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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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Prazos mais longos e juros menores tornam crédito mais acessível, o que pode elevar chance de calote no comércio

Redes se preparam contra os riscos de inadimplência

DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário é ideal: com a redução da inadimplência, o nome limpo na praça e crédito barato, o consumidor pensa que pode se aventurar nas compras de fim de ano sem temer riscos de calote.
Além disso, ainda há o pagamento dos reajustes salariais neste fim de ano, que, em alguns casos, atingiram 18%. E os juros menores nas lojas.
Existe um conjunto de fatores propícios para os gastos, o que leva os analistas a fazer um alerta. "O varejo sabe do risco que corre se cair na tentação de aproveitar esse momento, reduzir a guarda e liberar crédito sem critério", afirma Fabio Pina, economista da Fecomercio SP.
Prazos já foram alongados, e taxas de juros, ligeiramente reduzidas. Em agosto, segundo pesquisa da Anefac, a associação dos executivos de finanças, o prazo médio para venda a prazo no comércio estava em 9 meses. Passou, em outubro, para 11 meses.
Já as taxas de juros passaram em média de 6,20% ao mês para as compras a prazo para em torno de 6%, de acordo com levantamento da associação."Não vamos mudar critérios para aumentar a venda de forma indiscriminada", diz Michael Klein, diretor comercial da Casas Bahia.
A rede inaugura hoje à tarde uma megaloja de 25 mil metros quadrados no Anhembi, zona norte de São Paulo. Foram investidos R$ 3 milhões na abertura do ponto. Como a expectativa é um faturamento diário de R$ 1 milhão, em três dias o investimento deverá estar pago.

Anos difíceis
Em 1994, com a criação do Plano Real e a estabilidade de preços, a situação do consumo mudou. Linhas de crédito foram criadas, prazos de pagamento, alongados (para até 24 vezes, no caso de eletrodomésticos), e o crediário se tornou uma das principais formas de pagamento. A expansão na renda, no entanto, se desacelerou.
Em 1997 e 1998, a inadimplência ganhou força. O volume de registros recebidos de pessoas inadimplentes em São Paulo mais que dobrou de 1996 para 1998, passando de 1,9 milhão para 4,7 milhões, segundo a ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Redes como a Lojas Centro quebraram porque não tinham capital de giro para suportar o calote generalizado.
Segundo Klein, no entanto, aquele cenário vivido pelo varejo é "coisa do passado". E é pequena a possibilidade de um aumento na inadimplência em 2004 devido à elevação no volume das linhas de crédito -sem que ocorra um aumento na renda da população.
A Casas Bahia opera com uma taxa de inadimplência média de 8%. O Ponto Frio estava, em setembro, com uma taxa em 8,2%, segundo o balanço da empresa.
Fabio Pina, da Fecomercio SP, concorda com Klein. "Nós acreditamos num aumento de renda real de 3% a 4% em 2004. Mesmo que isso não ocorra, acho pouco provável que toda a expansão na venda no próximo ano se dê por essas linhas de crédito, que têm volume disponível ao consumidor limitado", afirma ele.

Campanhas
O último levantamento do Provar (Programa de Administração do Varejo), da USP (Universidade de São Paulo), no entanto, mostra que 55,4% dos paulistanos afirmam que não pretendem comprar nada de outubro a dezembro, o que inclui, portanto, o Natal. Em igual período do ano passado, 27,5% dos entrevistados diziam o mesmo. Foram ouvidas 400 pessoas em São Paulo.
O "nada" se refere a bens duráveis e semiduráveis (calçados, eletroeletrônicos, roupas, automóveis, por exemplo), mas não a alimentos, itens de higiene e remédios (bens essenciais).
Para animar o consumidor, as redes de eletrônicos se armam com estratégias de marketing na tentativa de desovar as mercadorias em estoque no Natal.
A Pernambucanas está com campanha anunciando pagamento em dez vezes. Já a Casas Bahia renovou o contrato com o seu garoto-propagada, o ator das campanhas "Quer pagar quanto?", por mais seis meses. (AM)


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