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VINICIUS TORRES FREIRE
Quando o bom é medíocre
Dívida pública cai pouco em ano de avanço excepcional do PIB, de receita de impostos ainda maior e de juro cadente
O BALANÇO DAS contas do setor
público parece bom. A dívida
pública caiu. Do total arrecadado, o governo federal gastou proporcionalmente menos em 2007 do
que em 2006, se descontadas as despesas com juros. Aliás, gastou-se
menos até com juros. Trata-se aqui
de receitas e despesas consideradas
como proporção do PIB. No balanço
final de governo federal, Estados,
municípios e estatais, incluídos gastos com juros, o setor público ficou
no vermelho, teve déficit nominal,
de 2,3% do PIB. Menor que o de
2006, 3%. No conjunto, o melhor resultado em quase duas décadas.
O balanço parece bom, mas quando se olha apenas para esta última linha das contas públicas. Como o
PIB cresceu uns 5,2%, dívida e despesas com juros como proporção do
PIB tendem a ser menores, óbvio.
Como a arrecadação dos governos
cresceu mais que o dobro do ritmo
do PIB, foi possível gastar mais (e a
despesa com salários cresceu mais
que a de investimentos) e ainda aumentar a poupança do governo.
Em suma, para dizer o óbvio, a dívida pública caiu pouco para um ano
excepcional no último quarto de século, ano em que o PIB cresceu o dobro da média desse período, ano da
taxa de juros mais baixa desde pelo
menos o Real etc. Dívida grande é
obviamente ruim, ademais no Brasil
do juro alto, pois a morta despesa financeira caiu pouco e continua
enorme. Era de 6,86% do PIB em
2006. Foi a 6,25% em 2007, o que
ainda equivale a R$ 160 bilhões, a receita de mais de quatro CPMFs.
Para 2008, mesmo a julgar pelo
cenário básico do governo, a coisa
será bem mais apertada. A dívida
ainda cairia dos atuais 42,8% do PIB
para 41,5%. Leva-se em conta que o
PIB cresça 4,5%, a taxa de juros fique mais ou menos estável, com a
despesa com juros caindo a 5% do
PIB, e que fique na mesma o superávit primário (aquilo que o governo
não gasta do que arrecada, descontadas despesas com juros). Nessa
conta, o governo considera ainda
que o real fique quase estável em relação ao dólar. Atualmente, a valorização do real faz com que a dívida
aumente (o impacto disso foi de 1,1%
do PIB no ano passado). Uma desvalorização do real, pois, pode ajudar a
fechar a conta da redução da dívida.
Na pontinha do lápis, há mais variáveis a considerar, como o custo de
alongamento dos títulos da dívida
pública, por exemplo. Mais relevantes são mesmo o crescimento do PIB
e o superávit primário. Olhando o
cenário do governo para 2008, fica a
impressão de que alguém, dentro do
governo mesmo, está a dizer para
Lula: "Hello, se o superávit ficar
abaixo de 3,8% do PIB, como gente
no governo propunha, em 2007, será preciso sorte e torcida". Torcer
para o país sair intacto deste 2008
cheio de riscos. Torcer para uma microdesvalorização do real. Torcer
para que os juros da dívida pública
não subam. Torcer para o PIB marcar 4,5%. E diga-se que um superávit
de 3,8% dá de barato que a receita vá
crescer tanto quanto em 2007.
Não é um desastre, num cenário
piorado, a dívida ficar estável em
2008. Mas, como diz o clichê, porém
correto, não aproveitamos para consertar o telhado furado enquanto faz
sol: poupar para dias difíceis. Isso
para não dizer que a dívida enorme
tolhe investimento e gasto social. E
contribui para deixar os juros na lua.
vinit@uol.com.br
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