São Paulo, quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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Fed começa a "enxugar" economia dos EUA

Após injetar US$ 2,2 tri no mercado, banco central norte-americano vai criar fundo para absorver reservas de bancos

Objetivo é impedir um surto futuro de inflação e acalmar os investidores que temem uma desvalorização ainda mais acentuada do dólar

Chip Somodevilla/France Presse
Ben Bernanke, presidente do Fed (o banco central norte-americano), que estuda estratégias para evitar um possível surto inflacionário

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Mais de um ano depois de ter começado a injetar cerca de US$ 2,2 trilhões na economia dos EUA, o Fed (banco central norte-americano) começa a delinear sua estratégia para "enxugar" um possível excesso de dinheiro no mercado.
O objetivo é evitar um possível surto inflacionário mais à frente e acalmar investidores que temem uma desvalorização continuada do dólar nos próximos meses.
O Fed anunciou que criará um fundo no qual bancos norte-americanos poderão depositar, como aplicações, o que considerem como excesso de dinheiro em suas reservas.
Ainda não está definido como esse dinheiro será remunerado, mas o ganho para os bancos deverá ser competitivo em relação às taxas que eles cobram em seus empréstimos diretos a empresas e a consumidores, principalmente nas operações com cartões de crédito.
O objetivo do Fed é retirar até US$ 1 trilhão de circulação, começando daqui a alguns meses, à medida que considerar que a atividade econômica nos EUA está ganhando força.

Risco inflacionário
Com essa espécie de conta remunerada onde os bancos poderão aplicar as suas reservas, o Fed poderá retardar uma elevação dos juros básicos no país para conter uma eventual pressão inflacionária.
O presidente do Fed, Ben Bernanke, vem repetindo seguidamente que as taxas básicas de juro nos EUA devem permanecer próximas a zero durante um longo período.
Ele afirma também que, até o momento, não foram detectados riscos inflacionários na maior economia do mundo.
Mas a maior preocupação do Fed neste momento é que o excesso de liquidez (dinheiro) no mercado e uma volta do otimismo em relação ao crescimento leve os bancos a acelerarem a concessão generalizada de empréstimos ao consumo, trazendo pressões sobre os preços.
Daí a criação do fundo. Ele seria acionado para absorver parte das reservas dos bancos, impedindo que sejam repassadas integralmente ao consumo sob a forma de empréstimos.

Dívidas imobiliárias
Desde o último trimestre de 2008, quando a crise de crédito nos EUA atingiu o seu ápice, o Fed lançou uma série de programas específicos para ampliar a oferta de dinheiro na economia americana.
Os programas incluíram desde garantias oficiais para que empresas lançassem títulos no mercado de forma a se capitalizar até outros planos bilionários para facilitar o refinanciamento de dívidas imobiliárias.
Só no setor residencial, o Fed tem mais de US$ 1,2 trilhão comprometidos com a compra de papéis remunerados pelo pagamento de dívidas contraídas por mutuários.
Essas compras tiveram o objetivo inicial de "segurar" os preços desses papéis quando a crise explodiu em 2008 e abriu rombos enormes nos balanços de instituições financeiras.
Com os juros básicos próximos a zero, essa enxurrada de dinheiro, estimada em cerca de US$ 2,2 trilhões, irrigou várias partes da economia, contribuindo decisivamente para a retomada da atividade.


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