importação da economia brasileira, graças ao saldo comercial recorde de US$ 22 bilhões que deve ser alcançado em 2003.
A maior capacidade de importação facilita uma das tarefas da taxa de juro real, que é compatibilizar a oferta e a demanda, para evitar pressões inflacionárias.
Quanto menor o juro real, maior a capacidade de crescimento da economia. "A taxa real afeta muito o investimento e o consumo", afirma Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Com base em modelos estatísticos, Barros estabeleceu relações entre taxas de juros hipotéticas e o índice de crescimento do PIB que corresponderia a cada uma delas em 2004. Um juro real de 10,9%, por exemplo, permitiria uma expansão da economia de 3,3%. Já uma taxa de 5,8% levaria a crescimento de 4,8%.
O economista acredita que o cenário provável -e possível- para a realidade brasileira seja uma taxa real de 8,8% com crescimento de 3,9% do PIB. "Não convém ao país crescer acima de 4% em 2004 porque pode haver pressões inflacionárias ou desequilíbrio no balanço de pagamentos", diz.
A taxa de juro real está hoje em 11%, se for calculada com base na Selic, descontada a expectativa de inflação para os próximos 12 meses. Mas alguns analistas preferem outro índice, que se baseia na taxa de juro futuro de um ano, descontada a expectativa de inflação. Por essa fórmula, o juro real já estaria hoje em 9,7%, um patamar alto para os padrões internacionais, mas relativamente baixo se for considerado o histórico recente do Brasil.
O economista-chefe do Bradesco sustenta que não é possível predeterminar uma taxa. Para ele, o piso do juro real é "móvel" e definido pela situação fiscal e o risco Brasil. Em sua opinião, o enigma de qual é o piso dos juros reais poderá ser decifrado ao longo do primeiro semestre de 2004.
Jorge Simino, diretor do Unibanco Asset Management, afirma que nem mesmo o BC sabe qual é a taxa real de equilíbrio e terá de descobrir o índice em um cauteloso exercício de tentativa e erro.
O economista acredita que tenha havido uma precipitação no debate sobre os juros, provocada pelo decepcionante resultado do PIB do terceiro trimestre -expansão de 0,4% em relação ao trimestre anterior, quando se esperava pelo menos 1,5%. Simino ressalta que o corte da taxa de juros demora cerca de seis meses para ter efeito sobre a atividade econômica, o que deve ocorrer no segundo trimestre de 2004.
Octavio de Barros também afirma que o processo de "tatear" o piso da taxa real é delicado e deve ser conduzido com cautela. "A pior coisa que poderia ocorrer à economia brasileira seria o BC ser obrigado a aumentar os juros."



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