São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Agronegócio puxa expansão "chinesa"

Cidades como Sorriso, no Mato Grosso, líder no cultivo de soja, têm crescimento superior a 10% ao ano

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A pequena Santa Rita do Trivelato, de 4.000 habitantes, entrou no mapa do Brasil como o município de maior crescimento econômico na primeira metade desta década. Vizinha a Sorriso, campeã brasileira no cultivo de soja, no centro do Mato Grosso, a cidade integra um time reduzido de municípios que cresceram mais de 10% ao ano num período em que o conjunto da economia do país cresceu, em média, 2,6%.
No Brasil que cresce em ritmo "chinês", predominam economias movidas a agronegócio.
"Santa Rita do Trivelato humilhou a China", diz o economista Julio Miragaya, do Conselho Federal de Economia, sobre a parcela do Brasil que exibe taxas de crescimento acima dos registrados pela economia chinesa.
Miragaya é coordenador do Mapa da Desigualdade Espacial de Renda, levantamento feito com base na variação do PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios entre 1999 e 2005, o primeiro e último ano da série histórica pesquisada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Santa Rita -cujo acesso ocorre ainda por estrada de terra- registrou mais de 80% de crescimento em média nesse período.
Para atenuar efeitos de variações tão grandes, o mapa deu prioridade para identificar as regiões estaduais mais dinâmicas do país. De um total de 41 regiões que registraram taxas chinesas de crescimento, 36 estão concentradas na fronteira agrícola do país, no cerrado e na Amazônia. Nas demais regiões, o crescimento acelerado decorre sobretudo da extração de petróleo, aponta o estudo.

Retração do crescimento
O mapa mostra dispersão geográfica nas regiões cuja economia encolheu no período de 1999 a 2005. Entre os municípios que registraram retração de crescimento está -para surpresa dos pesquisadores- São José dos Campos (SP), sede de importante pólo industrial no Estado.
É ponderável que a cidade, cujo desenvolvimento se deu nos anos 70 e 80, tenha atingido um estágio em que o crescimento não tem como ser "chinês". No entanto, o PIB per capita do município caiu, em média, 2,79% ao ano no período.
Recordista nesse grupo do Brasil "estagnado", o município de Laje do Muriaé (RJ) confirma as estatísticas.
A agricultura e a pecuária entraram em colapso, e a economia da cidade, abalada por enchentes freqüentes, depende, basicamente, da folha de salários da prefeitura. "Hoje, 90% da população está vinculada, direta ou indiretamente, à prefeitura", calcula o prefeito interino da cidade, José Geraldo Pereira Carvalho.
"O maior dinamismo econômico deslocou-se definitivamente do litoral para o interior do país", conclui o estudo do Conselho Federal de Economia, que aponta o "crescente destaque" de regiões cuja principal fonte de riqueza é a atividade agropecuária tecnologicamente avançada: "Essas regiões equipararam-se em termos de PIB per capita ao padrão existente nos grandes centros industriais dispersos ao longo da faixa litorânea meridional do país."
Apesar das fortes desigualdades regionais, a maior parte dos municípios brasileiros concentra-se na faixa de renda até a média nacional (R$ 12.396 por ano, em valores de 2007) e no intervalo de crescimento médio de até 5% ao ano entre 1999 e 2005.
O Nordeste concentra a maioria dos municípios mais pobres do país. E 9 das 10 regiões estaduais de menor renda per capita estão no Maranhão. Boa parte da movimentação na economia dessa região é atribuída ao pagamento do Bolsa Família.
Já as regiões mais ricas estão fortemente concentradas no centro-sul do país. Na média, a renda de cada habitante de Quissamã, no Rio de Janeiro, é 195 vezes a renda em Apicum-Açu, no Maranhão.


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