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Jantar brasileiro vira show de Cavallo
do enviado especial
O que deveria ser um jantar de
"Atualização sobre o Brasil", seu
título oficial, transformou-se em
um show do ex-ministro argentino
da Economia, Domingo Cavallo, e
de sua insistência em vender ao governo brasileiro o modelo de "currency board", adotado na Argentina. Cerca de 80 pessoas pagaram
75 francos suíços (aproximadamente US$ 55) para ouvir, na noite
de sexta-feira, o ministro da Fazenda do Brasil, Pedro Malan, falar
da crise, como parte das atividades
do 29º encontro anual do Fórum
Econômico Mundial.
Malan cancelou a vinda, e o
chanceler Luiz Felipe Lampreia
viu-se obrigado a substitui-lo,
constrangimento que não escondeu em sua fala: "Vocês imaginam
minha situação ao estar aqui em
lugar do ministro Pedro Malan",
disse Lampreia.
O chanceler fez a única coisa possível nas circunstâncias: tentar
vender confiança no país, sem esconder que o Brasil vive "um momento de grande preocupação" e
que não podia dizer-se plenamente confiante em que as nuvens de
tormenta "passarão depressa".
Dois empresários brasileiros
(Roberto Teixeira da Costa, do
Banco América do Sul, e Alain Belda, presidente da Alcoa norte-americana) falaram em seguida.
Não conseguiam disfarçar que o
estado de ânimo estava tão desvalorizada quanto a moeda brasileira
(quando o jantar começou, o dólar
já valia mais de R$ 2).
Aberta a sessão para perguntas, o
empresário Carlos Gomes de Almeida, presidente da Gafisa Participações, preferiu pedir que Cavallo explicasse melhor sua proposta
de "currency board", modelo pelo
qual um país ata sua moeda ao dólar, irreversivelmente.
Cavallo não se acanhou em dar o
que parecia uma "aula magna" sobre os supostos efeitos mágicos do
modelo. Depois que outro empresário perguntou porquê a Argentina estava pensando na dolarização, se a "currency board" era tão
espetacular, Cavallo engatou uma
segunda aula.
Alguns empresários brasileiros
festejaram o espetáculo, enquanto
outros criticavam a falta de tato do
ex-ministro argentino, que o ministro Lampreia considerou "arrogante", em conversa posterior com
seus assessores. Uma figura neutra, o espanhol Manfred Nolte, gerente-geral do banco Bilbao Vizcaya, criticava Cavallo durante sua
fala, primeiro porque acha que o
Brasil não tem reservas suficientes
para adotar o sistema.
Depois, porque o desemprego na
Argentina pulou para níveis recordes durante a vigência do modelo
Cavallo (chegou a 18% da força de
trabalho).
Provocado por pergunta da Folha, após as duas aulas, Lampreia
deu respostas curtas e duras:
1 - "Não vou discutir pontos acadêmicos".
2 - "Não estou em posição de
participar de especulações".
Pontes
Lampreia está mais preocupado
em estender pontes com o governo
argentino, assustado com a crise
brasileira, em especial pela crescente desvalorização do real.
É preciso gastar mais para importar da Argentina a mesma
quantidade de bens e, além disso,
ficou mais barato para o país vizinho importar produtos brasileiros.
Lampreia conversou com o
chanceler Guido di Tella, mas estendeu as conversas também para
as futuras perspectivas políticas da
Argentina: ouviu igualmente Fernando de la Rúa, candidato presidencial da oposição, e a deputada
Graziela Fernández Meijide, outra
liderança oposicionista.
A Argentina faz eleição presidencial em outubro, e a oposição lidera nas pesquisas.
(CR)
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