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Agronegócio puxa expansão "chinesa"
Cidades como Sorriso, no Mato Grosso, líder no cultivo de soja, têm crescimento superior a 10% ao ano
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A pequena Santa Rita do Trivelato, de 4.000 habitantes, entrou no mapa do Brasil como o
município de maior crescimento econômico na primeira metade desta década. Vizinha a
Sorriso, campeã brasileira no
cultivo de soja, no centro do
Mato Grosso, a cidade integra
um time reduzido de municípios que cresceram mais de
10% ao ano num período em
que o conjunto da economia do
país cresceu, em média, 2,6%.
No Brasil que cresce em ritmo "chinês", predominam economias movidas a agronegócio.
"Santa Rita do Trivelato humilhou a China", diz o economista Julio Miragaya, do Conselho Federal de Economia, sobre a parcela do Brasil que exibe taxas de crescimento acima
dos registrados pela economia
chinesa.
Miragaya é coordenador do
Mapa da Desigualdade Espacial
de Renda, levantamento feito
com base na variação do PIB
(Produto Interno Bruto) dos
municípios entre 1999 e 2005,
o primeiro e último ano da série
histórica pesquisada pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Santa Rita -cujo acesso
ocorre ainda por estrada de terra- registrou mais de 80% de
crescimento em média nesse
período.
Para atenuar efeitos de variações tão grandes, o mapa deu
prioridade para identificar as
regiões estaduais mais dinâmicas do país. De um total de 41
regiões que registraram taxas
chinesas de crescimento, 36 estão concentradas na fronteira
agrícola do país, no cerrado e na
Amazônia. Nas demais regiões,
o crescimento acelerado decorre sobretudo da extração de petróleo, aponta o estudo.
Retração do crescimento
O mapa mostra dispersão
geográfica nas regiões cuja economia encolheu no período de
1999 a 2005. Entre os municípios que registraram retração
de crescimento está -para surpresa dos pesquisadores- São
José dos Campos (SP), sede de
importante pólo industrial no
Estado.
É ponderável que a cidade,
cujo desenvolvimento se deu
nos anos 70 e 80, tenha atingido um estágio em que o crescimento não tem como ser "chinês". No entanto, o PIB per capita do município caiu, em média, 2,79% ao ano no período.
Recordista nesse grupo do
Brasil "estagnado", o município
de Laje do Muriaé (RJ) confirma as estatísticas.
A agricultura e a pecuária entraram em colapso, e a economia da cidade, abalada por enchentes freqüentes, depende,
basicamente, da folha de salários da prefeitura. "Hoje, 90%
da população está vinculada,
direta ou indiretamente, à prefeitura", calcula o prefeito interino da cidade, José Geraldo
Pereira Carvalho.
"O maior dinamismo econômico deslocou-se definitivamente do litoral para o interior
do país", conclui o estudo do
Conselho Federal de Economia, que aponta o "crescente
destaque" de regiões cuja principal fonte de riqueza é a atividade agropecuária tecnologicamente avançada: "Essas regiões equipararam-se em termos de PIB per capita ao padrão existente nos grandes centros industriais dispersos ao
longo da faixa litorânea meridional do país."
Apesar das fortes desigualdades regionais, a maior parte dos
municípios brasileiros concentra-se na faixa de renda até a
média nacional (R$ 12.396 por
ano, em valores de 2007) e no
intervalo de crescimento médio de até 5% ao ano entre 1999
e 2005.
O Nordeste concentra a
maioria dos municípios mais
pobres do país. E 9 das 10 regiões estaduais de menor renda
per capita estão no Maranhão.
Boa parte da movimentação na
economia dessa região é atribuída ao pagamento do Bolsa
Família.
Já as regiões mais ricas estão
fortemente concentradas no
centro-sul do país. Na média, a
renda de cada habitante de
Quissamã, no Rio de Janeiro, é
195 vezes a renda em Apicum-Açu, no Maranhão.
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