São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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Vale tenta convencer Lula a dar aval para a compra da Xstrata

Em conversa com o presidente, Roger Agnelli afirma que comando continuaria nas mãos de brasileiros e que operação fortaleceria empresa contra rivais

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em conversa ontem por telefone, o presidente da Vale, Roger Agnelli, passou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva dados a respeito da negociações da empresa brasileira para comprar a mineradora anglo-suíça Xstrata.
Segundo a Folha apurou, Lula ficou de analisar os dados com seus auxiliares e dar uma resposta a Agnelli, que deseja aval político do governo para realizar a compra. Agnelli argumentou que o controle acionário da Vale continuaria em mãos de brasileiros e que a compra é uma forma de a Vale se fortalecer na competição global com outros gigantes.
Agnelli tentar vencer resistências de Lula e de ministros como Dilma Rousseff (Casa Civil) ao negócio. No Palácio do Planalto, há temor de que a operação Vale-Xstrata seja o primeiro passo de uma etapa para que o controle da maior empresa privada brasileira venha no futuro a ficar em poder de estrangeiros. A empresa foi privatizada em 1997 e, desde então, só fez crescer.
Para viabilizar a compra, Agnelli precisa do aval político de Lula porque o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e fundos de pensão têm participação na companhia. Mais: Lula tem se queixado publicamente de que a Vale investe pouco no país. Ele teme que a compra da Xstrata enfraqueça investimentos da Vale no Brasil.
Desde o início das negociações, um auxiliar do presidente disse que ele pode ser convencido de que o negócio traria benefícios ao país. Na semana passada, Lula jantou com Agnelli no Rio. Como foi um encontro informal, combinaram de voltar ao assunto, o que fizeram ontem por telefone.
A Vale já confirmou publicamente interesse na compra da Xstrata e o início de tratativas nesse sentido. O valor do negócio seria de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais a serem quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado, estima-se o valor da companhia brasileira em US$ 120 bilhões.
Segundo integrantes do governo, o Palácio do Planalto poderia tentar inviabilizar a compra da Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). BNDESPar e Previ têm participação na Vale e representantes no Conselho de Administração.
Ainda que a Vale consiga realizar o negócio contrariando o governo, essa hipótese não é de interesse de Agnelli, um dos grandes executivos brasileiros que têm excelente trânsito na cúpula do governo petista. O aval de Lula fortaleceria as negociações que a Vale tem de fazer com bancos estrangeiros para viabilizar a compra.
A Vale é controlada por Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Bradesco, BNDES e pela japonesa Mitsui. Analistas afirmam que o negócio pode ser bom para a Vale, em razão da diversificação de ativos. A Xstrata opera com cobre, carvão, níquel e zinco, por exemplo. A empresa atua em países como Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, República Dominicana, Nova Caledônia, Peru, Filipinas, África do Sul, Tanzânia e EUA. De acordo com dados da Xstrata, a companhia emprega 50 mil pessoas no mundo.


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