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OPINIÃO ECONÔMICA
Fator X acaba na conta de luz
GESNER OLIVEIRA
A consulta pública que a
Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) concluiu ontem
acerca do chamado Fator X encerra temas que podem parecer
esotéricos para o consumidor,
mas que, se não forem bem encaminhados, vão aumentar as contas de luz no final do mês.
Fator X daria um título de filme
de ficção científica. Mas no jargão
regulatório tem um significado
específico. Trata-se de redutor
aplicado à tarifa com o objetivo
de repassar os ganhos de produtividade ao consumidor final. Por
exemplo, a tarifa de uma distribuidora de energia pode ser reajustada por um índice geral de
preços (como o IGP-M), deduzindo-se um Fator X atribuível ao
aumento da produtividade.
Uma das vantagens desse mecanismo, que se tornou comum em
outros países, sobretudo a partir
da experiência inglesa, é estimular o esforço de inovação e redução de custos pelas empresas. Assegura-se a transferência de ganhos para o consumidor, ao mesmo tempo em que se estimula a
eficiência ao abrir a possibilidade
de maiores lucros para as empresas que lograrem reduções de custos superiores a um Fator X predeterminado.
A Aneel está consolidando a
metodologia para regulação das
tarifas de distribuição de energia
elétrica e, para isso, submeteu a
consulta pública proposta de cálculo do Fator X contido na nota
técnica nš 214/2003-SRE/Aneel,
disponível em www.aneel.gov.br.
O debate prévio de regras como
essa é saudável. Ficou claro em seminário realizado em Genebra
por organizações não-governamentais de dezenas de países em
desenvolvimento, no mesmo dia
em que o presidente Lula chegava
àquela cidade, que o Brasil está
relativamente avançado nesse tipo de experiência. E que a Aneel
tem realizado razoável número
de consultas públicas. As audiências públicas, por sua vez, aumentaram de 7, em 1998, para 49, em
2003 (a propósito, é lamentável
que o exemplo não seja seguido
pelo governo central na proposição do modelo do setor elétrico
que saiu sob a forma de medidas
provisórias, como a MP 144 abençoada pela Câmara nesta semana).
A consulta pública é útil porque
permite eliminar equívocos antes
que seja tarde demais. Pois há
muita coisa a ser alterada na proposta da Aneel para o Fator X. A
Aneel decompõe o Fator X em três
componentes: produtividade,
qualidade e reindexador. Cada
um deles apresenta pelo menos
um problema grave.
Em relação ao componente de
produtividade, o mais sério está
associado à metodologia de correção das tarifas, de forma que o
fluxo de caixa da empresa, ajustado para a escala do negócio, seja mantido constante no período
tarifário. Esse sistema discrepa da
metodologia prevista nos contratos de concessão segundo a qual
as tarifas seriam reguladas por
um preço-teto corrigido pelo IGP-M e um redutor -o Fator X. Tal
mudança somente deveria ser feita por meio de um aditivo ao contrato de concessão de cada distribuidora, desde que de comum
acordo entre as partes.
Em relação ao componente de
qualidade, a inovação de introduzir critérios associados à satisfação do consumidor é bem-vinda. Porém há um erro básico no
desenho da pesquisa para a elaboração do índice de satisfação
do consumidor. Este último é recompensado quando avalia negativamente a concessionária.
Isso cria uma distorção insuperável na pesquisa do índice de satisfação do consumidor que serve
de base para o cálculo. Seria
aconselhável que indicadores
com essa finalidade dependessem
de critérios objetivos, como a duração e a freqüência de interrupções no fornecimento de energia,
para citar apenas um dos vários
aspectos que legitimamente preocupam o consumidor de energia
elétrica.
Por último, mas não o menos
importante, o componente reindexador fere aquilo que foi estabelecido nos contratos de concessão ao alterar a regra de que o indexador seria o IGP-M.
Se a proposição da Aneel for
adiante como está, haverá instabilidade de tarifas, insegurança e
menos investimento. O custo do
capital ficará maior, elevando o
preço da energia no médio prazo.
O Fator X ficará ainda mais misterioso, mas uma coisa é certa: a
conta final será entregue para o
consumidor.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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