|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A aposentadoria paulista
No próximo ano, o Estado de
São Paulo começará a resolver,
de maneira definitiva, um dos
principais passivos públicos: a
aposentadoria dos funcionários do setor público. O modelo
vale para outros Estados e municípios, muitos dos quais têm
verdadeira bomba de efeito retardado, que irá explodir nos
próximos anos, se providências
não forem tomadas.
O projeto definido pela Secretaria de Administração -dirigida pelo professor Fernando
Carmona, da Fundação Getúlio Vargas- foi montado em
18 meses.
Primeiro, consistiu na definição dos princípios gerais dessa
aposentadoria. Depois, na
abertura de uma licitação destinada a contratar uma empresa que fizesse a modelagem financeira, dentro das hipóteses
acertadas.
A vencedora foi a Vera Cruz
Seguradora, que terá até abril
para apresentar três projetos
alternativos: um dentro do arcabouço legal atual, e dois que
impliquem a mudança das leis.
A proposta deverá contemplar o cálculos das necessidades de recursos para a transição (o aporte inicial para garantir os atuais aposentados e
funcionários com tempo de serviço), a engenharia financeira
para a transição (a maneira
como serão aportados bens públicos para o fundo, incluindo
recursos provenientes de direitos de concessão, dívida ativa e
privatização).
Os princípios definidos previamente foram os seguintes:
1) haverá uma previdência
complementar obrigatória, até
um determinado teto, e uma
previdência suplementar voluntária;
2) a taxação será progressiva.
Ou seja, quem ganhar mais pagará progressivamente mais
por sua aposentadoria;
3) os planos serão de capitalização individual e de contribuição definida. Ou seja, cada
funcionário contribuirá com
determinado percentual do salário e o valor do benefício dependerá do saldo disponível na
época da aposentadoria. Nesse
item, haverá necessidade de
mudar a lei, que prevê aposentadoria com os mesmos vencimentos da ativa;
4) haverá tratamento cuidadoso dos direitos adquiridos,
para não haver nenhum dano;
5) será prevista uma carteira
de empréstimo para servidores,
hoje alvos de uma ampla indústria de agiotagem;
6) o capital inicial da seguradora será garantido pelo Estado, por meio de receitas de privatização e de concessão, de
maneira a assegurar os direitos
adquiridos dos atuais servidores;
7) haverá descentralização e
robustez institucional. Haverá
um conselho, composto por representantes dos poderes, dos
funcionários e da sociedade,
audiência pública na apresentação dos balanços semestrais e
a transparência será adotada
até o limite da confidencialidade. E serão definidas leis claras, para garantir o aporte de
recursos necessários à capitalização do fundo;
8) a administração do fundo
será distribuída entre diversos
administradores, que terão de
competir entre si e compartilhar dos riscos das aplicações;
9) prefeituras poderão aderir
ao fundo, a partir de cálculos
atuariais que definam o montante de recursos iniciais a serem aportados.
Custos atuais
Nos Estados Unidos, a previdência dos funcionários públicos transformou-se em um dos
principais pilares da política
de investimentos da economia.
Apenas o Calpeco, da Califórnia, tem patrimônio de US$
100 bilhões, abrange 2.500 órgãos públicos, existe há 70
anos, tem 1 milhão de participantes e 20 administradores
contratados para administrar
os recursos.
Na Holanda, a indústria total de fundos representa valores de US$ 400 bilhões, ou
120% do PIB. A ABP, de funcionários públicos, tem ativos
de US$ 116 bilhões e 2 milhões
de associados.
Em 1997, o Estado de São
Paulo bancou um custo de pessoal de R$ 13 bilhões, R$ 7,7
bilhões para os ativos e R$ 4,4
bilhões para os inativos -bancados com recursos orçamentários, e representando 57% da
folha dos ativos. Em 1988, a
proporção era de 51%. Em
2005, mantida essa progressão,
os salários representarão a totalidade da receita prevista para o Estado, se nada for feito.
A arte da política
O governador Mário Covas
critica o presidente da República por fazer alianças e receber no Palácio o ex-governador paulista Paulo Maluf, seu
adversário nas próximas eleições.
Em Bragança Paulista, o
acesso ao governo do Estado
não se dá por meio dos tucanos
locais, mas de seu adversário,
deputado Nabi Abi Chedid.
Covas recebe Nabi no Palácio
Bandeirantes, mas jamais recebeu os tucanos. Apoiou o
candidato de Nabi às últimas
eleições municipais, contra o
candidato tucano. Acolhe os
pedidos de Nabi, não de seus
correligionários, e permitiu a
Nabi influir nas nomeações de
funcionários de estatais paulistas na região.
Covas quer garantir maioria
na Assembléia; FHC, maioria
no Congresso.
E-mail: lnassif@uol.com.br
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|