São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO TENSO
Espera-se agravamento da recessão, consequência do juro alto e de medidas monetárias e fiscais em preparo
Estratégia será seguir receita do FMI

Sérgio Lima / Folha Imagem
Pedro Malan, para quem o país voltaria a crescer ainda neste mandato


MARTA SALOMON
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília


O governo vai apostar todas as fichas na receita do FMI (Fundo Monetário Internacional) para tentar sair da crise. Pode-se esperar para os próximos meses o agravamento da recessão, consequência dos juros elevados e de novas medidas monetárias e fiscais, que estão sendo preparadas.
No melhor dos cenários traçados pela equipe econômica, o Brasil ainda vai demorar cerca de três meses para controlar os efeitos da desvalorização do real e da adoção do câmbio flutuante.
Segundo as previsões mais otimistas, o país terá inflação próxima de 8% neste ano e queda no crescimento da economia pelo menos duas vezes maior do que a estimada no acordo fechado em novembro com o FMI.
O PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país) deverá cair 2%, no mínimo. De carona, virão o aumento do desemprego e a provável queda no poder de compra da população.
Para o prognóstico otimista se concretizar, a cotação do dólar precisa recuar em breve do nível de R$ 2. Quanto maior a desvalorização da moeda, mais alta a taxa de inflação, apontada como o maior dos males possíveis.
Esse cenário só sairá do papel à custa de vários pontos percentuais da popularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso. Valeria a pena, argumentou o ministro Pedro Malan (Fazenda) em conversa com políticos, porque o país atravessaria um momento muito difícil e voltaria a crescer antes do final do segundo mandato.
A alternativa apontada pela equipe econômica a essa receita dura é um longo período de dificuldades, que começaria por secar a fonte dos empréstimos externos. Pressupõe-se que a receita dê certo. Para os técnicos do FMI, um ingrediente parecia fugir ao controle: a reação de incredulidade do mercado financeiro.
"Temos de falar muito, mostrar o que foi feito e, se necessário, fazer mais", insistia na noite de sexta-feira o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente. "A direção econômica está dada, não temos nada muito diferente para fazer: não há mágica."
Boa parte da agenda do governo durante a semana foi consumida por seguidos e veementes desmentidos à possibilidade de mudança da política econômica e, principalmente, de calote das dívidas interna e externa.
Uma das dificuldades do governo para brecar a especulação é convencer os investidores de que tem condições de honrar suas dívidas, apesar da recorrente alta dos juros recomendada pelo FMI e adotada pelo Banco Central.
O principal indicador da capacidade do governo de resgatar os títulos da dívida pública é a chamada relação dívida líquida/PIB, uma das metas que sustentam o acordo com o Fundo, e o repasse das próximas parcelas do empréstimo de US$ 41,5 bilhões ao país.
A meta já não é a mesma anunciada no final de outubro, no conjunto do Programa de Estabilidade Fiscal. Na época, o governo se comprometia em manter essa relação em 44,9% neste ano, com uma ligeira queda até 2001.
Negociadores brasileiros alegam que já haviam acertado com o FMI a revisão dessa meta, em novembro.
Em 99, a dívida da União, dos Estados, dos municípios e das estatais deveria atingir 46,7%, crescendo até 46,8% em 2000, caindo no ano seguinte para 46,5%.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.