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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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CONSUMO

Diferença entre contas não-pagas e liquidadas diminui para 810 mil no ano

Inadimplência no país cai ao menor nível desde 1994

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL


O país deve atingir em 2003 o melhor resultado em inadimplência líquida desde 1994. O saldo entre o número de pessoas que entrou na lista de insolventes e o que saiu será o mais baixo desde que o Plano Real foi implementado, há quase dez anos. O país ainda deve ter o menor saldo de cheques sem fundos (diferença entre os que entram e os pagos) desde 1994.
Serão mais de 30 milhões de folhas de cheques com o carimbo "devolvido" compensados durante o ano, pois os clientes dos bancos têm conseguido pagar o débito. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que entraram nessa lista de inadimplentes com cheques permaneceu estável em relação à média dos últimos anos.
São dados que raramente vêm à tona porque a inadimplência líquida (o saldo entre novos inadimplentes e ex-inadimplentes) é um indicador nem sempre calculado pelas entidades e associações que pesquisam o assunto. A Folha solicitou a elaboração das contas para obter o resultado.
Explica-se: neste ano foram cancelados quase 2,3 milhões de contas em atraso de pessoas físicas, e cerca de 3,1 milhões entraram no banco de dados da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) por meio do Sistema Central de Proteção ao Crédito. A diferença, de 810 mil registros de janeiro a outubro, é a mais baixa desde 1994, quando o volume atingiu 510,2 mil.
Também é quase a metade do apurado em 1998 (1,5 milhão), o pior ano da história do comércio no país, quando o crédito barato tomou conta do mercado, as dívidas cresceram e o calote disparou.
"Estamos com melhores números do que no ano passado como reflexo do cenário de forte retração econômica. Quando a crise aperta, dívidas novas não são feitas e corre-se para pagar as contas já assumidas", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP.
No caso do cheque sem fundos, a situação é a mesma. As entidades publicam basicamente o número dos cheques emitidos e dos que foram devolvidos pela segunda vez por falta de recursos em conta. E esse indicador bate recordes há tempos. Mas nem sempre é feita a conta da diferença entre o volume de cheques incluídos nesse montante e o que foi excluído porque as pessoas pagaram a dívida. Esse saldo caiu de forma considerável.
Segundo o Banco Central, de janeiro a outubro foram registrados 31,7 mil cheques sem fundos, mas, no mesmo período, foram excluídos da lista 25,8 mil. O saldo (5,9 mil registros) é o mais baixo desde o ano de 1994.
O recorde negativo ainda pertence a 1999, quando o país viveu a sua mais forte crise cambial e houve queda (a primeira nos anos FHC) no rendimento médio real de 5% em relação a 1998.
"Neste ano, segundo os bancos, o crédito disponível para gastos cresceu 11,5% ante o ano anterior, até outubro. Mas a taxa de inadimplência [taxa de atraso em cartão de crédito, financiamento em bancos, CDC etc.] cresceu pouco mais de 5% no período", diz Carlos de Almeida, economista da Serasa (Centralização de Serviços Bancários).
"Logo, o crédito ainda cresce mais que a inadimplência, o que é um indicador saudável", afirma.

Endividamento per capita
Por meio de uma conta simples percebe-se que, na prática, o endividamento por pessoa economicamente ativa até cresceu neste ano no país. Endividamento alto eleva a taxa de inadimplência, e isso teria ocorrido se o consumidor não tivesse cortado gastos para não estourar o orçamento.
Dados do BC mostram que a média de recursos emprestados para operações de crédito do sistema financeiro ficou em R$ 85,7 bilhões por mês, até setembro.
Partindo do pressuposto de que a PEA (População Economicamente Ativa) fique em torno de 86 milhões neste ano, segundo analistas de emprego, então cada trabalhador no país deve R$ 996 em média hoje. Nesse caso estão incluídos cheque especial e linhas para empréstimos, entre outros.
No ano passado, quando R$ 81,6 bilhões por mês, em média, ficaram disponíveis para crédito, a dívida por cabeça era menor, cerca de R$ 949.
Naturalmente, quanto menor o montante de recursos disponíveis pelos bancos para gastos, a tendência é que as pessoas se endividem menos, pois sem crédito não há consumo se a renda só cai. Em outubro, o rendimento médio do trabalhador era de R$ 831 -ante R$ 979, 86 (descontada a inflação) ano antes, segundo o IBGE.
Nos cartórios de São Paulo, as dívidas de pessoas físicas e jurídicas (empresas) também caíram.
O último levantamento mostra que, de janeiro a outubro, a população na capital paulista tinha registros de dívidas sendo protestadas no valor de R$ 433,5 milhões. O volume é 26,4% menor do que no mesmo período de 2002. No caso das empresas, o volume somava R$ 342,4 milhões até outubro -caiu 44% sobre 2002.



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