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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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Setor diz que não há reposição de obras e que depende

Construção diz viver "morte anunciada"

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para atrair recursos e a atenção do governo, o setor de construção civil diz ser o único capaz de tornar realidade a promessa de Luiz Inácio Lula da Silva de criar 10 milhões de empregos no país em quatro anos. E até superar a meta.
Segundo estudo do economista Luciano Coutinho, programa habitacional que reduza em 60% o déficit atual de moradias -construindo 4,6 milhões de unidades em quatro anos- poderia gerar 16 milhões de empregos (diretos, indiretos e induzidos).
A construção civil é o setor com maior capacidade de impulsionar a economia, de acordo com o estudo. Coutinho mostra que, a cada ano, a construção civil demanda R$ 66,8 bilhões de seus fornecedores e é a maior empregadora do país, com cerca de 3,9 milhões de trabalhadores.
No total, o chamado "construbusiness" é responsável por 15,5% do PIB nacional. "Mas vivemos um processo de morte anunciada", alerta o presidente do Sinduscon-SP, Artur Quaresma.
Segundo ele, o processo de produção no setor tem um prazo médio de maturação de 24 a 36 meses. "Esse é o tempo entre a concepção de um projeto e a conclusão da obra", diz.
Atualmente, não há reposição de obras -quando uma termina, dispensam-se os empregados e não se inicia outra. "Se não ocorrer uma reativação da atividade econômica, não haverá reposição de investimentos no setor", alerta.
Segundo Quaresma, o setor espera algum crescimento no ano que vem, "mas nada muito eufórico". Ele diz que a construção civil pode crescer em duas frentes: a dos investimentos públicos, com retomada das obras de saneamento, e a dos investimentos privados em habitação.
Na sexta-feira, o ministro das Cidades, Olívio Dutra, anunciou em São Paulo aos empresários do setor que, "em reunião prevista para os próximos dias, o Conselho Monetário Nacional ampliará de R$ 200 milhões para R$ 2,9 bilhões o limite de endividamento dos Estados, dos municípios e das empresas estatais para investimento em saneamento".
Segundo Quaresma, se isso ocorrer, "será muito positivo para o setor. Investimentos em saneamento estimulam os negócios na área de habitação pois melhoram as condições de moradia". Sua única preocupação é "se o aumento do limite de endividamento do setor público não irá ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal".

Confiança
O respeito aos limites de endividamento, segundo empresários e economistas, é fundamental à credibilidade da política econômica e ao equilíbrio das contas públicas. Segundo Marcus Vinicius Ferrero Valpassos, economista da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio, a recuperação do setor em 2004 depende em grande parte da "retomada da confiança dos agentes econômicos para investir".
Esse clima de confiança, segundo ele, não é subjetivo: viria da continuidade da queda dos juros e da manutenção da inflação em um patamar baixo, o que permitiria ao setor retomar os investimentos. O problema a ser equacionado, segundo ele, é o do financiamento à produção de novas moradias. "Como atrair o setor privado para financiamentos de longo prazo com o histórico de inadimplência do setor?", diz ele.
Valpassos é co-autor com Dionísio Dias Carneiro, também economista da PUC do Rio, do livro "Financiamento à Habitação e Instabilidade Econômica". Ali, eles sugerem a criação, pelo governo, de um seguro contra risco de inadimplência, que cobriria parte das possíveis perdas de uma carteira de financiamento a moradias populares.



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