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ARTIGO
Envelhecimento populacional no mundo
AYRES DA CUNHA
²
Em 1991, a Organização das Nações Unidas lançou a Carta de
Princípios para as Pessoas Idosas.
preocupada com o crescimento rápido da população de terceira idade no mundo, a entidade alertava
no documento para a necessidade
de as sociedades se prepararem para o envelhecimento da população.
Antecipadamente, também determinava que 1999 fosse o Ano Internacional do Idoso. Passaram-se
quase oito anos desde então, e a
pergunta é a seguinte: alguém está
fazendo alguma coisa em relação
ao assunto?
O envelhecimento populacional
é uma questão mundial. Com a
queda nos índices de natalidade e o
aumento da expectativa de vida na
maioria dos países, o tema já está
se transformando em motivo de
alarme nas nações mais desenvolvidas. Especialistas prevêem para
breve o surgimento de estruturas
sociais distorcidas. Isso significa
sociedades com um grande número de idosos e uma quantidade insuficiente de jovens trabalhadores
para mantê-los.
No Brasil, o envelhecimento
também deve ser discutido e analisado com cautela. Em 2025, seremos o sexto país com a maior população idosa do mundo. Os efeitos dessa transformação social afetam dos programas de assistência
médica ao sistema de ensino, dos
planos de pensões aos orçamentos
públicos.
Dados do IBGE de 1992 revelam
que cerca de 13 milhões de brasileiros têm idade acima de 65 anos e
que a expectativa média de vida é
de 67,3 anos. Até o início do próximo século, as previsões indicam
que a população brasileira deverá
aumentar cerca de 56%. Enquanto
o grupo etário de 0 a 14 anos deverá
crescer 14%, estima-se em 107% o
aumento do grupo de indivíduos
com 60 anos ou mais. Isso significa
que, no ano 2000, teremos uma população idosa crescendo oito vezes
mais que a jovem e aproximadamente o dobro da população geral.
O mesmo fenômeno é sentido na
carne por países europeus, cidadãos norte-americanos, nações de
Terceiro Mundo. Os exemplos se
multiplicam. A Itália tornou-se recentemente o primeiro país em
que o número de pessoas com
mais de 60 anos é maior do que o
de pessoas com menos de 20. Em
pouco tempo, Alemanha, Grécia e
Espanha devem cruzar a mesma linha. No ano passado, o índice de
fertilidade (número de filhos de
uma mulher) do Japão foi de
1,39%, o menor de todos os tempos. Nos Estados Unidos, onde as
comunidades de imigrantes contribuem para manter o índice de
natalidade alto, os números ficam
um pouco abaixo da média de 2,1
crianças por mulher -o necessário para impedir apenas que a população comece a encolher.
Mesmo no mundo em desenvolvimento, onde a superpopulação
ainda é uma agravante das carências, o índice de crescimento demográfico desacelerou-se em quase todos os países. Desde 1965, segundo dados demográficos das
Nações Unidas, o índice de natalidade no Terceiro Mundo caiu pela
metade, de seis filhos por mulher
para três. Só na América Latina, ele
passou de 40 nascimentos por mil
habitantes, na década de 50, para
cerca de 30 nascimentos por mil
habitantes, na década de 80.
Mas, como já se disse, a questão
extrapola o campo da biologia e
dos mecanismos assistenciais: ela é
econômica, pois afeta também o
sistema previdenciário.
Em 1935, quando a seguridade
social norte-americana foi criada,
a expectativa de vida era de 62
anos. Em 1965, quando foi lançado
o Medicare, um seguro de saúde,
ela já havia aumentado para 70
anos. Hoje, a expectativa de vida
no país é de 76 anos.
Ressurge então a questão da aposentadoria, muitas vezes tomada
como sinônimo de condenação de
uma pessoa operosa à ociosidade.
Em 1997, a seguridade social norte-americana custou 4% do PIB,
montante que se eleva a 8% se incluídos os orçamentos do Medicare e do Medicaid. Mantidas as políticas atuais, essa proporção será de
13% do PIB em 2020, com crescimento de 63%, segundo estudos
do Congresso norte-americano.
Voltando ao Brasil, é possível
identificar, ao lado dos problemas
estruturais causados pelo envelhecimento populacional, um outro
fenômeno: a organização de pessoas mais velhas em grupos e escolas, com energia e disposição para
cuidar-se, divertir-se e continuar
produzindo.
A imagem da velhice no país, frequentemente associada a perdas,
doenças e filas no INSS, está dando
espaço, ainda que de forma tímida,
a iniciativas do governo e de entidades para a criação de clubes, associações, cursos e serviços para a
terceira idade. Os idosos hoje procuram exercer mais a sua cidadania. E estão crescendo em número.
Tudo isso nos faz chegar a algumas conclusões. A mais importante delas talvez seja mesmo a de que,
se começarmos agora a trabalhar
seriamente com a questão do envelhecimento populacional, temos
grandes chances de contribuir para que as gerações futuras possam
ter uma velhice mais saudável.
Lembrar que nós seremos os velhos de amanhã pode ser um incentivo para que trabalhemos com
mais afinco na questão. Além, é
claro, de tomar como mote o fato
de que 1999 será o Ano Internacional do Idoso.
²
Ayres da Cunha, 60, médico, é deputado federal (PFL-SP) e presidente da Blue Life AssistênciaMédica.
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